Atualmente, não há nenhum cão de busca e salvamento em atividade no Sudoeste e Oeste do Paraná. A Pastor Alemão será a única em atividade.

A região de Francisco Beltrão terá a primeira cadela de busca e salvamento. Frida, da raça Pastor Alemão Capa Preta, está sendo treinada pelo cabo Hiago Zanchet, do 10° Batalhão de Bombeiro Militar. Ele está preparando a Frida para a certificação de busca de pessoas vivas em áreas urbanas e rurais.
Já existiram cães atuantes em Cascavel e Pato Branco, mas hoje não há nenhum ativo em todo o Sudoeste e Oeste do Paraná. Quando necessário, é preciso acionar equipes de Curitiba ou Londrina, o que leva tempo para o deslocamento e preparo do cão até a chegada ao local e pode atrasar o resgate das vítimas. Um cão treinado na região agilizaria a busca e o resgate de pessoas em perigo ou desaparecidas. “Na nossa regional, que abrange 27 municípios, nunca houve um cão de busca e resgate. A Frida é a primeira”, destacou o cabo Zanchet.
Frida iniciou o treinamento em janeiro deste ano, ainda durante as férias do cabo Zanchet. Oficialmente, entrou na corporação em fevereiro. Ela hoje tem sete meses e será certificada apenas após completar um ano e meio de idade, conforme as regras da Conabrec (Confederação Nacional de Busca, Resgate e Salvamento com Cães), órgão responsável pela certificação em nível nacional.
Zanchet é bombeiro desde 2016. Começou a atuar com cães em janeiro de 2024, após concluir o curso em outubro de 2023. Fez um curso em Curitiba, ofertado pelo Canil Central dos Bombeiros, obrigatório para trabalhar com cães dentro da corporação. Ele já conhecia o trabalho com cães desde sua atuação como bombeiro comunitário em Santa Catarina. “Lá, vi cães atuando e me encantei com a atividade.”
Futuramente, Frida também poderá ser treinada para localização de restos mortais e odor específico. “No caso de odor específico, o cão precisa seguir o cheiro exato de uma pessoa desaparecida a partir de um objeto pessoal, como uma camiseta ou uma meia.”
A região já registrou ocorrências que exigiram cães de busca, como um caso em Itapejara, há cerca de 15 dias, e outro recente em Bom Sucesso, diz Zanchet. Em Francisco Beltrão, também houve busca por um agricultor desaparecido. Na ocasião, um cão da polícia foi usado para cooperar com o resgate.
Rotina de treinamento e preparação para certificação
A rotina de treinamento é diária. Antes das 8h, Zanchet faz um circuito rápido com a Frida. Outro às 9h30 e mais um ao meio-dia, um pouco mais longo. À tarde, há mais um treino e, à noite, Frida passeia e trabalha a parte de socialização. Na fase de filhote, ela consome cerca de meio quilo de ração por dia.
Diferente dos cães policiais, que geralmente têm a socialização mais restrita aos tutores durante o período de operação, os cães de resgate e salvamento precisam desenvolver essa habilidade de forma mais intensa e a todo o momento. Por atuarem, muitas vezes, com crianças, idosos ou gestantes em situação de vulnerabilidade, é essencial que consigam localizá-los e agir de forma amigável.
No pátio do batalhão, Frida é sempre gentil com todos, inclusive com este repórter, que ela nunca havia visto. Brinca, corre, aceita carinho e também distribui afeto. Mas, ao comando do tutor, obedece e aguarda instruções como uma militar exemplar.
“A certificação é exigente. O cão passa por provas de obediência, busca e sociabilidade. Precisa andar entre cães desconhecidos, ser conduzido por uma pessoa estranha e não pode reagir de forma agressiva, além de garantir com precisão que determinada área está ou não ocupada por pessoas. Em áreas rurais, vai ter galinha, outros cães, pessoas diversas — ele precisa se comportar. É uma decisão crítica, por isso o nível de exigência é alto”, explica Zanchet.
O cabo diz que, em uma certificação, o cão precisa cobrir até 362 mil metros quadrados e localizar duas vítimas em até duas horas — um trabalho que, com militares, levaria muito mais tempo. Devido às capacidades olfativas caninas, muito mais apuradas que as do ser humano, o resgate é mais ágil. “Eles são essenciais em situações como desastres naturais — exemplo das tragédias de Brumadinho e, recentemente, no Rio Grande do Sul. Nessas situações, cães do Paraná foram utilizados na busca por vítimas.”
Quando a Frida se aposentar, Zanchet vai adotá-la
O cão de bombeiro se aposenta aos oito anos de idade. Depois disso, pode ser adotado, preferencialmente, pelo próprio condutor. Caso isso não seja possível, a adoção é aberta a outros militares da unidade e, por fim, à população civil. Mesmo aposentado, ele continua sendo considerado um servidor do Estado, e o tutor responsável recebe auxílio para a alimentação do animal e também no momento do falecimento.
Mas Zanchet diz que Frida já é um membro fixo tanto da corporação quanto do seu próprio lar. Ela não dorme no batalhão; todas as noites, e também nos fins de semana, ela retorna para a casa do cabo Zanchet, que tem um canil preparado para ela. “Ela não é um pet, não pode ser tratada assim, por ser um cão militar”, enfatiza. Mas ela recebe um espaço e carinho como membro da família.
Frida precisará do apoio da sociedade
O cabo Zanchet diz que a fase atual do treinamento é chamada de “autofiguração”: Frida procura pelo próprio condutor. Depois, passa a procurar outras pessoas. Para isso, ele planeja envolver voluntários, com diferentes idades, condições de saúde e perfis. “Vamos ter que contar com o apoio da comunidade beltronense em breve para treinos mais avançados. Vou divulgar nas redes sociais, talvez montar um grupo de WhatsApp, e precisamos de pessoas dispostas a se esconder, mesmo na chuva e de madrugada, para treinar a Frida para situações reais. Quanto mais diversidade de odores ela conhecer, melhor será sua capacidade de busca.”