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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Irmão Cirilo conta por que os lassalistas foram para Pato Branco

“Não estava, assim, em vista dos superiores mudar para Pato Branco.”

1995: Prefeito João Arruda e vereadora Luciana Rafagnin entregam o título de Cidadão Honorário ao Irmão Cirilo.

Vunibaldo Körbes (30-8-1923 a 26-6-1996) era o Irmão Cirilo, aquele que trabalhava pelas vocações. Mesmo depois que fechou o Ginásio La Salle, ele continuou seu trabalho, através do Centro Vocacional La Salle, até sua morte, aos 72 anos.

Em junho de 1995, ele recebeu o título de cidadão honorário de Francisco Beltrão. Naquele mês, a revista Gente do Sul publicou uma entrevista com ele. A revista buscava as perguntas com pessoas que conheciam o entrevistado. Ele também se destacou como grande propagador, principalmente entre as famílias mais carentes, das ervas medicinais, através de um livro que até hoje é o mais vendido em todo do Sudoeste do Paraná.

Seguem alguns trechos da entrevista.

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Edgar Scotti, prefeito de Nova Prata do Iguaçu e ex-aluno do Colégio La Salle – Qual a recordação do seu tempo de magistério no Colégio La Salle?

Irmão Cirilo – Recordações eu tenho de turmas que vieram e eram bem entusiastas. Logo no começo, criaram um espírito de verdadeiro amor ao colégio, não somente para o estudo, mas também para se interessar pelo bem da própria escola e dos colegas. Depois que começaram a organizar a banda para os desfiles e apresentações, daí cada vez mais se criou entusiasmo. E a gente incentivou para que eles criassem verdadeiro amor ao colégio, zelassem por ele, para que pudesse ser que nem uma família, que eles se sentissem bem em casa, com seus professores. Claro que os professores eram bastante exigentes com os alunos, no cumprimento dos deveres. No começo, não era fácil para quem não estava acostumado. Mas hoje a gente sabe que eles também gostavam de ter uma disciplina, porque tiraram grande proveito para a formação de caráter e cultura.

Vilmar Cordasso, vice-prefeito de Francisco Beltrão e ex-aluno do Colégio La Salle – Quem teria falhado por Francisco Beltrão perder o Colégio La Salle para Pato Branco?

(pausa) A ida de um grupo de irmãos para Pato Branco não foi para deixar Francisco Beltrão. Não estava, assim, em vista dos superiores mudar para Pato Branco. Mas aqui surgiram diversos problemas referentes à construção do novo colégio. Para os irmãos, houve falhas e depois, com a desvalorização, sobretudo, da moeda, todas as coisas arrecadadas, principalmente em dinheiro, foram insuficientes para começar a construção. Esse foi um dos motivos que aqui se pensou de outra maneira, futuramente. O que não era possível alcançar, não se podia desejar. Apesar que muitas pessoas pensavam que nós podíamos realizar aqui em Beltrão milagres, mas sem ter uma escola própria. Os irmãos foram até muito dedicados com a cidade, porque esperaram dez anos para que a construção acontecesse. Já que a primeira construção fracassou, num erro do construtor, e não de outras pessoas. Não se cobrou dele, se levou avante e os passos adiante foram dados vagarosamente. Por isso que não se conseguiu construir. Depois, houve também algumas desistências de irmãos. Não podendo mais ficar naquele edifício que tinha sido alugado e cedido pelo Estado para os irmãos, criou-se uma porção de dificuldades. Os irmãos até compraram duas casas para poder continuar, mas não foi possível continuar o colégio. Daí os irmãos resolveram passar os alunos para o colégio das irmãs (Colégio Nossa Senhora da Glória), e os irmãos que ficaram continuaram lecionando. De maneira que os irmãos terem ido para Pato Branco não foi o fator principal do fechamento do colégio. Nós continuamos ainda aqui com a Casa de Formação e Juvenato, desde aquele tempo. A prova sou eu, que estou aí como testemunha destes 30 anos de não ter saído de Francisco Beltrão.

Vilmar Cordasso – Então Pato Branco ofereceu melhores condições?

Houve uma melhor organização da paróquia, que talvez aqui houve algumas falhas ou demoras, que não se construiu aqui o colégio. Mas lá a paróquia e o povo assumiram e as condições estabelecidas pelo irmão superior de São Paulo foram realizadas. O superior disse assim: ‘Pato Branco terá o colégio’. O frei Sérgio e as comissões conseguiram realizar e os irmãos foram a Pato Branco. O diretor (Irmão Albano) daqui foi para Pato Branco, mas outro diretor veio continuar a obra.

Jair Freitas Júnior, ex-aluno do Colégio La Salle – Por que na época as autoridades não falaram dos motivos da saída do colégio La Salle de Francisco Beltrão?

Houve reuniões entre a Igreja e também a Prefeitura para chegar a essas decisões. Como eles viram que não era possível continuar dessa maneira, deixaram por isso. Hoje em dia, sabemos bem que os dois colégios particulares (ligados à Igreja Católica) não seriam possíveis de manter em Francisco Beltrão. As irmãs e os irmãos, um ao lado do outro, não teriam alunos suficientes para se manter. Esse foi um dos motivos também do abandono da ideia da construção do futuro colégio.

Valdemar Mazzon, ex-aluno do Colégio Marista e comerciante em Francisco Beltrão – Quando o senhor iniciou o recrutamento aqui no Sudoeste, a locomoção era através de um jipe e depois de uma Rural. Que dificuldades encontrava, já que não havia boas estradas e o senhor tinha que visitar as casas para recrutar juvenistas?

Realmente, no começo das minhas visitas às famílias e escolas foi bastante penoso. No período de vários anos a gente gastou dois jipes. Nos primeiros anos também sofri sérios acidentes, mas não me afetaram tanto quanto o último, há dois anos, em Dois Vizinhos. Mas a gente veio como jovem irmão há 30 anos, bem moço, disposto a enfrentar tudo. Como a situação era geral, a gente também aceitava o que vinha, com as estradas difíceis. Hoje se leva uma hora, naquele tempo se levava meio-dia para fazer a viagem. Mas tudo isso a gente aceitou com muita alegria, porque tinha um ideal na vida. E o sofrimento, no fim, era um prazer, porque a gente tinha também bons resultados: encontrar jovens para participar com a missão dos irmãos lassalistas. Graças a Deus, nunca tive um problema maior de saúde referente a isso, que nem meu colega Irmão Cláudio, que começou a sofrer da coluna por causa das estradas. O jipe dificultava a locomoção. Ele teve que largar o trabalho.

Jacir Walter, repórter fotógrafo do Jornal de Beltrão e da Revista Gente do Sul – O senhor procurava alunos de que cursos?

Naquele tempo, não existiam quase ginásios nos municípios. Eram quase todas escolas primárias. A gente visitava as escolas primárias e os jovens até o 4º ano primário, combinava com os pais para eles poderem entrar no Juvenato e realizar seus estudos de 1º grau completo. Foi uma grande coisa pra ajudar os jovens que não tinham recursos para frequentar uma escola além do 4º ano primário.

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