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Francisco Beltrão
domingo, 15 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

Ginásio se torna o ”templo do amor” e ecoa ”sim” de 288 casais da região

Um dos requisitos para casar era ter uma renda de até três salários mínimos, pois o objetivo é atender a parcela mais necessitada da população.

“A comunidade se uniu para buscar vestido de noiva, adereços, sapatos, camisa, tudo que pôde para que eles possam ter um dia de felicidade”, destacou a desembargadora Joeci Machado Camargo. Foto: Niomar Pereira/ JdeB

O Programa Justiça no Bairro/Campo Sesc Cidadão, que começou na quinta-feira, 1º, em Francisco Beltrão, não poderia terminar de forma mais especial. O casamento coletivo de sábado à noite, dia 3, reuniu 288 casais da região Sudoeste do Paraná que trocaram alianças, fizeram votos, disseram “sim” em uníssono e deram um beijo no final, tudo como manda o protocolo.

A desembargadora do Tribunal de Justiça do Paraná, Joeci Machado Camargo, coordenadora do Programa Justiça no Bairro, foi quem presidiu a solenidade. “Muitos de vocês começaram o namoro e a paquera na escola e aqui (universidade) é um bom lugar para reviver tudo isso. Sonhamos que nossos filhos um dia se tornarão doutores, então não existe melhor lugar que transformar este ginásio no templo do amor, onde entregamos nossos filhos para ser o segundo lar deles”, disse.

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“A comunidade se uniu para buscar vestido de noiva, adereços, sapatos, camisa, tudo que pôde para que eles possam ter um dia de felicidade.” Foto Niomar Pereira

O desembargador Wellington Coimbra de Moura, 1º vice-presidente do TJ-PR, também prestigiou o evento, assim como prefeitos de várias cidades da região, juízes e promotores de justiça. A Unipar foi representada pelo seu diretor, Claudemir José de Souza, e a Fecomércio-PR pela gerente regional de Ação Social, Elisangela Domingues.

De acordo com a desembargadora Joeci, cidadania é a palavra que define a importância de todos os parceiros no evento. “Responsabilidade social conjunta entre instituições públicas e privadas que é o mais importante.”

Desembargadora Joeci comandou a cerimônia. Foto Niomar Pereira

A magistrada agradeceu a sociedade que permitiu a bela festa de casamento. “A comunidade se uniu para buscar vestido de noiva, adereços, sapatos, camisa, tudo que pôde para que eles possam ter um dia de felicidade. Qual a maior felicidade, dele que está recebendo ou daquelas pessoas que estão dando seu tempo para dar um pouco de atenção, um pouco de carinho?”, questionou.
Roupas para os noivos

O casamento coletivo que ocorreu em Francisco Beltrão foi uma parceria do Tribunal de Justiça, da Fecomércio (através do Sesc e do Senac) e das prefeituras da região. Desde que o programa foi criado, já foram realizados cerca de 30 mil casamentos por todo o Paraná.

O gerente executivo do Sesc, Sérgio Giaretta Júnior, conta que os preparativos tiveram início com 40 dias de antecedência, para dar tempo de fazer todo o procedimento documental pelos cartórios de registro civil. Para os noivos mais carentes, o Sesc doou camisas, calças e sapatos, através do projeto Brechó Social. Além disso, empresas parceiras colaboraram com a ornamentação do ambiente para o casamento. Um dos requisitos para casar era ter uma renda de até três salários mínimos, pois o objetivo é atender a parcela mais necessitada da população. As custas num cartório para registrar um casamento civil é cerca de R$ 500.

Sonho adiado por falta de recurso, agora virou realidade

Casar como manda o figurino é o sonho de toda mulher. Jucelene Almeida dos Santos, 28 anos, começou o dia bastante nervosa. “Já saí da cama meio perdida, pensei ‘isso não é verdade’.” Ela oficializou a união com Itamar, 32, com quem vive há mais de 11 anos. Eles são pais de Pablo, 9 anos, e Natali, 5, e residem no Bairro Padre Ulrico. Jucele é dona de casa e o marido trabalha com tapeçaria para estofados. “A gente sempre quis casar, mas o tempo foi passando, nunca sobrava recurso, então surgiu essa oportunidade do casamento coletivo e resolvemos aproveitar.”

