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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Jornalista Juliam Nazaré, do JdeB, já leu todos os 37 livros de Jorge Amado

Ele é uma das poucas pessoas do mundo a possuir o livro “O Mundo da Paz”, de 1951.

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Por Leandra Francischett – Com apenas 23 anos de idade, o jornalista Juliam Nazaré já leu os 37 livros publicados por Jorge Amado (1912-2001), além dos dez livros de sua esposa, Zélia Gattai (1916-2008). Ele fez questão de adquirir todas essas obras. “Jorge é baiano de Itabuna e, pra mim, é uma referência de vida, pois também foi jornalista. Jorge, desde a publicação do primeiro livro já era reconhecido, mas teve uma vida muito difícil, aventurosa, foi preso, se exilou na Argentina, Uruguai, França e, financeiramente, só começou a ter uma vida mais abastada a partir dos anos 1960.”

Juliam Nazaré usa uma “camisa de Jorge Amado”, comprada na Casa do Rio Vermelho, em Salvador (BA). Foto: Neto Cajaíba.

Jorge Amado é um dos escritores brasileiros mais populares, pois facilmente se conhece um ou outro personagem criado por ele. “O sucesso na literatura fez com que as histórias ganhassem o cinema, a televisão. Meu primeiro contato foi através da novela Tieta, produzida pela Globo em 1990. Eu a assisti em 2013. Em 2020 me joguei de cabeça nos livros, motivado pela necessidade de aperfeiçoar meus dotes jornalísticos. Fui abocanhando tudo o que encontrava de Jorge e Zélia.”

Livro raro

Juliam, inclusive, é uma das poucas pessoas do mundo a possuir o livro “O Mundo da Paz”. “A obra foi publicada em 1951, quando Jorge e Zélia estavam exilados na Tchecoslováquia. Até 1954, a obra de Jorge teve engajamento de esquerda – ele era militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e chegou a ser preso várias vezes durante o Estado Novo. Em 1945, com o fim da Era Vargas e a volta das eleições diretas, Jorge é eleito deputado federal.”

Juliam relata que, em 1948, o PCB voltou a ser colocado na ilegalidade e todos os seus parlamentares tiveram o mandato cassado. Prevendo nova prisão, Jorge se auto exila em Paris e depois na Tchecoslováquia. “Dali, inicia uma série de viagens pelas nações comunistas da União Soviética e pela China. ‘O Mundo da Paz’ foi escrito nesse período e é uma série de impressões sobre o que viu, só que potencializando os aspectos positivos e ocultando as coisas ruins do regime. Quando o livro chegou ao Brasil, Jorge chegou a ser indiciado na Lei de Segurança Nacional, mas o processo não foi para frente.”

A obra teve cinco edições, até 1953, quando Jorge, reconhecendo-a ruim, proibiu novas edições. Os volumes existentes, portanto, datam de 1949 até 1953. Juliam conseguiu o seu, em ótimo estado, numa livraria de Lisboa-Portugal.

Conversa com a filha de Jorge

Juliam esteve na Casa do Rio Vermelho, em Salvador, residência de Jorge Amado e Zélia Gattai por 40 anos. A viagem foi no fim de 2021. No início do ano, Paloma, filha de Jorge e Zélia, enviou-lhe um áudio, como retribuição à admiração por seus pais. “A Casa do Rio Vermelho foi comprada com o dinheiro recebido pela venda dos direitos de filmagem para o cinema de ‘Gabriela Cravo e Canela’. O casal viveu por lá de 1963 até 2001, quando Jorge morreu. Hoje, é aberta para visitação, pode-se entrar em todos os cômodos e ver os pertences dos escritores, que estão preservados. Visitei também a Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho. O local é responsável por cuidar da obra literária de Jorge e Zélia. Foi fundada em 1987 e através dele ocorreu a reforma de todo o Pelourinho, que estava abandonado, com os casarões deteriorando e hoje tornou-se uma referência do turismo nacional.”

Juliam Nazaré com as estátuas de Jorge e Zélia, no Largo de Sant’Ana, bairro do Rio Vermelho, Salvador. Foto:. Arquivo pessoal

Sua ida a Salvador teve como principal motivo ver os locais em que Jorge viveu e criou sua obra. O jornalista, natural de Laranjeiras do Sul, ressalta um aspecto de Jorge: apesar de ser aclamado como romancista, sua obra não se resume ao gênero. Jorge chegou a publicar um guia turístico sobre Salvador (Bahia de todos-os-santos), que Juliam leu antes de ir para Salvador, além de biografias, contos, histórias infantis e até peça de teatro.

“A obra de Jorge se divide em duas partes: a engajada, que vai de 1931 até 1954. Membro do PCB, ele escrevia em prol da ideologia comunista. Ao tomar conhecimento das atrocidades de Stálin, líder supremo da URSS, desliga-se do ‘partidão’ e a partir daí seus livros deixam de ter militância e começam a ser pautados por mestiçagem, sincretismo religioso e valorização do regionalismo nordestino. A obra que inaugura essa fase é ‘Gabriela Cravo e Canela’, em 1958.”

Poeta dos anônimos

Juliam destaca que Jorge Amado era considerado o poeta de vagabundos e mulheres de programa. “Seus romances tinham personagens de carne e osso, gente do povo. Os heróis e heroínas das histórias são pessoas falhas, por vezes vão na contramão do padrão da sociedade.” Esse foi um dos fatores que tanto chamam sua atenção para este autor, aclamado por uns, renegado por outros.

Juliam Nazaré cultiva acervo de obras de Jorge Amado. Foto: Albero Júnior

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