A vida da empresária mudou radicalmente em 2012, quando perdeu as duas pernas em um acidente de trânsito.

Quem esteve no Teatro da Unisep na quarta-feira, 31, foi presenteado com um depoimento de coragem e superação emocionante, daqueles que fazem qualquer pessoa rever a forma como encara a vida, as dificuldades e a si mesma. No palco, sobre uma cadeira de rodas, Franciele Stang, 35, emocionou o público ao narrar a sua história e os aprendizados que teve desde o acidente automobilístico que levou as suas duas pernas, em 2012.
“Eu, como vocês podem perceber, optei por me reinventar. Me superar. E viver e minha vida da melhor maneira possível. Nunca mais viver como eu vivia antes, deixando a vida me levar, me preocupando com o que as pessoas vão pensar, me preocupando em atingir os padrões que a sociedade exige. Hoje, procuro viver da melhor maneira possível, fazendo diferença na vida das pessoas, não só das pessoas que eu amo, mas também das pessoas que eu desconheço. Espero que a minha história possa acrescentar de alguma forma na vida de vocês.”
O fato que mudou radicalmente a sua vida aconteceu em 29 de setembro de 2012. Naquela data, ela e o marido participariam de um casamento em Três Barras, no período da noite. Mas, excetuando-se isso, o dia deveria ter uma rotina quase normal para Franciele, o que incluía fazer o trajeto de Nova Esperança do Sudoeste a Francisco Beltrão para trabalhar até ao meio-dia na empresa da família. Porém, naquele início de manhã chuvoso, ela se deparou com obras na pista, perdeu o controle do carro, saiu da estrada e colidiu em árvores. Só não perdeu a vida por uma sucessão de coincidências ou milagres.
Um deles promove uma reflexão importante sobre como costumamos nos estressar com coisas pequenas, que, no fim das contas, não fazem tanta diferença. No dia anterior ao acidente, ao chegar a Nova Esperança, Franciele se sentiu contrariada ao descobrir que teria de levar ao casamento um presente diferente daquele que havia escolhido. Aquilo a deixou insatisfeita, triste, se sentindo sufocada. Como ela conta, colocou o pacote no carro com a maior má vontade. No momento do acidente, perdendo muito sangue e com hipotermia, populares procuraram no carro dela algo que pudesse aquecê-la. E foi num pacote de presente que encontraram um edredom branco com o qual puderam envolvê-la. “Aquele presente que tinha me deixado com raiva ajudou a salvar a minha vida”, conta.
Depois disso, ela passou 17 dias internada no Hospital Regional de Francisco Beltrão. Foi um período de muitas lições, em que aprendeu a dar mais valor à vida, à família e a Deus. Como passou dias inconsciente, não sabia exatamente o que havia acontecido, nem qual era a sua situação física. Antes, porém, que médicos e familiares lhe contassem, recebeu a visita de uma pessoa que ela não sabe precisar se era real, sonho ou delírio. “Ele me disse: ‘você sofreu um acidente muito grave e os médicos não puderam fazer nada para salvar as suas pernas. Mas você não feriu ninguém e você está aqui, viva’. Naquele momento entendi tudo. Não me senti no direito de reclamar ou qualquer coisa assim. Pra mim, aquela pessoa era um anjo, tinha cara de anjo. Deus foi tão maravilhoso comigo que mandou um anjo para me dar a notícia.”
O período que veio depois foi difícil, porque Franciele, que era muito independente, passou a precisar de cuidados e ajuda o tempo todo. Mas, ela conta, foi um tempo de muito aprendizado e aproximação com a família. “Quantas vezes deixei de ouvir a minha família. Quantas vezes deixei de estar com a minha mãe pra sair com os meus amigos. No momento que eu mais precisei, foram eles, os meus pais, que deixaram tudo pra vir cuidar de mim. Muitos amigos que eu tinha sequer foram me visitar. Muitas vezes damos valor pra qualquer um, mas as pessoas que nos amam de verdade, que dão a vida por nós, deixamos pra depois”.
Em sua fala, no palco da Unisep, Franciele orientou o público a levar uma vida equilibrada, com espaço para outras prioridades além do trabalho. “Antes do acidente, o meu marido nunca tinha tempo, porque só pensava no trabalho, não podia deixar a fazenda. Quando veio o meu acidente, ele passou 17 dias na porta do hospital; e os negócios continuaram. Então, por que não posso tirar duas horas do meu dia para as pessoas que eu amo? Cuidem hoje de quem vocês amam”, recomendou.
Outro ponto frisado por ela diz respeito a preocupação exagerada com o corpo perfeito, com a estética. Lembrou que antes do acidente nunca estava satisfeita consigo mesma, não achava que era bonita o suficiente sequer para fazer uma sessão de fotos. Mas, depois, apesar das limitações, passou a fazer academia, exercícios e até encarou um ensaio sensual. “No começo, academia foi muito difícil porque eu ouvia as pessoas reclamando do próprio corpo, achando defeitos em si mesmas o tempo todo. Aquilo me machucava. Parei de ir. Mas, começaram a me perguntar porque eu não ia mais. Teve gente que me disse que me ver lá era um incentivo, que, se eu podia, ela também poderia”, contou.
Viva o agora, sugere Franciele
Para finalizar sua palestra, Franciele Stang, estimulou o público a viver o agora, a fazer o melhor possível hoje. “Passamos a vida reclamando das pessoas a nossa volta, procurando pessoas perfeitas, reclamando da vida. A gente só dá valor as coisas depois que perde. Todo mundo já ouviu isso, mas o que acontece é que nós temos a mania de acreditar que as coisas só acontecem com os outros. Esquecemos que nós também somos os outros. Nosso momento é agora, a hora de apresentar a nossa melhor versão é essa. Eu me dei conta de que se tivesse partido, não teria deixado nada de bom, nenhum legado. Hoje eu tento fazer diferente na comunidade, na vida dos meus filhos. Todos temos de entender que estamos aqui de passagem, mas porque não deixar um legado? Nosso momento é este, é agora!”
Evento marcou reinício das aulas
A palestra com Franciele marcou a reabertura das aulas no Centro Universitário Unisep, campus de Francisco Beltrão. Participaram professores, acadêmicos e convidados. “Foi uma das maiores lições que já recebemos. Acredito que todos saímos impactados desse evento, revendo os nossos valores”, frisa o diretor de planejamento da Unisep, Itamar Vodzicki.