
JdeB – A possibilidade da volta do horário de verão tem dividido opiniões no Brasil. A medida, que passou a ser adotada de forma regular entre 1985 e 2019, adianta os relógios em uma hora durante os meses da primavera e verão. A ideia é ter maior aproveitamento da luz do dia e consequente redução no gasto com energia. Mas a medida não é um consenso, já que altera o relógio biológico das pessoas e nem sempre a adaptação é fácil.
Comerciantes do setor de turismo, bares e gastronomia tendem a se beneficiar dos dias mais longos, mas para outros setores a medida é ineficaz. “Para a maioria dos lojistas de Francisco Beltrão não vai ter qualquer alteração no horário dos turnos de trabalho, pelo contrário, há até dificuldades para que os funcionários se ajustem ao novo horário”, aponta o presidente da CDL, Davi Nesi, que indica a contrariedade da volta para a maioria dos comerciantes consultados ontem a tarde pela entidade.
Pesquisa realizada pela plataforma Reclame Aqui em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) revelou que 55% dos entrevistados é favorável ao retorno do horário de verão. E 28% são contra o adiantamento dos relógios.
Impactos no sistema
O empresário Edson Flessak, especializado na fabricação de geradores elétricos para pequenas centrais hidrelétricas, explica que o aumento da geração de energia por meio de usinas solares tem sobrecarregado o sistema nos fins de tarde e início da noite, sendo necessário acionar as termoelétricas – bem mais caras.
“A expansão da fonte solar, afetou a geração pois injeta no sistema mais do que uma Itaipu, mas apenas durante o dia, e no final da tarde, quando o sistema tem que atender a demanda do horosazonal, provoca uma sobrecarrega nas hidrelétricas e é preciso ligar as termoelétricas. Como nos últimos tempos, foi incentivado apenas as fontes intermitentes e dificultado as fontes permanentes, por políticas públicas definidas por políticos e não por técnicos, ficamos a mercê dessas incoerências”, detalha.
O período de estiagem no País tem agravado a situação e a alternativa vem sendo recorrer a formas mais caras de geração. A adoção do horário de verão traria uma “folga” ao sistema no horário de pico. “Independentemente do impacto que a alteração de horário possa causar, qualquer medida pra evitar apagão deve ser tomada. Enquanto não pensar o sistema a longo prazo, teremos que tomar medidas amargas de apagar fogo”, complementa Flessak.
Decisão deve ficar pra depois da eleição
O retorno do horário de verão ainda é uma hipótese e o governo federal deve definir sobre a mudança somente após as eleições, previstas para 6 de outubro. O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, afirmou que a volta do horário brasileiro de verão é uma possibilidade real. “O horário de verão é uma possibilidade real, mas não é um fato porque tem implicações, não só energética, tem implicações econômicas. É importante para diminuir o despacho de térmicas nos horários de ponta, mas é uma das medidas, porque ela impacta muito a vida das pessoas”, diz. O ministro considera que a economia gerada pelo horário de verão é importante para reduzir o despacho de usinas térmicas nos horários de pico de consumo, entre 18 horas e 21 horas, geralmente.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) recomendou ao governo a volta da medida, que pode ajudar a economizar R$ 400 milhões entre outubro e fevereiro. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que elaborou o estudo apresentado ao CMSE, o horário de verão pode reduzir a demanda máxima por energia elétrica em até 2,9%.