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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

62% das cidades não possuem rede de esgoto

 

A Estação de Tratamento de Esgoto
(ETE), de Beltrão, no perímetro urbano.

 

Apenas 16 das 42 cidades do Sudoeste do Paraná possuem rede de coleta e estação de tratamento de esgoto sanitário, conforme dados da Companhia Paranaense de Saneamento (Sanepar). Destes, apenas 12 têm mais de 50% da população atendida (veja o quadro). Ao todo, a estatal possui 63.700 ligações residenciais de esgoto no Sudoeste. Nos outros 26 municípios, apenas Manfrinópolis está com projetos bastante adiantados e deve ver as obras iniciarem em breve, enquanto os demais ainda estão em fase de projetos ou aguardam a solução para entraves. 

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A Sanepar reforça que tem investido significativos recursos na região, e ainda pretende destinar mais verbas para ampliação da rede nos próximos anos. Mesmo assim, profissionais, gestores públicos e a população acreditam que a disponibilidade do serviço na região ainda é precária e precisa avançar muito para atingir um patamar razoável. 

Diante desta realidade, mais uma vez, a Carta do Sudoeste – documento que sintetiza as principais reivindicações da região – traz o pedido para que os governos federal/estadual e a Sanepar invistam na ampliação do saneamento básico. “Acreditamos que a rede de esgoto é precária e o objetivo é que todos os municípios tenham o serviço disponível. O ideal seria garantir a cobertura de 60 a 80% em cada cidade. Houve alguns avanços tímidos, mas ainda está longe do ideal, e isso é fundamental para melhorar a qualidade de vida da população”, aponta José Kresteniuk, secretário executivo da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop). 

Mais rede de esgoto, menos problemas de saúde
Coleta rápida e segura do esgoto residencial, tratamento adequado dos resíduos líquidos, redução do gasto com doenças facilmente preveníveis, como a diarreia e verminoses, além de mais conforto e saúde para a população e a própria valorização dos imóveis onde há sistema de esgoto são alguns dos benefícios do esgotamento sanitário adequado. “Muitos problemas de saúde são ocasionados pela baixa qualidade da água, falta de tratamento adequado e ausência de rede de esgoto. Quanto maior a abrangência da rede, maior a diminuição nos problemas de saúde pública”, pontua o chefe da Vigilância em Saúde da 8ª Regional, de Francisco Beltrão, Benvenuto Juliano Gazzi.

Em Beltrão, por exemplo, até problemas com a proliferação do mosquito Aedes aegypti foram enfrentados devido à ausência de rede de esgoto em determinados bairros, onde os moradores ainda utilizam as fossas sépticas. “Encontramos focos de larvas do mosquito que estavam se desenvolvendo em fossas sépticas. Para o setor de Saúde, a eliminação das fossas é um fator extremamente necessário. Com o uso delas, é muito fácil contaminar os rios e os lençóis freáticos, e as pessoas acabam adoecendo, animais também, muitas vezes sem perceber ou saber as causas. Redes de esgoto contribuem para eliminar esse problema e também controlar as pragas como baratas, mosquitos e outros insetos”, acrescenta Juliano.

O meio ambiente agradece
Para o engenheiro ambiental Maicon Galvan, docente da Faculdade Unisep de Dois Vizinhos, a importância da presença de redes de esgoto é evidente. “O esgoto destinado e tratado de maneira correta evita proliferação de vetores, contaminação das águas subterrâneas e, claro, evita doenças como cólera, diarreia, entre outras. Os principais benefícios começam pela correta destinação e zelo ambiental, pois o índice de contaminantes no solo é altíssimo quando provem de banheiros, lavatórios e lavanderias”, alerta.

Na avaliação de Maicon, a utilização de fossas sépticas e sumidouros não oferecem nenhuma proteção de solo, e, além dos danos ao meio ambiente e à saúde, causam problemas como mau cheiro. “Quanto à ocorrência de enxurradas e alagamentos, esse esgoto entope a tubulação e acaba retornando para dentro da própria residência, e quem mais sofre com isso são os próprios moradores, em especial as crianças”, comenta.

O engenheiro ambiental acredita que a região ainda é privilegiada pelo desempenho da Sanepar, e critica o grau de conscientização da população, que costuma não ter cuidado com o que é despejado na rede, como roupas íntimas e lixos diversos. “O que poderia ser melhorado é a organização da gestão municipal, que falha na fiscalização de moradias irregulares em áreas de risco onde não há possibilidade alguma de coleta. Não se pode deixar os municípios crescerem de forma desorganizada, dificultando e encarecendo a implantação de um sistema de coleta. Existem muitos descasos com a questão ambiental dentro dos municípios”, reclama.

