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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Fábio Corrêa: Uma perna amputada e a vitória contra o câncer aos 25 anos de idade

Beltrão

Fábio Corrêa: Uma perna amputada e a vitória contra o câncer aos 25 anos de idade.

Ele comemora cada evolução.

Na foto, Fábio com sua fisioterapeuta Rafaela Bettes. 

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São mais 40 pontos na área que restou da perna amputada, resquícios da vitória de Fábio Corrêa, 25 anos, contra um câncer. “Foi apenas um pedaço físico que se foi, mas minha mente transcendeu meus limites e superou qualquer perda física que eu tive”, comenta Fábio, que passou pela amputação ano passado. O JdeB contou sua história logo que ele precisou fazer o procedimento. Fábio descobriu o tumor em 2014, quando fez a primeira cirurgia para remoção. Em 2019, o tumor retornou mais agressivo. Agora, ele relata como venceu a doença. Confira a entrevista.

JdeB – Como foi o tratamento até a amputação de sua perna?
Fábio Corrêa – Realizei a primeira cirurgia pra remoção do tumor em 2014, me recuperei e segui a vida. Em 2018, voltaram as dores no local do tumor e descobri que ele tinha voltado. No início de 2019, comecei o tratamento no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, e no dia 1º de julho realizei a cirurgia para a tentativa de retirada do tumor. Houve algumas intercorrências durante as 10 horas de cirurgia, mas saí da mesa ainda com a perna. Duas semanas após a primeira cirurgia, meu quadro clínico somente piorou, minha perna estava muito afetada pela retirada de grande quantidade de osso/tumor, a infecção estava se agravando e havia a possibilidade de o tumor retornar. Frente a esses riscos, a amputação era a melhor solução. Após a amputação, meu quadro clínico melhorou consideravelmente dia após dia e no 34º dia de internação recebi a tão esperada alta hospitalar.

Você já se adaptou à prótese?
Sim, apesar de a minha recuperação ter sido conturbada devido à pandemia, hoje posso dizer que já estou reabilitado quase que 100%. Existem ainda pequenos detalhes a serem resolvidos com a prótese, mas já retornei à minha vida normalmente.

Como está sua vida hoje?
Respondo essa pergunta com uma frase que levo comigo após a amputação: “Mesmo faltando um pedaço de mim, me sinto mais completo que nunca”. É assim que me vejo hoje. Sou um cara completo, faço tudo o que quero, pratico atividades físicas, tenho meu lazer normalmente, trabalho, estou tentando me tornar um atleta de ‘para jiu-jitsu’, da Elizeu Capoeira MMA School. Enfim, eu não tenho uma perna biológica, mas tenho uma perna mecânica, que me proporciona uma ótima qualidade de vida e me possibilita realizar todas as atividades que eu realizava antes da amputação.

 

Para quem está passando por situação semelhante, que sugestões você daria?
Bem, toda pessoa é diferente e todo processo de amputação tem as suas singularidades, então não existe uma receita mágica que serve para todos os casos. Em geral, existem alguns pontos em comum: a sensação de perda, o medo do futuro, o pensamento de invalidez permanente e a sensação de que esse é o fim da sua vida são os primeiros tormentos que passam na cabeça de um recém-amputado, e isso vai acontecer sempre, mas vai passar. A amputação não é o final, mas o início de um novo começo. Nesse primeiro momento, é importante se manter forte e saber que só não existe solução para a morte.

Como é a retomada das atividades?
O retorno ao dia a dia, agora sem uma perna, é uma das partes mais difíceis de superar, porém, é uma das fases mais gratificantes. Se você está vivo, nada é impossível, procure soluções; se você não consegue fazer algo do jeito A, faça do jeito B. Nesse momento, você não deve se vitimizar, a vida está em sua frente, encare-a de braços abertos, procure soluções, evite deixar de fazer o que você quer fazer. Agora, a fase da “protetização”. É importante ter calma nesse momento, mesmo frente à imensa ansiedade que passamos para voltar a caminhar. Não pule etapas, faça tudo o que os médicos, fisioterapeutas e os protesistas indicarem. É um momento cansativo, repetitivo, doloroso, mas vai valer a pena quando você começar a usar a prótese. E pode parecer supérfluo, mas voltar a ficar em pé e a caminhar sem o uso de muletas é uma das melhores sensações que podemos sentir na vida. Após essa fase de protetizacão, é literalmente colocar “a cara a tapa” e enfrentar a vida, treinar com a prótese e adaptar o que for necessário. Somente vivendo o dia a dia vamos ser totalmente reabilitados.

Como evitar recaídas?
Vale ressaltar que para que tudo tenha sucesso é necessário que você seja forte. Tudo depende de você, se você quer, você consegue. Não é nada fácil, longe disso. Em geral, existem mais dias ruins do que bons, mas é só uma fase que te ensinará muito e te tornará uma pessoa melhor. O processo é difícil e doloroso, mas é gratificante e te fará evoluir. Mantenha as pessoas que ama sempre por perto, elas te ajudarão muito a ter forças. Mantenha seu espírito elevado e sua mente forte. Ignore as muitas pessoas que serão negativas perante a sua situação, bote um sorriso no rosto, agradeça a vida e viva tudo intensamente. Enfim, isso não é nem a ponta do iceberg desse mundo da amputação, por isso estou sempre disposto a compartilhar as experiências com outras pessoas, afinal, tenho muito a oferecer, mas tenho muito mais a aprender. Quem precisar, pode entrar em contato comigo que ajudo sempre no que for possível. “Se a vida te tirar uma perna, vá saltitando; se a vida te tirar as duas pernas, vá rastejando, mas jamais desista de seguir em frente.”

Fábio Corrêa comemora cada evolução. Na foto, com Luís Eduardo “Tyza”, seu professor de artes marciais.

 

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