Municípios estão decretando situação de emergência para agilizar ações diante da falta de água no interior.

O produtor Sergio Mafioletti toca a propriedade leiteira junto com o irmão e a família há 14 anos e nunca tinha visto seca tão prolongada como esta. Água para o consumo e os animais não falta — ele tem um poço profundo e que continua dando conta do abastecimento —, mas na lavoura o principal insumo para alimentar a criação não está vingando. “O milho tá muito desparelho, nem sei como vamos fazer pra passar o inverno com pouca silagem. Em janeiro só choveu e o milho passou do ponto, agora o problema foi a falta de chuva”, descreve.
Para amenizar os custos e aproveitar a valorização da carne, ele se desfez de quatro das 32 vacas da propriedade. Essa redução nos rebanhos é uma tendência na região, dada a previsão de pouca comida para os animais no período mais frio do ano: os produtores vão vendendo as vacas menos produtivas para garantir a alimentação das que estão em boa forma.
O resultado é a queda de cerca de 20% na produção de leite na microrregião de Francisco Beltrão durante os meses de fevereiro, março e abril. O dado é do Deral da Seab. Os técnicos que estudam as diferentes atividades agropecuárias da região apontam para um cenário preocupante. O milho destinado à silagem vai render só metade do previsto; o milho comercializado em grão deve ter uma quebra de 42% e o feijão terá uma redução de 65% na produção estimada para a região.
“O feijão teve uma quebra devido à baixa produtividade e em algumas áreas nem foi colhido”, relata Ricardo Kaspreski, do escritório regional da Seab. Esses números nem consideram os efeitos da geada desta semana, que pode afetar o milho — 70% da produção regional está em uma fase mais sensível ao frio e pode ser prejudicada.
Região mais alta é a mais atingida
Em algumas regiões mais vulneráveis do interior de Beltrão, o movimento de caminhões pipa é constante para abastecer propriedades que possuem animais. É o caso de Linha São Braz, Km 23, Km 26, Linha Barra do Cerne, Linha Água Vermelha, Ponte Nova do Cotegipe e Rio Ligação, na região de divisa com Nova Esperança do Sudoeste e Ampere. No Km 30, o poço artesiano que abastece a comunidade secou e a distribuição de água é garantida porque a comunidade conta com uma caixa-d’água.
Por lá, a vazão dos rios é tão baixa que os caminhões não conseguem mais captar água e precisam vir até um lago da cidade fazer o reabastecimento, segundo o secretário de Viação e Obras, Cláudio Borges. A Defesa Civil municipal já reuniu dados e informações sobre os efeitos da estiagem e apresentou ao prefeito Cleber Fontana, que avalia decretar situação de emergência. Ao menos cinco municípios da microrregião (Eneas Marques, Boa Esperança do Iguaçu, Pranchita, Manfrinópolis e Nova Prata do Iguaçu) já oficializaram o processo e outros estudam fazer o mesmo.
Decreto desburocratiza ações
O diretor da Amsop, José Kresteniuk, diz que a entidade tem trabalhando em conjunto com municípios e órgãos de defesa para que as prefeituras avaliem declarar situação de emergência. “Na prática, quando o município faz esse tipo de decreto, com as informações justificando sua necessidade, é possível agilizar a contratação de serviços, como o caminhão pipa, comprar itens como caixa-d’água e até ajudar a postergar financiamentos de produtores afetados com a estiagem”, esclarece.
