
Francisco Beltrão sempre sofreu com as cheias do Rio Marrecas e do Rio Santa Rosa. Os casos mais emblemáticos foram os alagamentos de 1983, 2010 e agora em 2014, que em menos de 60 dias muitas famílias sofreram diretamente, duas vezes, com as enchentes. A cada chuva a população fica alerta para a retirada de suas coisas. Pessoas de vários pontos do município são afetadas.
Os motivos dos alagamentos, segundo as autoridades locais, vão desde o relevo até problemas do plano diretor da cidade.
buscando diminuir o sofrimento da população, o Ministério Público de Beltrão promoveu na quinta-feira, 24, na Câmara de Vereadores, uma audiência pública sobre “Planejamento urbano: a problemática dos alagamentos e outras questões ambientais”.
A população lotou a reunião em busca de soluções para seus problemas e contribuiu com sugestões, a fim de sanar o sofrimento com os alagamentos. Muitas autoridades também estiveram presentes, vereadores, membros do Executivo municipal, lideranças da sociedade civil organizada e representantes do Ministério Público.
O promotor de Justiça Roberto Tonon Júnior esclareceu que o objetivo das promotorias de Justiça, Habitação e Urbanismo e de Meio Ambiente é levar o debate à população. “Queremos ouvir críticas e sugestões para tentar diminuir os impactos das cheias e ocupações de zoneamentos. Nós queremos ouvir as autoridades competentes para tentar buscar uma solução definitiva para o problema que atinge a população. A audiência é o primeiro passo para que se busquem soluções, nem que seja em longo prazo, para que no futuro se tenha uma solução definitiva”, informou o promotor.
O prefeito Antonio Cantelmo Neto (PMDB) ressaltou que nos últimos 30 anos muito tem sido feito para minimizar os efeitos das enchentes. “Agora é preciso entender que não há uma medida única para solucionar o problema. O Executivo vem se solidarizar com a iniciativa inédita do Ministério Público, e irá responder questionamentos e opinar em algumas circunstâncias”, declara Neto.
Passos para mudança
A promotora de Justiça Melissa Cachoni Rodrigues, coordenadora geral da Rede Ambiental, enfatizou que o objetivo é colher informações, seja da área técnica, dos gestores e da população. O conteúdo levantado na reunião será levado para promotorias, e passará por averiguação.
A doutora Melissa afirmou que dá para perceber características do plano diretor que não estão adequadas com a realidade. “É preciso um bom plano diretor, e para que seja efetivo, e não tenha surpresas urbanísticas, ele precisa ser técnico, participativo e demonstrativo. Não podemos ampliar a cidade para um lado somente porque queremos. O plano tem que ser refeito a cada tempo e precisa ser participativo”, reiterou a promotora.
Moradores são ativos na discussão
O morador do bairro Alvorada Marcelo Cluzeni participou da audiência pública para saber quais são as ideias para conter as enchentes e acrescentar algumas sugestões. Na casa dele não alaga, mas a casa do vizinho sim e a preocupação é com todo o município. “Porque tem que achar alguma sugestão, por exemplo, conter as águas ainda fora da cidade e instruir as famílias que estão em área de risco”, opinou Marcelo.
Maria e Jaime Klein têm residência e empresa no bairro Presidente Kennedy, próximo ao Rio Lonqueador. A chuva começa e ninguém da família dorme. Eles moram no local há dez anos e antes de 2010 a água subia, mas chegava somente até o lote, depois disso, sua casa já ficou inundada várias vezes.
O objetivo do casal é saber o que é possível fazer para resolver a situação. “Se a loja molhar com a enchente, são 17 pessoas que trabalham com a gente que ficam sem trabalhar. Na última chuva levamos, do meio-dia até as 2 horas, para conseguir levantar todas as coisas, para não molhar”, reclama Jaime. Itamar Poser é vizinho de Maria e Jaime, ele também acompanhou a audiência. Itamar comprou um barco, pois toda enchente do passado era um desespero atrás de barco para tirar as coisas de casa e ajudar os vizinhos.
Promotores surpresos com a participação
Os promotores que organizaram a audiência pública se surpreenderam com a participação dos beltronenses.
Roberto Tonon comentou que a grande presença das pessoas mostra o interesse e a importância da discussão.
A promotora de Justiça Maria Fernanda Belentani disse o seguinte: “Me surpreendo com a presença das pessoas e isso faz sentido diante da magnitude do problema. Nós quisemos trazer as pessoas que têm interesse diretamente com esse assunto. Ao assumir a promotoria de Meio Ambiente, percebemos que não são problemas pontuais, mas sim de planejamento urbano e que a solução disso depende de vários órgãos”.
Debate na Educadora
Hoje a partir das 9:30 tem debate na Rádio Educadora sobre este mesmo tema das enchentes em Francisco Beltrão. Várias lideranças estarão presentes.