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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Hospital São Francisco vai se descredenciar do SUS

Direção alega inviabilidade operacional e falta de ?proposta realmente decente”

 

 Dr. Eduardo Toshimitsu, diretor geral do HSF, lê o comunicado do Conselho de Administração durante a entrevista coletiva de ontem, junto com a diretora financeira Páscoa Minussi.

 

A direção do Hospital São Francisco, de Francisco Beltrão, anunciou oficialmente na tarde de ontem, em entrevista coletiva à imprensa, que dará início ao processo de descredenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS). A possibilidade de fechamento das portas para o SUS já havia sido abordada no ano passado, mas foi decidida pelos sócios do hospital em assembleia geral extraordinária na noite de segunda-feira, 5.

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O médico Eduardo Toshimitsu, diretor-geral, foi quem deu a notícia, acompanhado da diretora financeira Páscoa Minussi e da coordenadora de enfermagem Izolde Bággio, além dos assessores jurídicos Rodrigo Crippa e Liliane Gruhn. Ele revelou que a situação já estava sendo discutida há mais de dois anos e que já não havia mais viabilidade operacional para continuar os atendimentos. “A saúde pública, de um modo geral, está bastante complicada em todo o Brasil. Vemos hospital se descredenciando em várias cidades. Os gestores sabem o quanto é difícil o privado dar assistência ao SUS. Para evitar problemas mais graves que estamos tomando esta decisão. Não culpo apenas o município, a situação é difícil em todo o país”, disse o diretor geral.

Durante a coletiva, dr. Toshimitsu leu uma nota oficial do Conselho de Administração, que citava a dificuldade de negociação com os gestores. “Apesar das várias tentativas de negociar com os gestores do SUS, e ampliar recursos que fossem suficientes para suprir os custos, mas infelizmente os valores são repassados, alguns inclusive atrasados em meses, e não dão a sustentabilidade necessária. Além de tudo, há uma responsabilidade civil muito grande que envolve a atividade por tamanha exposição e risco a uma carga tributária onerosa.”

Rose Mari Guarda, secretária de Saúde,
disse que população não ficará sem assistência.

 

População terá assistência, diz médico

O diretor frisou, por diversas vezes, que o objetivo do hospital não é prejudicar a população e muito menos deixá-la sem assistência. “A população não ficará desassistida, os gestores vão articular como será feito. O prazo é de seis meses, e neste período os atendimentos continuarão ocorrendo, da mesma forma que sempre foi feito. A partir do término do prazo, o Hospital São Francisco atenderá apenas de maneira privada e convênios”, declarou.

Dr. Toshimitsu alegou que o principal agravante da defasagem orçamentária seria a tabela SUS nacional, que não é atualizada há 15 anos, mas ele também lamenta a ausência de “uma proposta realmente decente” por parte dos gestores. “Sempre se resolvem alguns problemas pontuais, mas o Ministério da Saúde não revê a tabela, que no meu ver seria a solução para equiparar as necessidades. Se vocês vissem os valores que recebemos dariam risada. Não adianta resolver isso politicamente. Os gestores precisam sentar e discutir, trazer uma proposta realmente decente para que possamos avaliar”, relatou o diretor geral.

Apesar de concordar com a decisão e queixar-se da dificuldade de negociação com os gestores, Eduardo Toshimitsu disse lamentar da situação. “A sensação é de muita tristeza, indignação, sentimento de não dever cumprido diante de tudo isso que está acontecendo. Sentimos muito, porque estamos há 30 anos atendendo os usuários do SUS e agora temos que dar início a este processo”, desabafou.

 

Mil atendimentos

 por mês

Em atividade desde 1963, o Hospital São Francisco tem como mantenedora a Sociedade Hospitalar Beltronense. Atualmente, aproximadamente 1.000 atendimentos são realizados por mês pelo Sistema Único de Saúde, além de 500 internamentos mensais. A equipe de profissionais conta com 160 colaboradores nas diversas áreas e 70 médicos que prestam atendimentos.

 

Repasses de R$ 500

mil mensais

Ontem à tarde, a secretária municipal de Saúde Rose Mari Guarda ainda não havia sido oficialmente notificada pelo hospital sobre a decisão. Contudo, ela garantiu que a população não ficará sem assistência. “O que precisamos frisar é que haja tranquilidade, que a população será assistida, ou no HSF ou qualquer outro local. Com relação ao prestador, é uma empresa, presta serviços e objetivamente visa lucros. É uma opção deles não atender pelo SUS”, comenta.

A secretária informou que, atualmente, o município de Francisco Beltrão faz o repasse de R$ 2 per capita por mês, totalizando R$ 160 mil mensais. O hospital ainda recebe o repasse do Governo do Estado e também dos outros 27 municípios da região que possuem contratos. “Quando assumimos a administração, o repasse era de R$ 0,60. Elevamos para R$ 1,20 e agora para R$ 2. Os demais municípios repassam R$ 0,60 per capita. Mas com estes repasses, o hospital recebe mais de R$ 500 mil por mês. Isso apenas para receber o usuário, porque tudo o que for realizado, exames, tomografias, raios-X, tudo que realizar é pago conforme a tabela SUS. Acredito que a atitude de descredenciamento foi extrema”, comenta.

 

Conselho de Saúde

vai aguardar

Ozório Borges Neto, presidente do Conselho Municipal de Saúde, em entrevista à Onda Sul FM, disse que ainda não havia sido notificado oficialmente sobre a decisão, mas classificou a situação como “bastante preocupante”.

“A região toda é afetada. A gente sabe que o HR não é essa a função dele. Ele não pode atender somente Beltrão. Então, ele não pode suprir essa função que o Hospital São Francisco faz hoje. Vamos aguardar a posição e ver qual a proposta que a secretária e o prefeito Neto apresentam ao conselho pra que a gente possa estar discutindo”, disse.

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