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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

O drama dos moradores do bairro São Francisco

 

Volmir e Adiles e atrás a casa que teve muitos danos com a tempestade de segunda-feira, 13.

 

Os moradores do bairro São Francisco não esquecerão do fim da tarde de segunda-feira, 13, quando um tornado atingiu a comunidade e fez muitos estragos em telhados das casas, móveis e utensílios.
Sexta-feira, o JdeB voltou ao bairro para ouvir alguns moradores sobre os prejuízos e o que faziam antes da chegada do tornado.

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Ivete de Oliveira dos Santos 
Ela tem 28 anos e mora da rua Tabajara, no bairro São Francisco. Ivete vive numa casa de esquina com a amiga Joice Teles e quatro filhos, de 11, 9, 6 e 3 anos de idade. Na hora da tempestade, Ivete e Joice estavam em casa, junto com as crianças de 9 e 6 anos. Os outros dois filhos estavam na casa da mãe de Ivete, que mora no mesmo bairro, mas teve apenas pequenos danos na casa. Ela relata o que viu e sentiu:
“Minhas filhas estavam tomando banho, quando deu um estouro e faltou luz. Eram umas 19h30. Eu corri buscar elas no chuveiro, porque já estavam assustadas. Quando saímos do banheiro, escutei outro estouro e o vento já arrancou a maior parte da cobertura da casa. Joguei as duas no quarto, junto com a minha amiga, e fiquei segurando a porta da frente. O vento já estava me arrastando e caía pedaço de tijolo, pedaço de telha e de forro tudo em cima de mim. Só Deus sabe o que passamos, parecia que estava caindo um avião aqui. Não tinha o que fazer, eu só pedia a Deus que não machucasse ninguém. Da cobertura da minha casa não sobrou nada, arrancou o portão e jogou do outro lado da rua, derrubou o muro. Acho que foram poucos minutos tudo isso. Depois que o vento passou, começou a chuva e nós começamos cobrir as coisas, mas já estava tudo detonado. A primeira atitude, quando a coisa acalmou, foi ver se as meninas estavam bem, se ninguém estava machucado. Depois fui cobrir os móveis, o que ainda dava pra salvar. Saí na rua e ouvia gritos de todo mundo, os vizinhos todos saíram na rua, as crianças choravam. Não deu tempo nem de vestir uma roupinha nas minhas filhas. Foi um cenário de terror, parecia que ia acabar tudo. Todo mundo foi se virando com o que podia. Só deu pra ver o que aconteceu mesmo no outro dia. Ficamos a noite inteira acordados, cuidando as coisas, porque já tinha gente roubando, saqueando umas casas por aqui do que sobrou. Daí ficamos com medo que levassem o que tinha sobrado e ficamos acordados a noite inteira na casa. Na segunda de noite mesmo, já veio a Polícia trazer lonas e ajudar, eles chegaram bem rápido e prestaram atendimento pra todos que precisavam. Ajudaram as pessoas, vendo se tinha alguém machucado. E na terça cedinho começou vir a ajuda, doações, Assistência Social, Bombeiros, pessoal da Copel. Foi muita solidariedade, muita ajuda. Ganhei os materiais de construção para cobrir a minha casa do pessoal do Movimento Cursilho e o pessoal da Vidraçaria Beltrão liberou dois pedreiros e um servente pra ajudar nos trabalhos aqui. Meu irmão Delair também largou as obras dele e veio dar uma mão. Graças a Deus já ganhamos algumas coisas e aos poucos vamos organizando tudo.”

Adiles e Volmir
O casal vive com os filhos Talita, de 18 anos, e Pedro, de 6. Ela está desempregada – recebe o seguro-desemprego -, e há alguns meses estava iniciando investimentos no seu próprio salão de beleza, na garagem da casa. Mas a tempestade destruiu tudo. O marido é operador de máquinas. “Ganhei a conta na empresa no início deste ano e, mesmo sufocado, a gente vai se arrastando e consegue conquistar as coisas aos poucos. E queria trabalhar com o que eu gosto, que seria meu salão de beleza. Apertando daqui e dali, até conseguir montar, e agora que já estava tendo um pouco de retorno, mas o temporal levou tudo de novo, não sobrou nada. Na hora da tempestade, só meu marido estava em casa. Eu havia saído para levar minha filha pegar o ônibus, que ela iria viajar para São Paulo. E o meu filho queria ir no cinema, daí fui levar ele e mais um amigo. Foi questão de 10 minutos, saí para levar eles e quando voltei já não tinha mais casa, não tinha mais nada. Imagina uma cena de filme de terror, nunca vi nada igual. Saí de casa estava tudo bem, quando voltei não tinha mais nada. Enquanto voltava, subindo pelo bairro Cristo Rei, já vi que o bairro estava no escuro, sem luz, e o vento dava pra ver que estava forte. Mas daí vim rápido, quando comecei a descer a rua já vi os postes tortos, derrubados, os fios no chão, olhei as casas tudo descoberta, parei na frente da minha casa e tinha só a carcaça, comecei a gritar o nome do meu marido, e ele não me respondia, pensei que tinha morrido. Pavor total. Até que ele me respondeu, estava atordoado. Pensa no desespero. A gente assiste filmes na televisão, é a mesma coisa que um filme de terror, do mesmo jeito. Mas nessa hora percebi como temos amigos bons, porque veio o Evandro, da rádio, e eu dei uma entrevista ao vivo pra rádio, e em poucos minutos começou a chegar muitos conhecidos aqui pra ajudar a gente. Já estavam subindo e colocando lonas. Algumas coisas conseguimos secar e guardar, o sofá, a geladeira, pia, mas a maioria se foi mesmo, os equipamentos do salão, computador, televisão, foi tudo. Apesar de termos seguro, vamos receber apenas pela estrutura, e nem será suficiente para todos os reparos que vamos precisar. É burocrático e trabalhoso, já mandamos 70 fotos para eles. Só espero nunca mais, na minha vida, ter que passar por isso.”

Volmir
“Eu estava de joelhos no sofá, olhando pela janela da frente e observando o temporal que vinha vindo. E aquilo começou a piorar, a fazer um barulhão, parecia até a turbina de um avião. Então eu fechei a janela e estava andando pra cozinha, quando virei já arrancou tudo. Me escondi embaixo da caixa da porta. Fiquei aqui, enquanto caíam os pedaços de telha e forro pra todos os lados, em cima de mim, e muita água, e de repente estourou a porta de vidro, nos fundos, e o vento bateu uma porta que me acertou no braço e quebrou meu relógio. Foram minutos, a cobertura foi toda destruída. O muro derrubou inteiro. Quando vi, já tinha acalmado e só depois de um bom tempo que caiu a ficha que eu tinha perdido tudo. Daí minha mulher chegou, e a gente só chorava, os dois abraçados aqui dentro e chorando. Gritava socorro e não consegui nem ligar pros familiares. A polícia já chegou segunda à noite, trazendo lona, vendo se estavam todos bem. Defesa civil, prefeitura já veio. Na terça-feira já começou chegar gente, arrumaram a rede elétrica, só temos a agradecer, tivemos bom suporte, fomos bem amparados, todos trabalharam muito. Tanto os nossos amigos, como o poder público, todo mundo ajudou muito.”

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