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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Nenhuma é a falta, mas nunca faltamos

Beltrão

Queríamos muitas, queríamos tantas.
Debatemos, decidimos: ouviríamos sua diversidade. Sem obrigação, como a boa democracia nos ensina, agrupamo-nos num outro canto do aplicativo. Entra uma, insere outra, manda o convite, vem um vídeo, uma imagem, uma lista de propostas. Conhecemos mulheres, histórias, suas políticas cotidianas e a verdade com que constroem a cidade que não elegeu nem uma.

Nenhuma.
Fiquei um tempo pensando quais os pensamentos das corajosas algumas que enfrentaram o pleito, ergueram o peito, disseram: lugar de mulher é onde ela quiser!
Fiquei um tempo pensando quais os pensamentos das nossas ávidas “mulheres do Leia”, como amorosamente me refiro às conhecidas e às por conhecer que leem as palavras, os livros e as poesias… leem o mundo, a política e suas injustiças… e que estão no grupo, que estavam nos grupos!
Fiquei um tempo pensando também os meus pensamentos que doíam, que martelavam: nem uma, nem uma, nem uma.
Nenhuma é a falta. Mas nunca faltamos. Nunca inexistimos. Do cordão que conduz à possibilidade da vida ao prato posto às mesas do almoço e do jantar, do peito ao chão limpo em que pisam. Em todo o trabalho invisibilizado, não pago, escondido nos cuidados arrancados à força.
Nunca faltamos nos empregos mal remunerados, nos assédios que sofremos, nos pés que criam bolhas em sapatos que querem dizer “permaneça nesse lugar”. Nunca inexistimos como professoras, como enfermeiras, como lavadeiras, como engenheiras, como médicas, como cozinheiras, como cuidadoras, como vendedoras, como quem somos e como quem faz o que fazemos. E não faltamos ao nosso lugar político de dizer que existimos e resistimos.
Se nenhuma mulher ocupa a cadeira de legislar, algumas, muitas, tantas, todas farão a política cotidiana da luta pelos direitos que ainda são negados ou que querem nos negar. Algumas, muitas, tantas, todas estarão atentas e atuantes, nas plenárias e nas redes, nas praças e nos bairros. Algumas, muitas, tantas, todas ousaremos ser muito mais que uma!

Mayara Yamanoe, mediadora do Leia Mulheres de Francisco Beltrão.

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