Uma queda de quatro metros mudou o rumo da vida de Paulo Benka, que já enfrentava o alcoolismo. Nos retalhos de madeira, ele encontrou um caminho para superar o trauma e transformar a dor em arte.

A madeira que antes seria descartada virou matéria-prima nas mãos de um artesão que constrói aviões, jipes, ferrovias, casas e fazendas. Na varanda de sua casa, ele monta uma minicidade para mostrar a este repórter sua estimável coleção de brinquedos criativos e funcionais — entre eles, uma minicarregadeira e um macaco hidráulico — que podem aguçar a mente lúdica das crianças, hoje tão habituadas às telas e jogos eletrônicos.
Aos 54 anos, Paulo Luis Benka transforma pedaços de pallets, ripas e refugo em miniaturas de todas as formas, feitas com precisão. A habilidade com a madeira surgiu ainda nos primeiros passos de sua vida profissional, quando começou a trabalhar na Marel aos 15 anos. Hoje, ao entrar em seu ateliê improvisado, nos fundos da casa, é como se visitássemos pessoalmente as histórias criadas pelo jornalista italiano Carlo Collodi, autor de As Aventuras de Pinóquio, e conhecêssemos o emblemático e gentil artesão Geppetto.

O local, que já foi a residência dos Benka antes da construção da casa de alvenaria na frente do lote, é onde Paulo diz passar grande parte do seu dia. Quando surge uma ideia nova, ele mergulha no trabalho e, entre um entalhe e outro detalhe na madeira que toma forma, mal vê as horas passarem. “É como uma terapia, aqui, meu refúgio”, afirma Paulo. Seu projeto atual, que tem sido desafiador, é a construção de um modelo da Kombi.
O artesanato ajudou a superar a depressão e o alcoolismo
Por muito tempo, Paulo enfrentou a depressão e o alcoolismo. “Saía do trabalho e sempre passava para pegar uma latinha ou duas de cerveja.” A rotina começou a mudar em 2022, quando sofreu um acidente: caiu de uma escada, de uma altura de quatro metros, enquanto podava árvores. Machucou a coluna, quebrou e trincou costelas, e ficou seis meses de cama. Foi nesse período que, isolado, encontrou na marcenaria uma nova vocação.
Impossibilitado de exercer sua profissão — que era pintor — devido à gravidade dos ferimentos, ele conta que o trabalho manual foi uma resposta de Deus. “Comecei a pedir uma direção, algo que me tirasse da cama.” A inspiração para as miniaturas surgiu anos antes, em 2016, quando estava internado em Curitiba para uma cirurgia.

Enquanto caminhava nos arredores do hospital, viu um senhor fazendo cadeiras de palha em miniatura. Admirado pelo trabalho, Paulo se aproximou, observou, e, gentilmente, o artesão lhe ensinou como trançava a palha para construir as pequenas cadeiras.
Anos mais tarde, conheceu pela internet o curso “Mestre dos Carinhos”. A partir dali, mergulhou de vez na produção de peças em madeira. Hoje, ele diz que “cada pedacinho que iria para o fogo, eu resgato e dou vida. Isso me tirou da bebida, me tirou da tristeza”.
O sonho de divulgar o próprio trabalho
Apesar da dedicação diária, Paulo ainda não tem um ponto fixo de vendas e trabalha sob encomenda. Já participou de feiras, como a de carros antigos no Marabá, e sonha em expor seus trabalhos com mais frequência, ensinar outras pessoas e até produzir conteúdo para a internet. “Aprendi muito vendo vídeos no YouTube. Se eu puder ensinar, vou ensinar. Se não puder, indico cursos.”
A comercialização das peças é feita diretamente com ele. Os valores variam conforme o modelo: há jipes por R$ 300, aviões por R$ 180, calhambeques entre R$ 180 e R$ 200 e caminhões boiadeiros por R$ 350. Algumas peças são funcionais, com alavancas móveis. Ele também aceita encomendas sob medida.

Hoje, além de ver sua saúde mental em recuperação, Paulo sonha em voltar a conviver mais com as pessoas. “Me isolei muito. Gostaria de mostrar o que eu faço. Qualquer pessoa pode fazer. Não precisa de faculdade. Só boa vontade.”
Interessados podem entrar em contato pelo Facebook ou Instagram, onde ele usa o nome Paulinho Benka, ou visitá-lo na Rua Júlio Benka, 54, ao lado do campo do Marrecas Clube.