
JdeB – “Eu queria que ele ficasse por casa, mas como não vem, eu é que vou pra estrada”, brinca a motorista Cleonice Staudt, a Nice. Ela e o Lindomar Czerniaski estão juntos há pouco mais de três anos, período que fez renascer o desejo de infância em guiar veículos pesados. Cleonice é habilitada na categoria “D” desde 2008 e fez alguns freelancers como motorista de ônibus, mas sua atividade principal sempre estava distante do volante – trabalhava com vendas e funções operacionais. Com o namoro, veio o incentivo. “Ser motorista era um sonho que eu tinha deixado de lado, mas tive parceria e, desde que estamos juntos, fiz a carteira “E” e comecei a procurar algo na área”, conta Cleonice.
A oportunidade veio há cerca de um ano. Ela foi a primeira mulher contratada como motorista pela Accold, empresa de produtos congelados. Faz entregas na região de Francisco Beltrão com veículos de carga menores (van e 3/4) e tem que carregar e descarregar os produtos. “Quando comecei senti que foi um desafio até para a empresa, pelo cuidado que tinham comigo e por ser a única mulher nessa função, mas aos poucos vamos conquistando espaço e mostrando capacidade”, relata.
Longe, mas sempre juntos graças ao Whats
Eles residem na Linha Gaúcha, interior de Beltrão, e a opção por trabalhar mais próximo de casa é para poder dar um suporte maior aos filhos. Lindomar, no entanto, tem uma rotina diferente da mulher, conduzindo carreta de contêiner de Itapejara D’Oeste para os portos de Paranaguá, Itapoá e Navegantes. Já são quase 30 anos de profissão e – estima ele – ao menos 3 milhões de km rodados dirigindo caminhões de entrega, ônibus e carretas. Atualmente puxa para a GM Transportes, de Pato Branco, e passa a semana na estrada. São de duas a três viagens a cada período.
Mas a distância é amenizada pelo contato diário, via Whatsapp. “Nós temos uma cumplicidade muito grande e mais de uma vez ao dia um procura saber como o outro está, se tem algum problema, como estão as coisas em casa ou na estrada. A gente tá longe, mas sempre juntos”, diz Lindomar, o Nego, que compara suas viagens a um passeio, dado o prazer de estar na estrada. Partilhar a rotina também ajuda a suavizar os percalços da profissão, para ambos.
Mulheres e a estrada
Por alguns meses, Nice acompanhou as viagens do companheiro e eles revezavam a condução. Para ela, a estrada é um alento e não descarta retornar às viagens longas no futuro, após encaminhar os filhos. A estrada, por sinal, é um ambiente alheio às mulheres, mas não aos sonhos. “Viajando a gente percebe que sempre vai ser mais difícil pra nós do que para os homens, como não ter sequer um banheiro com chuveiro feminino em alguns pontos. Mas hoje já estou muito realizada e me encontrei na profissão, apesar de todos os desafios”, relata.