Prostituição: o lucrativo mercado de venda do corpo nas esquinas da cidade
“Agora não posso, preciso ganhar dinheiro”, com essa frase fui recebida na primeira noite que passei em uma das esquinas da cidade, iniciando uma reportagem sobre prostituição. “Não quero ser grossa e dizer pra você ir embora, mas eu quero ficar sozinha”, foi a segunda frase de Anita – o nome verdadeiro foi trocado -, já que eu havia espantado todas as suas colegas ao me virem estacionar o carro com o adesivo do Jornal de Beltrão. Mais alguns minutos de conversa e encontro uma garota extrovertida, que gosta de conversar, bem diferente da moça que havia abordado inicialmente, embora fosse a mesma pessoa.
Descubro que Anita, mulher bonita de 24 anos, há 5 encontrou na prostituição o meio mais fácil e lucrativo para sustentar o filho de 8 anos e para construir sua casa. “Tô construindo minha casa de dois pisos, quem vê pensa que é de rico”, comenta com orgulho.
Ela garante ter concluído o 2
A garota mostra a bolsa cheia de camisinhas e garante que de tempos em tempos faz exames no CRE (Centro Regional de Especialidades). Na realidade, o atendimento é realizado no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), que funciona junto ao CRE. Anita é uma das poucas mulheres conscientes da necessidade dos testes.
De acordo com a assistente social Márcia C. Kulyk, do CTA, algumas estão habituadas e fazem os exames com frequência, mas são poucas. “Aquelas que buscam o atendimento, umas quatro ou cinco, vêm sempre”, comenta.
O CTA realiza exame de HIV, gratuito e sigiloso, e distribui preservativos femininos e masculinos, mesmo assim a procura é baixa. “Os preservativos femininos são mais usados por mulheres casadas”, afirma Márcia.
Clientes fixos
“Esse é o meu velhinho, ele tá indo descarregar”, fala Anita enquanto abana para o caminhão que havia buzinado. Ela conhece muitos dos homens que buscam os prazeres pagos e chama-nos pelo nome e não disfarça a alegria quando fecha um programa, pouco importando para a aparência física ou idade do cliente. “Os homens são carinhosos”, relata. Alguns clientes chegam a presenteá-la, como um jovem viajante, um rapaz bonito, que deu-lhe um shortinho jeans no último verão.
Ela não pensa em largar essa vida, na qual o dinheiro é conseguido com relativa facilidade. “Em nenhum outro trabalho vou tirar o que ganho na rua”, completa. E também não deseja mais voltar para os bares, já que na rua apresenta certa independência de horário e de valores, não tendo que dar satisfações ao “patrão”.
??Bares??
Nos últimos meses, a Polícia Civil fechou pelo menos 18 bares de fachada, em razão de reclamações da comunidade que estava escandalizada com as atitudes de algumas pessoas nesses locais, pontos de prostituição. Mas outro problema agravou-se, já que muitas passaram a trabalhar nas ruas.
A princípio, parece não haver concorrência entre as prostitutas, mas o ciúme em relação a uma mulher mais bonita é perceptível. “Os homens experimentam todas as putas, se quisessem uma mulher só ficavam com a esposa que tá em casa”, observa Anita.
Uma das profissões mais antigas ainda é encarada como tabu. “Mas sempre vai existir mulher na rua, porque os homens procuram”, analisa Nicole, outro nome fictício. Essa também é uma afirmação do delegado Benedito Souza, que destaca o fato de a exploração acontecer porque os homens procuram esse tipo de programa.
As mulheres dispõem do direito de fazer pontos nas esquinas, e a polícia somente pode interferir se elas estiverem fazendo atos obscenos.
Prostituição legalizada
O deputado federal Fernando Gabeira (PT-RJ) é autor do projeto, em andamento na Câmara Federal, que pretende regulamentar a atividade das prostitutas como profissão. Gabeira buscou inspiração na Alemanha para apresentar o projeto. Há cerca de um ano aquele país aprovou uma lei legalizando a prostituição. Os efeitos, segundo Gabeira, são o contrário do que podem imaginar os mais radicais: não houve estímulo à indústria da prostituição. “Quando debatemos aqui a união civil de pessoas do mesmo sexo, muitos argumentaram que aumentaria o homossexualismo. Ora, é muita ingenuidade acreditar que alguém vai virar homossexual porque leu no Diário Oficial. A mesma coisa com a prostituição. Legalizando vamos melhorar as condições de vida dessas pessoas”, argumenta.