Boa parte da população não tem acesso
Uma reportagem da Revista Superinteressante, publicada em julho de 2013, fez uma análise de como seria o mundo se não existisse esgoto. “O mundo cheiraria a Londres do século 19, já que a principal cidade do planeta na época não tinha rede de coleta de esgoto. Os londrinos jogavam seus dejetos nas valas das ruas que serviam para escoar água da chuva. As pessoas seriam criatura sujas e pestilentas e a expectativa de vida seria bem menor”, afirma o texto. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social. A OMS menciona o saneamento básico precário como uma grave ameaça à saúde humana. Doenças relacionadas a sistemas de água e esgoto inadequados e as deficiências com a higiene causam a morte de milhões de pessoas todos os anos.

De acordo com o relatório da OMS e Unicef, publicado em 2010, menos de dois terços da população mundial tem acesso a instalações sanitárias adequadas, ou seja, mais de 2,6 bilhões de pessoas no mundo não utilizam um sistema de fossa séptica ou têm acesso a uma latrina ou saneamento conectado a uma rede pública de esgoto com tratamento. 

No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), publicada em setembro de 2013, aproximadamente 43% das residências não têm rede de esgoto. Conforme a pesquisa, o número de domicílios que possuem o serviço de rede coletora de esgoto atingiu 57,1% do total. 

Já no Paraná, de acordo com a Sanepar, a cobertura é um pouco maior: 63,2%. Contudo, a empresa pretende fechar 2014 com mais de 72% de abrangência do serviço no Estado. Atualmente, mais de seis milhões de paranaenses contam com rede de esgoto, totalizando 1,4 milhão de ligações e mais de 25 mil quilômetros de redes de distribuição. O Paraná tem cerca de 11 milhões de habitantes, grande parte deles morando nas cidades.  

Mais de R$ 70 milhões em quatro anos
JdeB – A Sanepar tem realizado constantes investimentos no setor. Somente em 2013, foram mais de R$ 18 milhões destinados aos municípios de Ampere (R$ 2,3 milhões), Capanema (R$ 1,2 milhão), Chopinzinho (R$ 902 mil), Clevelândia (R$ 991 mil), Coronel Vivida (R$ 563 mil), Dois Vizinhos (R$ 1,1 milhão), Francisco Beltrão (R$ 2,8 milhões) Mangueirinha (R$ 240 mil), Marmeleiro (R$ 466 mil), Palmas (R$ 1,3 milhão), Pato Branco (R$ 4,5 milhões), Pranchita (R$ 344 mil), Realeza (R$ 551 mil), Renascença (R$ 178 mil), Santo Antonio do Sudoeste (R$ 187 mil) e São João (R$ 648 mil).

 

Até 2016, a Sanepar promete investir mais R$ 53,5 milhões em 11 municípios da região: Ampere (R$ 3,6 milhões), Capanema (R$ 3,4 milhões), Chopinzinho (R$ 6,6 milhões), Coronel Vivida (R$ 8,8 milhões), Dois Vizinhos (R$ 341 mil), Francisco Beltrão (R$ 22,2 milhões), Mangueirinha (R$ 201 mil), Marmeleiro (R$ 5,5 milhões), Pato Branco (R$ 385 mil), Pranchita (R$ 2,1 milhões) e Renascença (R$ 90 mil). 
 

Marmeleiro é um dos municípios que vem aguardando o início das obras de ampliação da rede e a construção da nova estação de tratamento. Atualmente, o município tem 38,33% da população atendida com o serviço de esgotamento sanitário, mas o prefeito Luiz Bandeira (PP) assinou há dois anos o contrato com a Sanepar para ampliação da rede em 20%. Só têm acesso ao serviço os moradores do centro e parte dos bairros Passarela e Ipiranga. 
 

Porém, com a necessidade de mudar a estação de tratamento de local, surgiram entraves. “Não houve acerto, até agora, entre a empresa e o proprietário do terreno onde deverá ser construída a nova estação. Recentemente, assinei um decreto para desapropriação, e agora aguardamos a decisão da justiça. 
 

Para nós, esses investimentos são de extrema importância, e certamente fizeram bem em incluir o assunto na Carta do Sudoeste, não tem nem o que discutir. É uma questão de meio ambiente e saúde pública. A comunidade está cobrando isso, e aguardamos com expectativa pelo início das obras”, frisa o prefeito.

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