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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Há 70 anos, nascia Jorge Baleeiro de Lacerda

Beltrão

Baleeiro proferiu palestras sobre o Brasil em dezenas de faculdades e universidades por todo o País.

Seus mais de 30 anos de viagens pelo Brasil, a vasta cultura humanística que adquiriu,

seu talento como conferencista, a brasilidade profunda que alimentou

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sua vida fizeram de suas palestras um grande evento, momentos de cultura, reflexão,

amor e entendimento do Brasil

Escritor, intelectual, jornalista, pesquisador… é difícil definir Jorge Baleeiro de Lacerda. Ele costumava se auto denominar “estudioso do Brasil”, um título aparentemente simples mas que, da maneira como ele pesquisava, poucos fazem. Por aqui, não se conhece outro. No País, se existirem outros, contam-se nos dedo da mão. Jorge buscava temas e pessoas raras para seus leitores. Ele mesmo se pautava. E dedicava a cada reportagem, ou estudo, o tempo que achava necessário. Percorreu todo o Brasil, de Sul a Norte, de Leste a Oeste, de ônibus, de carro, de barco, a cavalo, a pé, para completar os estudos que ele iniciava com leituras ou informações orais que recebia. Devorador de livros, sabia o que cada autor tinha escrito sobre o local e as pessoas pesquisadas. Também trocava muitas cartas, com pessoas influentes da política, da religião e da intelectualidade brasileira.

Pena ter nos deixado tão cedo, apenas 66 anos (3-3-1950 a 20-9-2016). Nascido em 3 de março de 1950, estaria completando hoje 70 anos. Sua biblioteca continua intacta, preservada pela esposa Sueli Beviláqua de Lacerda e os filhos Lígia e Afonso, mas a perda irreparável foi do conhecimento que ele tinha sobre nosso País e nossa gente. Deixou três livros publicados, formados por artigos que publicou, na impresa brasileira, durante os 41 anos em que residiu em Foz do Iguaçu e, principalmente, em Francisco Beltrão (de 1975 a 2016): Os Dez Brasis e Os Dez Sudoestes I e II. Neste caderno dedicado a seu 70º aniversário de nascimento, há um pouco do que dizem as muitas pessoas que o conheceram pela convivência, por acompanhá-lo em suas viagens de estudos ou simplesmente pela leitura semanal de seus textos.

Mateus Ferreira Leite – Jorge deixou um legado atemporal e incalculável para o Brasil, através das obras “Os Dez Brasis”, “Os Dez Sudoestes”, milhares de publicações jornalísticas, correspondências, palestras e conferências.

Inez Isotom – Escrever sobre Jorge Baleeiro de Lacerda é fazer uma imersão em narrativas reais, mergulhar num Brasil diversificado e procurar entender a magnitude do ser humano. Pág. 2

Sílvia Grando – Num dia em que ele me mostrava com orgulho a própria biblioteca, entre tantas frases citadas por ele, esta ficou registrada em minha memória: “O livro permanece mudo na estante, basta tirá-lo que começa a falar.” Simples assim! Pág. 2

Sílvio Dalcumune – Francisco Beltrão perdeu seu arauto, pois entre outros locais midiáticos, esteve várias vezes no Programa do Jô, Rede Globo, com abrangência nacional, nos quais sempre achava uma brecha para falar o nome e enaltecer nossa cidade. Baleeiro foi um escriba por vocação. Pág. 2

Sueli Silva – Quando trabalhei na Biblioteca Pública Municipal de Francisco Beltrão, Jorge Baleeiro de Lacerda era um dos frequentadores mais assíduos. Escolhia criteriosamente os autores de cujas obras faria leitura e análise literária, que posteriormente fariam parte do conteúdo de seus artigos. Pág. 3

Liliana Lavoratti – Sua luta maior era a defesa do desenvolvimento, da brasilidade, do além-fronteiras, da civilidade. E tudo que tinha a ver com isso não escapava ao seu radar. Desde uma repórter que queria descobrir o mundo além dos limites do interior do Paraná, até você mesmo, com suas viagens pelos rincões mais escondidos em busca de todos os “Brasis” para mostrá-los aos sudoestinos, paranaenses, brasileiros. Pág. 3

Átila de Freitas – Tive o prazer e a honra de ter sido amigo de um dos maiores intelectuais do Paraná, um dos grandes conhecedores da cultura brasileira nos seus múltiplos aspectos, um patriota na acepção mais completa do termo – Jorge Baleeiro de Lacerda. Pág. 4

Alberto Fracasso – De hábito, era nas manhãs de domingo que lia as colunas de Jorge Baleeiro de Lacerda no Jornal de Beltrão, quase sempre um vinho me acompanhava. Jamais troquei palavra com ele. De relance, avistei-o em duas oportunidades, se tanto. Sabia de ouvir falar, tratar-se de sujeito circunspecto, porém espirituoso. Pág. 4

Ivo Santos – A amizade que tive com Jorge Baleeiro de Lacerda se iniciou há 41 anos, e foi marcada por várias passagens engraçadas. Ríamos e nos divertíamos muito. Foi um bom e saudoso tempo. O Jorge me contava sobre suas viagens e experiências com pessoas que ele conhecia nos lugares por onde andava. Pág. 4

 

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A importância de Jorge Baleeiro de Lacerda na Cultura do Sudoeste

Por Mateus Ferreira Leite
Intelectual, ensaísta, viajante, biógrafo, jornalista, pesquisador, fotógrafo, seriam adjetivos falhos para qualificar Jorge Baleeiro de Lacerda. Isso porque não se basta categorizar uma personalidade pelos meios, mas sim pelos fins, que motivaram seu sucesso aqui na Terra. Partindo dessa premissa, costumo dizer que Jorge foi um BRASILEIRO. O maior, talvez, entre nós sudoestinos.
Conheci o Jorge nos idos 1976, quando Francisco Beltrão ganhava seus primeiros cursos superiores, Economia Doméstica e Estudos Sociais, na extinta Facibel. Lá, Jorge era o bibliotecário, e já nos primeiros contatos com ele percebi que se tratava de um homem culto, cujo intelecto trafegava pelos mais variados campos do conhecimento. Sem dificuldades, Jorge tornou-se uma referência cultural e acadêmica na Facibel, orientando e instigando muitos estudantes a buscarem, como ele, o amplo conhecimento.

