Casa de 90 metros quadrados, que irá abrigar família de quatro pessoas, será entregue pronta para morar.

Casa está sendo edificada no final da Rua David Donadel, Bairro Cantelmo.
Foto: Niomar Pereira/ JdeB
Presidiários de Francisco Beltrão estão construindo uma casa nova na Rua David Donadel, Bairro Cantelmo, em Francisco Beltrão, onde a residência que existia foi destruída por incêndio no dia 8 de maio deste ano. É um convênio entre Prefeitura – que está contribuindo com o material de construção, alimentação dos trabalhadores e ferramentas – e o Depen (Departamento Penitenciário), que faz o transporte e permite que os presos construam a obra.
A casa terá cerca de 90 metros², com quatro quartos, dois banheiros, cozinha, sala e varanda. Irá abrigar uma família de quatro pessoas, dois irmãos adultos e dois irmãos menores de idade. Enquanto a casa não fica pronta, a Prefeitura paga o aluguel social para eles. “Vamos entregar com as chaves na mão, pronta para morar”, comenta Valmir Bonfim dos Santos, policial penal que coordena o Projeto Mãos Amigas.
Os presos são construtores que atuam no projeto Mãos Amigas, que faz serviços de manutenção, conservação e reparos de unidades escolares e de imóveis do patrimônio público. São condenados do regime fechado, que saem para trabalhar durante o dia e retornam à noite para a prisão. Em troca, a cada três dias de trabalho eles encurtam um dia em sua pena.
Mudança no projeto
Valmir recorda que quando o projeto começou, há cerca de quatro anos, visava apenas o ajardinamento das escolas. Com o tempo, foi percebendo-se que as escolas também precisavam de pequenos reparos em encanamentos, rede elétrica e pinturas. “Como são detentos do regime fechado, procuramos aqueles que têm mais pena para cumprir, que não sejam condenados por roubo, nem por tráfico.
Nestes quatro anos do projeto nunca tive problema com eles por indisciplina ou fuga.” É feita uma análise de perfil com psicólogos e também é preciso ter bom comportamento para sair e trabalhar.
Além de ajudar na conservação e revitalização desses prédios públicos, o projeto ainda faz a ressocialização dos presos participantes, garantindo duplo benefício: redução da pena e economia na execução dos serviços de reparos. Em Francisco Beltrão, por exemplo, os presos já tinham ajudado a construir novas salas na sede da 19ª SDP. Atualmente, além da equipe construindo a casa no Bairro Cantelmo, há uma equipe atuando no Colégio Telmo Octávio Muller, em Marmeleiro, e na ampliação da Delegacia de União da Vitória. A próxima a ser atendida será a Escola do Campo de Pinhalzinho, Eneas Marques.
“É bom ajudar”
Roberto*, mestre de obras na construção da nova casa, diz que quem sabe trabalhar em construção ensina quem não sabe. Desta forma, é criado um vínculo de respeito e o trabalho se torna produtivo. Além da remissão da pena, eles recebem um salário mínimo mensal. Uma parte é depositada todo mês em uma conta que só será liberada quando eles receberem o alvará de soltura e outra parte do dinheiro vai para a família. Quando o trabalho é nas escolas, é o governo do Estado quem paga, quando há algum convênio com o município, aí é a Prefeitura que faz o pagamento. Ele já acumulou 16 meses em remissão de pena, somando a leitura e o trabalho.
Conforme disse, quando é possível sair e trabalhar, os presos se sentem melhor, “respiram outro ar” e se sentem mais motivados por estarem ajudando e sonham a voltar para sociedade já ressocializados. *Nome fictício
Duas famílias perderam tudo
O incêndio do dia 8 de maio destruiu duas casas, mas só uma das famílias está sendo atendida pelo projeto.
A família vizinha está reconstruindo sua casa por conta própria, mas também estão passando por dificuldades. Até aqui eles ergueram quatro paredes, cobriram e estão praticamente acampados no lugar para fugir do aluguel.