Um simples lacre de lata pode gerar mobilidade. Campanha recebe cada vez mais adesão.

Professora Ediane, diretora da Escola Maria Helena Vandresen, com os alunos Lucas Gabriel e Ana Júlia. Envolvimento com o projeto Eu ajudo na lata.
Fotos: Niomar Pereira/JdeB
Quantas vezes nos deparamos com lacres de latinhas de alumínio jogados pelas ruas, praças e parques? Se ninguém recolher continuarão no meio ambiente por um longo período, pois não há uma previsão correta de quanto tempo demoram para se decompor, uma vez que o alumínio não se corrói, ao contrário do aço e do ferro.
Pensando em reverter estes impactos no meio ambiente e também criar uma campanha de amplo alcance social, a Unimed Brasil lançou, em 2013, o projeto “Eu Ajudo Na Lata”. O objetivo é arrecadar os lacres, muitas vezes dispersos na natureza, vender e converter os valores em itens de acessibilidade que são doados para entidades assistenciais.
Até 2018, a Unimed Brasil, com parceria de suas cooperativas singulares, reuniu 220.539.783 lacres, pesando 62.529 quilos, usados para comprar 766 equipamentos de acessibilidade, principalmente cadeiras de rodas.
Em Francisco Beltrão, no ano passado, a Unimed e os parceiros locais arrecadaram 192 quilos, como cada quilo equivale a 3.527 unidades, o total foi superior a 670 mil lacres. O material foi vendido por R$ 4,00/kg e com o dinheiro a Unimed comprou duas cadeiras de rodas, doadas para o Rotary Clube Cidade Norte e a Apae (Associação de Pais e Amigos do Excepcional). “Somos uma cooperativa e exatamente por trabalhar com este modelo de negócio, sabemos do poder da união em prol de um objetivo. A campanha Eu Ajudo na Lata tem esse espírito”, informa o site nacional da campanha. Silvio Araújo, do Rotary Cidade Norte, diz que a cadeira de rodas integrou o banco ortopédico da entidade. Os itens são emprestados para famílias carentes da comunidade. Na Apae, passou a atender os alunos da instituição.

Valores que o cooperativismo preserva
A médica Wemilda Fregonese Feltrin, presidente da Unimed Francisco Beltrão, enaltece a importância da campanha, lembrando que a iniciativa de aderir ao “Eu Ajudo na Lata” partiu da equipe de colaboradores da cooperativa com apoio da diretoria. Segundo ela, muitas escolas estão inseridas no projeto, assim como os beneficiários da Unimed, que com frequência vão até a cooperativa entregar os lacres. “É uma campanha que mostra exatamente qual a importância da colaboração, da cooperação, da responsabilidade socioambiental que as cooperativas preservam”, destaca.
Ajudar, mas sem tirar o “ganha-pão” de ninguém
Embora as latinhas de alumínios sejam recolhidas pelos catadores de materiais recicláveis, os lacres – separados do corpo da lata – nem sempre recebem a mesma atenção. Em 2017, o Brasil reciclou 280 mil toneladas de latas de alumínio para bebidas. O índice de reciclagem deste produto atingiu 97,7%. Os dados são da Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas).
Mas por que recolher o lacre e não a latinha? Ariel Luiz Bilhan, coordenador do comitê da campanha Eu Ajudo na Lata da Unimed Francisco Beltrão, diz que a cooperativa não quer atrapalhar o serviço dos catadores de materiais recicláveis, que têm nas latinhas uma das principais fontes de renda. “Já o lacre, não faz tanta diferença, além disso, muitas vezes está jogado por aí sem ninguém que o recolha.”
Neste ano, a Unimed envolveu mais escolas municipais, universidades e entidades como parceiros. Qualquer pessoa pode doar, basta guardar e levar até os pontos de coleta. Um deles, na própria sede da Unimed, na Avenida Júlio Assis Cavalheiro, centro de Francisco Beltrão. “Quando eu era jovem gostava de ajuntar e guardar estes lacres, cheguei a reunir duas garrafas pet cheias, por isso a importância de envolver as crianças no projeto”, recorda Ariel.
Guardar lacres vira um hábito
A diretora da Escola Municipal Professora Maria Helena Vandresen, Ediane Lazarotto de Araújo, conta que a campanha é tão envolvente que guardar os lacres se torna um hábito. “Se a gente vai num evento eu não consigo mais ver uma latinha sem tirar o lacre. Várias vezes encontrei lacres nos bolsos das calças do meu marido na hora de lavar a roupa.” O estabelecimento de ensino no ano passado foi o campeão em arrecadação de lacres. Alunos e professores reuniram 180 garrafas pet cheias, suficiente para comprar uma cadeira de rodas. Em 2019, novamente toda a comunidade escolar está envolvida. “Os pais nos contam que as crianças guardam em casa e quando saem e veem um lacre na rua correm pegar.” Na edição passada, a turma que mais arrecadou na escola ganhou uma tarde recreativa no Sesc.
A diretora comenta ainda que foi feito todo um trabalho educativo com os alunos. “Queríamos mostrar a importância da cadeira de rodas pra eles verem o resultado do trabalho deles. Além de termos um aluno cadeirante, no ano passado em uma das apresentações culturais da escola havia um artista que era cadeirante. E entenderem o quanto é importante a cadeira de rodas como um equipamento de mobilidade.”
As crianças aprendem a cooperar desde pequenas
Ana Júlia Navarini, 9 anos, sabe que recolher sozinha os lacres de latinhas espalhados por aí seria uma missão difícil, mas com a cooperação de mais pessoas, a tarefa fica fácil. “Eu pedi para minha dinda (madrinha) e minha tia me ajudar. Lá perto onde eu moro tem uma casa de bailes e eu sempre vou lá ajuntar os lacres jogados pela rua.” A garotinha já acumulou duas garrafas pets cheias e levou para a escola.
Lucas Gabriel Simoni, 9 anos, reside na comunidade de São João, interior de Francisco Beltrão, e perto da casa dele há um bar. O menino pediu para o proprietário sempre guardar os lacres das latinhas vendidas aos clientes. Além disso, quando ocorrem as festas na comunidade, Gabriel e seus familiares e amigos recolhem todos os lacres que encontram. Ele também já encheu duas garrafas. Ambos são alunos do 4º ano da Escola Profa. Maria Helena Vandresen. Os dois dizem que gostam do que fazem, porque sabem que estão ajudando outras pessoas.
