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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Dia de juntar o que sobrou e limpar a sujeira

A água só baixou por volta das 6h30 da manhã de ontem e o cenário era de desolação total.

 

 

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Pedro da Silva, 62 anos, ainda estava com a roupa molhada no corpo, ontem pela manhã, quando abriu a porta de sua casa para a reportagem do JdeB registrar o estrago da enchente que assolou o município. Ele passou a noite perambulando pela cidade sem rumo, esperando a água do Rio Marrecas retroceder e, então, poder entra na moradia. A sexta-feira foi dia de tirar os móveis para fora, colocar roupas e colchões para secar e limpar as residências. Depois que a água vai embora, fica uma camada grossa de lama que não é fácil de remover. Muitos usaram mangueiras e vaps (lavadora de alta pressão) para tirar o lodo dos pisos e paredes.

O idoso é um dos moradores ribeirinhos no prolongamento da Avenida Guiomar Lopes, bairro São Miguel, em Francisco Beltrão. Quase todas as casas da localidade ficaram submersas por causa da enchente. A água só baixou por volta das 6h30 da manhã de ontem e o cenário era de desolação total. Todas as famílias tiveram perdas. Os alagamentos ocorreram pelo transbordo do córrego Urutago e dos rios Marrecas e Lonqueador. O índice pluviométrico registrado para Francisco Beltrão foi de 230 milímetros, em média.
?Tinha feito um rancho de R$ 500 e perdi todos os alimentos, não deu tempo de salvar.? Apesar da idade, Pedro não é aposentado e não pode trabalhar porque se recupera de um ferimento no pulso feito com uma makita (serra portátil) em uma obra onde era servente. ?Eu vou segunda-feira no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) ver se o dinheiro do auxílio já foi liberado, senão, vamos passar fome, porque não posso trabalhar e a minha mulher é doente.? 

A geladeira, que ficou danificada, Pedro nem terminou de pagar, ainda faltam duas prestações de R$ 170. Apesar de ser área de invasão, existe um comércio de imóveis naquele local. Pedro, por exemplo, comprou sua casa por R$ 20 mil e depois conta que investiu mais R$ 10 mil para reformá-la. ?É tudo o que tenho e se sair daqui, vou para onde?? 

O velho inimigo
A mesma indagação faz o trabalhador Júlio César Souza: ?É aqui onde a gente consegue pagar o aluguel (R$ 350), se for morar em outro lugar, daí não sobra para a comida?. Júlio tem o rosto cansado, de quem sofre as armaguras da vida e não pode demonstrar fraqueza. O Rio Marrecas só lhe traz tristeza e dor, é o algoz e arqui-inimigo de sua existência. Se fosse só a enchente e as perdas materiais, mas o Marrecas levou recentemente o filho caçula, que caiu enquanto brincava e morreu afogado. O acidente sensibilizou toda a comunidade beltronsene.  

Experiência em enchentes

O pedreiro Antônio Giacomoni, 57, mora há 12 anos na esquina das ruas José Bonifácio e Guiomar Lopes, e em cinco oportunidades viu a água do Rio Marrecas bater em sua porta. ?Mas desta vez foi a maior enchente, subiu muito rápido.? Ele mora numa casa de dois pisos e como tem experiência em alagamentos, por volta das 23 horas do dia 30 começou a levar o que podia para cima e chamou um amigo com um caminhão para retirar parte dos móveis da casa do filho, que mora ao lado. ?Mesmo assim, perdemos muitas coisas. Já conheço o rio, vi que ia dar enchente e alguma coisa a gente conseguiu salvar.? Ele reuniu amigos e familiares para fazer a limpeza da casa. 

Para Cleonice Ribeiro Martins, que mora ao lado, só sobrou uma cozinha, uma cama e a geladeira. O guarda roupa novo, que ainda tinha prestações, não se salvou. Antônio de Brito, que trabalha na construção civil, reside há pouco mais de um ano na casa e não sabia que a área era de risco. A enchente cobriu quase toda sua moradia. ?Só tiramos as roupas e a televisão, que colocamos no carro e levamos para a casa da minha cunhada.? 

O empresário Carlos Tartari teve um prejuízo de R$ 10 mil só em mercadorias. Ao lado da casa ele tem sua empresa, um atacado que distribui utensílios de plástico e alumínio. ?Sem contar o que perdi dentro de casa, a água subiu mais de dois metros.? Carlos fez questão de registrar a sua indignação com o poder público. 

Dragar todo o rio
Na opinião dele, é preciso dragar todo o Rio Marrecas, como foi feito há mais de 20 anos. ?Faz 10 anos que moro aqui e é a primeira vez que chegou a água dentro de casa. Tudo que tenho investi aqui, não tenho como ir morar em outro lugar.? Ele acredita que os recursos usados para a dragagem do Rio Marrecas poderiam ter sido aplicados de um jeito melhor. ?A cidade está crescendo e não se investe o necessário para resolver esse problema?, lamenta. 

O deputado estadual Nelson Luersen (PDT) visitou algumas famílias na manhã de ontem em Beltrão e disse que o governador Beto Richa (PSDB) tem que se sensibilizar com a situação e buscar recursos para atender as famílias castigadas pelas enchentes em toda a região Sudoeste do Paraná. 

 

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