Deise Mercato, 31, e Luiz Pessoa, 49. Foto Niomar Pereira

Deise Mercato, 31, e Luiz Pessoa, 49, acordaram por volta das 6h e trabalharam até quase a hora do casamento (18h). Eles têm uma mercearia (minimercado), no Bairro Júpiter, e no sábado, um dos dias de maior movimento, não havia ninguém para deixar cuidando do estabelecimento. “Eu trabalhei até as 4 horas (16h), corri pra casa fiz a maquiagem bem rápido e ele ficou mais um pouco atendendo.” Eles moram juntos há um ano e meio. “O custo para casar é muito alto, nós até já tínha dado entrada no cartório, então vi no noticiário sobre esse casamento comunitário, fui lá e pedi pra cancelar, porque iria casar aqui, já que não precisaria pagar.” Ela diz que a renda da família é baixa e todo dinheiro que for possível economizar faz diferença no final do mês.

Patrícia de Ré, 33, e Laurindo Moraes, 42, têm um relacionamento de cerca de dez anos. “Casar era um sonho que estou realizando, mas os custos são altos, mesmo que seja só no civil, então vai ficando em segundo plano.” Eles decidiram reunir a família no domingo para fazer uma pequena confraternização, já que a irmã dela, Sônia, também casou no sábado.

Patrícia de Ré, 33, e Laurindo Moraes, 42. Foto Niomar Pereira

 

Vestido e embelezamento das noivas

Toda a preparação das noivas foi feita pelo Senac Francisco Beltrão. Segundo a diretora da unidade, Lenise Fernandes, os trabalhos começaram às 8h com uma média de 20 noivas atendidas por vez.

Senac fez um mutirão para dar conta do atendimento das noivas no sábado. Foto Niomar Pereira

O Senac reuniu uma equipe com 24 voluntárias, entre professoras, alunas e ex-alunas dos cursos da instituição. Aproximadamente 60 noivas de Francisco Beltrão ganharam a maquiagem e o penteado. Se tivessem que pagar, o serviço não sairia por menos de R$ 600 nos salões de beleza. Os vestidos e os buquês foram viabilizados pela Prefeitura de Francisco Beltrão. (NP)

Noivas ganharam vestido, buquê, maquiagem e penteado. Foto Niomar Pereira

 

”Casar é fácil, mas como manter a união?”

O pastor Eder Minetto, da Igreja Casa da Fé, do Bairro Cristo Rei, mencionou que casar é “fácil” hoje em dia. “Até a justiça tem facilitado o casamento como vemos aqui, mas o difícil é manter a união duradoura.” Na versão dele, é preciso alguns ingredientes para o casamento dar certo. O primeiro deles, o amor eros. “Cuide-se, ame-se, seja atraente para seu companheiro”. O segundo, o amor fileo. “É triste quando seu melhor amigo já não é o cônjuge. Quando voltam para casa e os dois já não conversam mais, o casamento está chegando ao final.” Por fim, o amor ágape. “Casamos para sofrer, todos temos defeitos, aprenda a sofrer do lado da pessoa que você ama.”

Momento de reflexão durante o casamento coletivo. Foto Niomar Pereira

Padre Airton Grespan, vigário da Paróquia São José, do Bairro Vila Nova, foi na mesma linha de raciocínio. Comentou que normalmente a pessoa tende a “cobrar” mais do outro, quando na verdade deveria “cuidar” mais de quem ama. “Ninguém vai embora de um casamento se é feliz e está bem cuidado.” Padre Airton deu uma bênção ecumênica, ou seja, não foi casamento religioso, porque havia pessoas de várias paróquias e denominações diferentes. Ele recordou, inclusive, que já participou do Justiça do Bairro Sesc Cidadão quando trabalhou em Curitiba e região metropolitana. (NP)

Justiça no Bairro Sesc Cidadão

Foram três dias de audiências, perícias, orientação jurídica, confecção de documentos, atendimentos nas Apaes da região, além de serviços gratuitos em áreas de saúde, educação, lazer e cultura.
O objetivo é levar cidadania e qualidade de vida à população que mais precisa e minimizar os impactos causados pela desigualdade social. Desde 2005, o Justiça no Bairro Sesc Cidadão já fez cerca de 1,7 milhão de atendimentos em 240 municípios. Em Francisco Beltrão, o evento surpreendeu.

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