Paladino da cultura e protetor das Letras, Jorge praticava o mecenato. Assim como herdava livros de grandes personalidades, distribuía-os a muitos. Difícil, às vezes, era entender a pertinência ou a importância daquelas leituras. Com o tempo íamos vendo que se tratavam de temas intertemporais que logo, ou algum dia, estariam em foco, e que Jorge, de alguma forma, já os antevia. Por isso, tenho a honra e o privilégio de ter sido um de seus interlocutores e, ao longo de uma amizade de mais de 40 anos, ter sido presenteado com coleções improváveis, uma enciclopédia. Só quem conheceu Jorge nas letras sabe que foi um homem bem à frente do seu tempo!

Dono de uma personalidade forte e portador de um pessimismo romântico, Jorge granjeou amizades de notáveis escritores, autoridades políticas, religiosas, militares, jurídicas, midiáticas e sociais que, como anfitriões ou guias, recebiam-no para trocar informações, conhecimentos e reflexões, nos mais profundos rincões do Brasil. Para Vilas Boas Correa, um de seus notáveis amigos e correspondentes, Jorge era um “engolidor de léguas e garimpeiro de cultura brasileira”.

Efetivamente, com suas andanças, Jorge atuou como grande difusor das causas indigenista, ecológica, linguística, regionalista, nacionalista, entre outras. Ao passo que, com seu magnetismo natural, conquistava a amizade de notáveis, era também próximo de homens e mulheres simples e sofridos, campesinos, retirantes, índios, seringueiros, pescadores, tropeiros, safristas, estudantes e professores.
Aos olhos de Baleeiro nada passava ileso. O resultado disso foram textos com descrições físicas, psicológicas, culturais, sociais e econômicas de povos, etnias e pessoas. Muitas vezes tais descrições culminaram no registro de heróis ou anti-heróis nacionais que morreriam desconhecidos, não fosse a escrita de Jorge Baleeiro de Lacerda.

Jorge deixou um legado atemporal e incalculável para o Brasil, através das obras “Os Dez Brasis”, “Os Dez Sudoestes I e II”, milhares de publicações jornalísticas, correspondências, palestras e conferências.

Isso fez com que, além da mídia impressa, seu reconhecimento viesse através das telas. Seu gênio marcante e sua abordagem peculiar sobre o Brasil, levou-o diversas vezes ao programa do Jô Soares (que o anunciava como o “vasculhador do Brasil”). Sua influência e cultura lhe deram passe livre para entrevistar e conversar com grandes personalidades, por exemplo, o embaixador Sérgio Corrêa da Costa. Isso sem falar na criação e manutenção de uma biblioteca com mais de dez mil títulos (uma das maiores bibliotecas privadas do Estado do Paraná), fazendo jus ao que dizia Cícero (106-43 a.C.) “Se tiveres uma biblioteca com jardim, terás tudo.”

Por sua incontestável importância e pela imensurável contribuição para o engrandecimento cultural da nossa cidade e região, Jorge é digno de ter seu nome imortalizado de inúmeras formas.
A primeira delas, seria transformando a Rua Guanabara em “Rua Jorge Baleeiro de Lacerda”. Já que, tendo andado o Brasil inteiro, Jorge escolheu essa rua para morar, criar sua família e constituir sua biblioteca. Além disso foi neste “CEP” que Jorge recebeu centenas de correspondências de amigos políticos, militares, embaixadores, historiadores, religiosos e mecenas de todo mundo, tornando-se o morador mais ilustre da atual Rua Guanabara. Além disso, quem conhece sua obra, sabe que Jorge reiterava a importância de imortalizar personalidades nacionais ou regionais, através de “nomes de rua”. Portanto cabe a nós cumprirmos o seu desejo.

A segunda forma de perenizar o legado de Jorge seria através da criação do “Instituto Cultural Jorge Baleeiro de Lacerda” o qual, gravitaria em torno do sólido e inigualável acervo bibliográfico que constitui a “Parva Domus”, em Francisco Beltrão. Com a criação de tal Instituto, estaríamos dando continuidade aos ensinamentos propagados por Jorge durante toda sua caminhada, e constituindo uma plataforma de inspiração para pesquisadores, escritores, estudiosos, jornalistas, intelectuais, estudantes, fotógrafos, colecionadores, de todo o Brasil.

Por fim, não resta dúvidas acerca da importância de Jorge para a Cultura no Sudoeste. Prova disso é que, quando se fala sobre ele, somos obrigados a utilizar a figura retórica da enumeração, citando tantas áreas do conhecimento, regiões, pessoas, culturas, etc. Afinal de contas, isso simboliza o que foi Jorge: um homem no plural. Por isso, na qualidade de amigo, padrinho de casamento e admirador da obra, espero que todo esse legado seja devidamente protegido, catalogado e potencializado, para que possa, de alguma forma, continuar difundindo as ciências e os valores estimados em vida pelo nosso ilustre e digno patrono do Sudoeste do Paraná, Jorge Baleeiro de Lacerda.

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