
Desde o ano passado, os motoristas de parte dos caminhões que prestam serviço à BRF de Francisco Beltrão só andam acompanhados. Na cabine, agora há um sensor que identifica, grava e envia em tempo real a filmagem de infrações de trânsito, distração e sinais de sonolência.
Inicialmente, a tecnologia não foi bem recebida pelos motoristas, que julgavam estarem abrindo mão da privacidade, mas o uso e a melhor compreensão da função do sistema está fazendo com que o sensor, hoje, seja visto de forma diferente por quem usa.
“No começo o sistema era visto como um vilão, seria o dedo-duro dos maus motoristas, e por isso tinha um pouco de rejeição, mas hoje é o anjo da guarda de quem tá na estrada, porque contribui de forma significativa para a melhoria da segurança”, analisa Tiago Preis, que junto com a família e um sócio tem dez caminhões puxando para a BRF.
Ele compara o sensor à limitação da velocidade em 80 km/h, que passou a ser exigida pela Companhia há alguns anos: “Quando veio essa regra da velocidade também teve uma repercussão grande, o pessoal achava que isso ia inviabilizar as viagens, mas hoje já está todo mundo habituado a respeitar esse limite”.
Alertas para comportamentos de risco
O sensor instalado sobre o painel do caminhão identifica comportamentos de risco do motorista, como a falta de uso do cinto, falar ao celular, se distrair ou se aproximar de forma perigosa de outros veículos. Por exemplo: quando o equipamento identifica sinais de fadiga, como motorista piscar de forma lenta e por alguns segundos, emite um alerta sonoro na cabine e envia uma gravação curta para a empresa proprietária do caminhão e à companhia pela qual o veículo está contratado. Tudo em tempo real.
O dono do caminhão precisa analisar a filmagem e a situação. Em muitos casos, há um falso positivo (se o motorista fizer o movimento de coçar a orelha, o sensor pode confundir com uso de celular, assim como quando dirige contra o sol, que pode ser caracterizado como sonolência pelo equipamento) e aí uma justificativa é feita dentro do próprio software de monitoramento.
Sensor complementa cultura de segurança
O sensor visa contribuir com a prevenção de acidentes que possam ter falha humana como causa, mas Tiago alerta que, além do equipamento, a empresa de transporte precisa ter uma forte cultura de segurança. “Em 2009 meu pai se acidentou de forma grave porque cochilou no volante, desde então viemos batendo muito forte na questão da segurança. Sempre damos tratativas quando há uma infração que o sensor identifica, conversamos com o motorista, tentamos ajustar o horário e damos muita flexibilidade e liberdade. O motorista tem a decisão do que fazer em sua mão. Isso vem surtindo muitos resultados positivos.”
Atualmente, o sensor é exigido em veículos que transportam frango vivo, ovos, ração e pintainhos para a BRF e o próximo passo é a implantação nos porta contêiners e câmaras frias. O presidente da Coptrans, Ezídio Salmória, estima que cerca de 70 veículos já tenham o equipamento e reforça que seu uso não fere a privacidade dos condutores.
“O sensor só funciona quando o veículo está ligado e em movimento e o motorista tem a segurança de que as únicas imagens dele que ficam registradas e são enviadas são aquelas de comportamentos de risco.”
O sensor pode ser adquirido ou locado e o proprietário do veículo paga pelo uso do software. Duas empresas transportadoras já estão homologadas pela BRF, a Trimble e Sascar.