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Francisco Beltrão
quarta-feira, 25 de junho de 2025

Edição 8.232

25/06/2025

Crianças são aliciadas para trabalhar a serviço do tráfico

Crianças são aliciadas para trabalhar a serviço do tráfico

Antônio de Paiva Cantelmo é um dos vários bairros que formam a Cidade Norte.

Crianças estão sendo aliciadas para servirem como “soldados” do tráfico de drogas no bairro Antônio de Paiva Cantelmo, em Francisco Beltrão. Em plena luz do dia, meninos e meninas são vistos em ruas e esquinas fazendo entrega de produtos ilícitos para “granfinos” da cidade que buscam rápidas sensações de prazer em pedras de crack e cigarros de maconha.

As mesmas crianças que deveriam estar nas escolas, se preparando para uma vida cidadã, estão trocando a oportunidade de ser alguém na vida por um punhado de moedas e um refrigerante. A denúncia foi feita por moradores que não querem se identificar, com medo de represálias dos traficantes.

Leia o relato a seguir: “Tem muita criança na rua, de 10 a 12 anos, vendendo droga à luz do dia. Não vão à escola e os pais não podem mais com a vida delas. É uma situação que nos assusta. Existem vários casos, inclusive de meninas. Há, por exemplo, um menor com problemas mentais, que deveria estar na Apae, e os traficantes o usam como mula para fazer entregas de drogas em troca de um refrigerante ou um lanche”.

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A história é contada por uma das lideranças da comunidade, segundo a qual, o poder público precisa tomar uma atitude urgente para salvar estas crianças. “Tem que fazer alguma coisa enquanto é cedo, resgatar esses meninos que estão começando agora para que tenham uma chance na vida. Ontem mesmo chamei minha vizinha para ver uma menina, eram duas horas da tarde, com aquele calor, fazendo entrega de droga. Eles chegam e se cumprimentam, neste ato trocam os papelotes de droga sem que a maioria das pessoas perceba”, diz.

 

Falta policiamento

Outra cidadã reclama da falta de policiamento do bairro. “A gente vê tantas viaturas novas, tantos policiais chamados em concursos. Acho que deveriam passar mais vezes durante o dia fazendo ronda, isso dificulta a vida do traficante.” Ela salienta que foram feitas denúncias graves, inclusive sobre a existência de desmanches de motocicletas no bairro, entretanto, sequer foram levadas a fundo. “Por que colocaram um posto policial na Cidade Norte, se quando precisamos é difícil eles vir? Eu não sei mais o que fazer. Tem traficante que não faz mal pra nós, mas para as crianças. São clientes que vêm da cidade inteira, filhinhos de papai, profissionais liberais e gente conhecida da cidade que vêm comprar droga”, fala a beltronense.

 

Informações imprecisas

O capitão Rogério Pitz, subcomandante do 21º Batalhão da Polícia Militar, diz que muitas vezes as denúncias chegam até a corporação sem especificar quem são os traficantes ou as crianças que estão sendo aliciadas, o que dificulta enormemente o trabalho de averiguação. 

O oficial explica que se a polícia vai até o local, identifica e apreende uma criança com uma bucha de maconha, em poucos minutos ela já estará na rua novamente, porque a lei não permite que ela fique detida. Na avaliação dele, só o que resolve é dar uma ocupação para elas. “É um fato grave, porém, a questão principal é a ação da família e do Conselho Tutelar. Existem vários projetos sociais importantes no município, cabe ao Conselho Tutelar identificar esses menores e encaminhar para o atendimento.”

O policial lembra que, em último caso, se a família não tem condições de permanecer com a criança, a Justiça pode decretar medidas protetivas levando-a para um abrigo.

 

Cursos e ensino integral

Os moradores querem cursos profissionalizantes para os adolescentes e ensino integral até o ensino médio no bairro. “Eles precisam aprender um ofício enquanto são jovens. Não temos medo, contudo, não sabemos o que fazer, somos muito pequenos diante do problema. Mães se queixam para nós que os filhos roubam de dentro de casa para trocar por drogas. Outras pessoas estão botando fora tudo que têm para comprar crack. É preciso ter um tratamento para essas pessoas que estão pedindo socorro, estão na ânsia, mas não têm um local para se tratar”, lamenta a moradora do Cantelmo.

 

Tem que ter investigação

O conselheiro tutelar José da Silva salienta que, em alguns casos, quando a criança é menor de 12 anos, é necessário realizar uma operação conjunta entre Conselho Tutelar e forças policiais. O órgão também reclama da falta de consistência nas informações repassadas pela população. “As pessoas precisam indicar quem são essas crianças, aqui mantemos total sigilo das informações, para que possamos fazer o acompanhamento”, ressalta.

O conselheiro afirma que para combater o tráfico de drogas é preciso realizar investigação. “É preciso ter produção de prova para desmantelar os grupos que dominam o tráfico. Se tiramos um menor e encaminhamos para um projeto social, logo eles recrutam outro para o seu lugar.” Ele informa que os casos envolvendo menores no mundo das drogas estão se avolumando em Francisco Beltrão e as autoridades precisam agir em conjunto para criar mais força e combater o tráfico.

 

 

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