Beltrão

Josefina Renosto Pasa está com 94 anos. Ela é natural de Antônio Prado (RS), e mora em Francisco Beltrão, no Bairro da Cango, desde 1986. Josefina é uma pessoa muito simpática e divertida, sempre disposta e contando muitas histórias que aconteceram em sua vida. Tudo com muita lúcidez.
No dia 10 de maio de 1944, casou-se com Francisco Pasa e tiveram 10 filhos. José (im memoriam), Maria de Lourdes (falecida), Darci, Valcir (falecido), Idacir, Zelíria, Zenilda, Adelar, Vlademir e Moacir.
Uma de suas histórias aconteceu em 1965, quando moravam em Quilombo (SC). Ela, o esposo Francisco, o filho Darci e o dono da trilhadeira estavam trilhando feijão preto. Já tinham terminado a trilhansa, quando Josefina juntou vários pés de feijão que haviam caído e colocou na trilhadeira.
Na hora de jogar os pés de feijão, ela se descuidou e um dos dentes da máquina puxou sua mão esquerda pra dentro. O impacto foi tão grande que chegou a desligar a trilhadeira. Caiu a correia. Então, ela puxou seu braço de volta e sua mão estava toda moída. Só sobrou o dedinho mingo.
Por incrível que pareça, Josefina diz que não sentia dor e saiu bem pouco sangue. O próprio esmagamento estancou o sangue.
O hospital ficava a oito quilometros. Lá chegando, uma enfermeira e o médico conversavam se tentavam salvar a mão ou iriam amputar. Se fosse tentar reconstituir sua mão ela teria que ser levada pra São Paulo.
Josefina diz que sua maior preocupação era como ela iria conseguir trabalhar, pois na época as coisas eram bem difíceis e eles já tinham nove filhos, sendo o mais novo com seis meses. Então, na mesma noite foi feita a cirurgia e amputada a mão.
Ela ficou cinco dias internada e, depois, por várias semanas, fazia curativos. Só voltou a trabalhar depois de 60 dias.
Carpir, quebrar milho e tirar leite
O primeiro serviço que fez, após o acidente, foi carpir. Ela prendia o cabo da enxada embaixo do braço esquerdo e com a mão direita, puchava a enxada. Nos primeiros dias foi difícil mas logo se adaptou. Depois começou a quebrar milho e, da mesma forma, encaixava o pé de milho em baixo do braço esquerdo e, com a mão direita, quebrava a espiga.
Também descascava milho com bastante facilidade. Ela enchia os cestos de milho, erguia e jogava dentro da carroça, puchada por dois cavalos. Também arrancava feijão e soja, picava lenha de machado, fazia pão no forno, Josefina diz que preferia fazer os serviços na roça do que os de dentro de casa pois sempre foi muito rápida pra trabalhar.
Após o acidente teve mais um filho, o Moacir. O que Josefina não pode mais fazer foi roçar as capoeiras, cortar trigo e pasto, com as foicinhas de serra. Também ficou difícil pra trocar as criancas. Na hora de colocar as camisas tinha de erguer os bracinhos e era muito difícil mas, sempre dava um jeito.
Também tinha bastante cuidado na hora que ia virar a polenta, do caldeirão, para não se queimar. Pra tirar o leite, era só das vacas bem mansinhas, pois tinha que prender o balde no meio das pernas para segurar e, com a mão direita, fazer a ordenha. Ela ficava muito próximo das patas da vaca. Se ela desse um coice ou se mexesse, podia esmagar seus pés. Josefina diz que a vida foi dificil mas, o que passou passou, ficou para trás.
Fazem 14 anos que ficou viúva e mora, agora, com o filho Vlademir e, na parte de baixo da casa, também mora o filho mais novo, Moacir, com a sua esposa Solange e o filho Ricardo. “Todos nós se ajudamos e somos muito unidos e felizes”, diz Josefina.
Ela fala quase tudo em italiano. E, mesmo com seus 94 anos, ela ainda costura e só usa o óculos na hora de pôr a linha na agulha. Ela cuida a sua plantação de feijão, lava roupas, cuida das flores e ainda faz pão, doces e macarrão. Na próxima edição, de sábado, que vem, vamos contar mais uma história da vida da dona Josefina.