Muitas pessoas se posicionaram contrárias à realização do rodeio por conta de maus-tratos. Já os organizadores rebatem dizendo que têm o aval do Ministério Público e garantem que não haverá práticas agressivas aos animais.
É cada vez maior o número de pessoas que se posicionam contrárias à realização de rodeios, Brasil afora, por causa dos maus tratos com os animais. Por isso, através das redes sociais, houve uma expressiva mobilização de defensores dos animais desde que o Jornal de Beltrão publicou, nesta semana, a matéria sobre a novidade da 27ª Expobel, que será a realização de quatro noites com rodeio em touros de montaria.
Baseada na publicação, a beltronense defensora dos animais Karima Mujahed, que é vegetariana há 21 anos, ou seja, desde os 7 anos de idade, concedeu entrevista à Rádio Onda Sul FM ontem e expôs o sentimento de muitas pessoas que amam os animais e que não desejam que o evento seja realizado. “Estou exercendo meus direitos políticos e demonstro minha indignação, minha tristeza em apoiar um evento que vai manchar a história da Expobel”, disse ela.
Sabe-se que, anualmente, os rodeios movimentam, no Brasil, bilhões de reais e que o evento mais importante deste segmento é o de Barretos, no interior de São Paulo. “Rodeio é arcaico, medieval, cruel, torpe e desprezível. Traz dano social, pois tem caráter educacional de dessensibilizar os espectadores, principalmente crianças. Animais são sencientes, sentem tudo quanto nós, e não são propriedades das pessoas, não estão no mundo para nos servir, cada um existe por suas próprias razões”, comentou Karima.
Entretanto, a prática do rodeio se manteve de forma amadora até o ano de 2001, quando o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sancionou a Lei Federal nº 10.220 de 2001, que instituiu normas gerais relativas à atividade de peão de rodeio, equiparando-o a um atleta profissional. Desde a criação desta lei, existe uma Confederação Nacional de Rodeio, que é vinculada às federações estaduais, subordinadas ao Ministério do Esporte, do Governo Federal.
Mesmo assim, Karima não concorda que a atividade seja um esporte, pois o animal é obrigado a estar lá; o ser humano exerce domínio sobre o touro. “O animal está lá porque é obrigado, não por escolha. E pior, fica submetido à tortura pública, enquanto a plateia fica empolgada diante da tortura do animal”, acrescentou. Toda atividade considerada esporte necessita de evolução histórico-cultural. Com o rodeio não foi diferente, tanto que evoluiu de um lazer ou trabalho agropecuário para uma prática com regras próprias e autônomas.
Porém, anterior à promulgação da lei que transformava o rodeio em esporte, foi criada outra Lei Federal, de nº 9.603/98, que estabeleceu crime ambiental a prática de maus-tratos, abusos, ferimentos ou mutilações praticadas contra os animais. E é baseado nesta determinação que muitos rodeios, em diversos estados, foram embargados no Brasil.
Contudo, mais tarde, a Lei Federal nº 10.519, de 2002, dispõe sobre a fiscalização da defesa sanitária animal, garantindo padrões, regras e normas, inclusive de nível internacional, de segurança, bem-estar animal e manejo que devem ser obrigatoriamente aplicadas e fiscalizadas para que o evento seja realizado. “Estamos tranquilos, pois fomos junto com a comissão organizadora da feira até a promotoria pública e recebemos o aval para fazer o evento em Francisco Beltrão. Estamos cientes da nossa responsabilidade e nosso compromisso em tratar bem os animais do rodeio na Expobel”, garantiu Adones Miguel, da equipe César Paraná, promotora do rodeio e terceirizada na 27ª Expobel.
Instrumentos
“Para garantir o espetáculo, os animais são submetidos ao sofrimento extremo, como apertar os órgãos genitais do touro com um artefato chamado “sedém” que fica ao redor do corpo do animal, sob a virilha, causando desconforto e fazendo o boi pular. Outros instrumentos usados são as peiteiras, sinos, aparelhos de eletrochoques, substâncias abrasivas, como pimenta, e esporas pontiagudas”, explicou Karima, mostrando porque é contra a realização do rodeio.
Em contrapartida, o organizador Adones Miguel afirmou que nenhum desses artefatos são utilizados nos eventos que eles promovem. “Os animais são muito bem tratados, eles não recebem nenhum aparelho de choque, nem nada, até convidamos o pessoal da ONG para acompanhar a chegada dos animais, o tratamento e cuidado que temos com eles. É só o tempo de descer do caminhão, passar pelo brete, entrar na arena e já voltam para um lugar agradável, com sombra e água fresca”, ressaltou.

Foto: Arquivo Pessoal
Mobilização
Karima Mujahed vai tentar mobilizar, pacificamente, o maior número de pessoas através das redes sociais, e até quem sabe com uma ação na justiça comum, para evitar a realização do rodeio.
Entretanto, as obras de terraplenagem no parque, para a montagem da arena, próximo ao Recinto de Leilões Miniguaçu, continuam sendo executadas.

Foto: Arquivo Pessoal