
Por Leandro Czerniaski – A pioneira Delma Cadore Dall’Agnese nasceu em Palmeira das Missões (RS). Mas se considera uma autêntica filha de Francisco Beltrão: chegou à então Vila Marrecas em 1950, com apenas um ano, e aqui construiu sua vida profissional e familiar. Tem uma relação especial com o Bairro Cango, onde mora há 66 anos.
Quando os pais e tios da dona Delma vieram do Rio Grande, compraram uma área de terras próximo ao atual trevo da Cattani, onde hoje é boa parte do Bairro São Cristóvão. Por ali ficaram por cerca de seis anos, até que seu pai, David Cadore, comprou o terreno na Cango, de frente para a avenida General Osório, e ali montou uma oficina de bicicletas. “Eu estudava no Suplicy, tinha sete anos, e vinha lá da região da Água Branca trazer a marmita pro pai.”
Delma recorda que, em dias de muita chuva, o Rio Marrecas encobria a ponte e era preciso passar com ajuda dos militares do Exército, que faziam a travessia com toras que flutuavam sobre as águas. Em menos de um ano, David construiu a casa e trouxe a família para morar junto. Depois, um prédio de madeira e, quando vendeu a bicicletaria, ergueu um prédio de alvenaria e montou a subrodoviária.
Nessa época, dona Delma estava com 14 anos, já tinha feito curso de corte e costura e ajudado o pai e irmãos a construir as duas edificações. Foi, então, trabalhar na venda de passagens, que não era pouca. “Teve anos que ganhei prêmios das empresas de ônibus por ser a que mais vendia passagem, mais do que na rodoviária principal, inclusive.”
Ela recorda, ainda, que onde hoje é a praça dos pioneiros, em frente ao Incra, existia um cercado para manter animais de caça que seriam abatidos. Outra lembrança é do episódio em que pessoas começaram a construir casas e ocupar parte do Morro do Calvário, o que foi impedido pelas autoridades.
Colégio impulsionou o Bairro
Um dos empreendimentos que ajudou a impulsionar o desenvolvimento do Bairro foi a instalação do Instituto Nossa Senhora da Glória, em 1956. “O colégio das irmãs puxou bastante coisa pra cá. Veio um hotel grande, do Bondan, o posto do Antoninho [Montemezzo], mais moradores, comércio e isso foi movimentando mais. Isso aqui era o centro da cidade”, conta.
Ainda hoje dona Delma reside no mesmo local onde o pai montou a bicicletaria. Ela casou com Sady Dall’Agnese (em memória) e teve quatro filhos. A família também se dedicou à fabricação de fogões, negócios que acabou se tornando loja de materiais de construção – a Fopar, administrada pelo filho, Leandro. A aposentada gosta de viver na Cango e quer ver mais melhorias no bairro, principalmente em ruas, calçadas e na manutenção do Morro do Calvário.