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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Na pandemia, muitos idosos sofrem com abandono afetivo da família

Secretaria de Assistência Social inicia visitações nas casas para reforçar vínculos.

Agora é o momento do idoso ficar em casa e descobrir novas atividades, como escrever, dançar, ouvir música, bordar e pintar, sem sair do lar. O alerta é da coordenadora dos grupos de idosos de Francisco Beltrão, Lucélia Bortot Rama: “A família precisa ter o entendimento de ajudar o idoso, como pagar contas ou levá-lo ao banco em horários diferenciados. É preciso criar uma nova rotina. Hora dos familiares retribuírem ao idoso a preocupação que eles tiveram, porque este é o principal grupo de risco”.
Além do isolamento social, muitos idosos sofrem com o abandono afetivo da família. Quarta-feira, a Secretaria Municipal de Assistência Social iniciou a visitação nas casas, sendo que há 50 grupos de idosos em Beltrão e 4.400 pessoas cadastradas. Como não é possível realizar os eventos semanais, o serviço de Fortalecimento de Vínculos, mantido pela Assistência Social, iniciou o projeto de visitação, com a participação de uma psicóloga, uma educadora social e uma assistente social. Além disso, há o constante contato telefônico e pelas redes sociais, como WhatsApp e Facebook. “Também incentivamos os coordenadores dos grupos a auxiliarem os idosos a fazer o WhatsApp pra manter a interação virtual.”

Atendimentos
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos faz os atendimentos em grupos etários promovendo a prevenção de situações de vulnerabilidade ou risco social, visando garantir o direito de uma convivência pessoal, familiar e social saudável para somar as escolhas que promovem qualidade de vida à pessoa idosa que reside no município. Diante da Pandemia pelo coronavírus, foi intensificado o contato via telefone, redes sociais e neste momento foram iniciadas as visitas, tomando todas as medidas preventivas necessárias.

Ouvir as pessoas
A princípio serão duas visitas por semana, mas esse número pode aumentar. O objetivo é ouvi-los e manter o vínculo. Segundo Lucélia, a principal reclamação deles é não poder sair de casa, enquanto outros têm medo de sair e há aqueles que não demonstram preocupação. “Os idosos já não têm a mesma qualidade de vida e muitas famílias não acolhem como deveriam”, lamenta Lucélia.
O único encontro presencial deste ano aconteceu dia 4 de fevereiro, no Centro de Eventos Marabá, e reuniu os 50 grupos de idosos, totalizando mais de 3.500 participantes, com a presença do humorista Badin, o Colono.

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Solidão e saúde mental
“Se você tiver um familiar idoso, mantenha contatos virtuais continuados. Isolamento não é sinônimo de relações cortadas, ao contrário, é sinal de amor e cuidado”, ressalta a psicóloga Franciele Schmitz. Ela acrescenta que, apesar de a solidão ser sentida por todos, é única a cada um. “Não tem uma causa específica comum, por isso as prevenções e os tratamentos para este estado de espírito variam bastante de pessoa para pessoa. Uma criança querendo socializar tem necessidades diferentes a um homem idoso solitário que perdeu a esposa e presencia uma pandemia. Teóricos defendem a ideia que a solidão não é sobre estar sozinho, mas é a percepção de estar sozinho e isolado. É como se sentir sozinho numa sala cheia de gente.”
De acordo com Franciele, em se tratando de envelhecimento, existem estudos que apontam um risco aumentado para depressão em torno de 40%. Esse aumento ocorre porque, no geral, as pessoas têm medo do que vem pela frente e, especialmente, pelo medo da solidão.
Ela apresenta algumas recomendações para superar a solidão em tempos de pandemia: “Permita-se olhar para dentro de si e entender que a solidão é um sinal de que algo precisa ser mudado; realize atividade física, porque ela auxilia no controle do fluxo de pensamentos e limpa a mente; permita-se aprender algo novo, o que gera autoconfiança e autoestima; esteja em contato virtual (quando possível, de forma presencial) com pessoas que partilham atitudes, interesses e valores semelhantes aos seus; e espere sempre o melhor, uma vez que pensamentos e atitudes positivas geram o sentimento de aceitação, necessário para se viver bem em qualquer idade”.

 

Como perceber sinais de ansiedade?
Júlio César de Lima, psicólogo, responde: “Os idosos que apresentam ansiedade também, frequentemente, apresentaram depressão e desesperança em alguma intensidade. Este dado é importante, pois tendemos a não relacionar ansiedade e depressão, especialmente em idosos. A menor satisfação com a vida e ao pior padrão de qualidade de vida são comuns em idosos com ansiedade”.

Júlio observa que é preciso tomar cuidado com os idosos que moram sozinhos, pois estes apresentam grande possibilidade de declínio quanto a sua saúde, dificultando até a auto percepção de suas necessidades de modo geral. Em tempo de pandemia, a privação ou isolamento social pode agravar os sintomas.

“De modo geral, os sintomas não são tão distintos daqueles da idade adulta, por isso é imprescindível observar as condições e o contexto de cada pessoa idosa. Os sinais de comportamento suicida podem incluir o isolamento, distanciamento dos familiares e deixar de fazer coisas que gostava. Isso certamente é difícil de avaliar em uma quarentena, já que inevitavelmente eles necessitam se isolar. Os familiares devem observar cuidadosamente as mudanças repentinas de humor e da perca de interesse por hábitos ou atividades. A pessoa pode relatar que não está contente com a vida, que tem se sentido desanimado, ou que as coisas perderam sentido. Se isso acontecer, dê atenção e cuidado”, disse Júlio.

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