Competidores eram chamados pelo rádio, mas nem sempre a tarefa era o que parecia.

Quantas pessoas cabem em um Fusca? Quem participou da Gincana da Independência sabe que são nove. Esta era uma das provas da competição, realizada entre 1992 e 2003 em Francisco Beltrão e que se tornou um dos principais eventos da região na época. O sucesso não era à toa: as equipes participavam da gincana pela confraternização e pelas festas, mas também porque cada prova era uma surpresa.
Os desafios que as equipes tinham que cumprir eram comunicados pelo rádio. Um membro da organização anunciava, por exemplo, que precisava do melhor jogador de tênis da agremiação em determinado local. Quando chegavam lá, os competidores eram informados de como se daria a tarefa: tinham que retirar seus tênis e arremessar o mais longe possível. “Teve gente que chegou com a raquete imaginando ser uma prova ligada à modalidade, veio até um professor de tênis, mas na realidade a tarefa era bem diferente”, conta Everaldo Macagnan, um dos organizadores da gincana.
A zoeira era uma das marcas registradas das provas. Quando chamaram o melhor manobrista, era para uma corrida de ré, a pé; os feras do skate foram convocados no antigo ralf e, quando chegaram lá, tiveram que responder uma prova de conhecimentos gerais sobre a prancha do skate; no dia em que solicitaram a presença dos crânios da informática, colocaram todos pra jogar Paciência.
Mais de 100 provas
Tudo isso precisava ser criado sem a ajuda de internet, algo limitado só ao meio empresarial na época. A organização se reunia para elaborar as provas alguns meses antes e precisava ter um bom estoque em mãos para os dias da gincana. “Nós tínhamos mais de 100 provas na manga, sempre, caso alguma desse errado. E aí a gente ia buscando equilibrar as coisas, porque algumas equipes tinham integrantes com mais força ou habilidade, então se colocava as pessoas em provas que elas não teriam, em tese, uma vantagem maior sobre as outras e isso ia tornando a disputa mais parelha”, relata Altair Rios, da organização.
As disputas iam da descida da Romeu Werlang com carrinho de rolimã e jogar truco de dupla com o pai até experimentar marcas de cerveja às cegas e contar piada no palco do Espaço da Arte — um primórdio do stand-up.

Numa das edições, equipes “adotaram” casas de famílias carentes para reformar. “Mas foi bem mais que isso… Foi a ação mais marcante da gincana”,
conta Elcio Casaril, um dos avaliadores da prova na época.
Uma das tarefas que mais envolviam os participantes era a de busca por pessoas e coisas. A organização pedia às equipes que encontrassem, por exemplo, cartaz antigo da Expobel, convite de casamento do Clube Barro Preto, fita da Xuxa, casal com maior diferença de altura, o quadro de família com mais filhos, quem tivesse mais pinos em cirurgia ortopédica, fatura de telefone com ligação para o Disk Sexo, camisa do União…
Até casos raros, como encontrar alguém com um olho de cada cor e irmãos gêmeos casados com gêmeas, foram cumpridos. Tinha gente que não participava da gincana, mas ficava atenta ao rádio pra ajudar algum competidor conhecido. Numa das tarefas, a organização desafiou as equipes a encontrar um papagaio que cantasse “Parabéns pra você”. Acharam dois.
Também tinha solidariedade
As tarefas com maior índice de participação das equipes eram as de cunho social. Até mesmo quem ia pra gincana pela festa se envolvia na realização destas provas. Uma das mais impactantes foi a que desafiou os participantes a reformar casas de pessoas carentes. Cada grupo “adotou” uma residência e todos foram além da proposta. “A ideia era que o pessoal melhorasse o aspecto das casas, mas foi bem mais que isso. Muitas equipes fizeram uma reforma meio geral, conseguiram móveis e eletros, fizeram jardinagem, muros, enfim, foi a ação mais marcante da gincana”, observa Elcio Casaril, um dos avaliadores desta tarefa na época.
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Em uma das edições, a organização propôs que fosse encaminhado trabalho para quem estava desempregado; em outra, a tarefa consistia na arrecadação de materiais para construir a Unioeste e ampliar a Casa +Vida, que trabalhava com a recuperação de dependentes. Em vários pontos da cidade, muros foram pintados com mensagens antidrogas.
Outra ação que marcou a organização foi a campanha Adote um Sorriso, em que os integrantes bancavam o tratamento dentário de crianças carentes. “Isso tudo era feito através de muitas parcerias, então as equipes se mobilizavam bastante e isso mexia com empresas e pessoas que passavam a ajudar também”, conta Elcio.