Prejuízo foi superior a R$ 730 milhões no Sudoeste.

Alimentação do gado mais cara e produtividade menor. Essas são as principais consequências da drástica redução na produção de silagem, causada pela quebra na safrinha de milho. Quem trabalha na área afirma que as perdas nas lavouras ficaram entre 40 e 50% e em muitas áreas o milho passou do ponto, prejudicando a qualidade do volumoso.
“O rendimento por área foi muito baixo. Onde a gente geralmente colhia 90 toneladas de silagem por alqueire a produção caiu pela metade e teve lavouras em que as plantas nem se formaram direito, porque não choveu”, comenta Cleonir Guadain, que mantém uma empresa familiar de produção de silagem. A Silagem Guadain atende cerca de 40 produtores por ano em diversos municípios do Sudoeste e Oeste e estão contentes que a demanda pelo serviço tem crescido, mas neste ano as boas expectativas esbarraram na baixa produtividade.
Alguns fatores combinados acabaram acentuando as perdas. Desde a cigarrinha do milho – que causa o enfezamento das plantas – até as condições do tempo. Choveu muito pouco na região e, pra completar, as geadas foram as mais severas dos últimos anos.
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O empresário Sandro Márcio Zatta também presta serviço de produção de silagem na região e conta que a redução no rendimento foi de 40%. Isso acabou tornando os custos maiores em um volumoso com pior qualidade. “Devido aos altos custos, o que buscamos foi silagem alternativa. Temos diferentes plataformas, para trabalhar com milho, sorgo, aveia e trigo e mais recentemente a plataforma de espiga snaplage”, diz o sócio proprietário da San Marcel, que também atende propriedades de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais.
Os dados oficiais da Secretaria de Estado da Agricultura confirmam a percepepção de quem lida com o dia a dia da lavoura. O Deral (Departamento de Economia Rural) estimava uma produção de quase 1,4 milhão de toneladas de silagem na safrinha na microrregião de Francisco Beltrão, mas a colheita rendeu pouco mais de 700 mil toneladas. A perda média nos 27 municípios da região foi de 46%. Prejuízo de R$ 409,9 milhões. A situação foi ainda pior na microrregião de Pato Branco, onde a área plantada foi menor, mas a quebra chegou a 60% e causou R$ 328 milhões de perdas.
Para enfrentar período de “vacas magras”, produtores estão reduzindo rebanhos
Os efeitos da queda na produção foram sentidos antes mesmo da colheita. Há alguns meses, a Seab e IDR já haviam emitido um alerta aos produtores de gado bovino indicando que a estiagem perduraria até o segundo semestre e afetaria a produção de silagens. Uma série de medidas deveriam ser adotadas, recomendava a publicação.
O engenheiro agrônomo Vilmar Bottin, que trabalha com nutrição de gado de corte, diz que muitos confinamentos da região reduziram significativamente o número de animais diante da falta de alimentação.
“O confinamento tem margens muito apertadas e qualquer custo a mais impacta de forma decisiva”, comenta. Segundo Bottin, se o produtor tiver que comprar milho vai empatar os custos com o faturamento, mesmo com a carne valorizada.
A redução de plantel também foi a alternativa que muitos produtores de leite encontraram para lidar com esta fase de silagem escassa e de má qualidade, o que tende a impactar ainda mais a produtividade. O consultor Leandro Mello, proprietário da Lumati Saúde Animal, diz que os agricultores estão procurando mais produtos para melhorar, por exemplo, a digestibilidade e ter melhor conversão alimentar, como probiótico. “A baixa produção de silagem, com pouco milho e muita palha é catastrófica para a produtividade se não houver nenhuma complementação”, argumenta. Ele também cita que os produtores também estão buscando o capiaçu, mais resistente à seca, para compor o volumoso.
