Evento que misturava festas, provas zoeiras e tarefas beneficentes marcou toda uma geração até sua última edição, em 2003.

A juventude dos anos 90 conhece bem o jargão do título, ventilado nas rádios da cidade para anunciar um dos momentos mais aguardados do ano. Quando setembro chegava, com ele também vinha a Gincana da Independência, que mobilizava não só as equipes, mas movimentava toda a cidade com festas, provas e atividades. “Durante dez dias, Beltrão vivia a gincana, quase todo mundo se envolvia de alguma forma”, relembra Altair Rios, que participou da organização.
Foram 12 edições até a última gincana, em 2003. O evento surgiu atrelado à política, como forma de reunir público e alavancar candidaturas, organizado pela ala jovem de um partido. A popularização rápida num tempo com menos opções de lazer e quando internet era coisa rara na cidade fez a gincana se tornar um dos principais encontros de Beltrão. E ainda conseguia manter o cunho político: por dois mandatos, candidatos a vereadores ligados à organização da gincana — estrategicamente realizada no período eleitoral — foram eleitos.
Mas a política acabava sendo ofuscada pelo evento. Meses antes da gincana, festas iam integrando as equipes. Em agosto, a principal atração era o torneio Claudiomir Toss: as equipes de futebol disputavam as partidas e a campeã ganhava uma inscrição da gincana. “A inscrição pra gincana tinha um valor relativamente alto, então, o pessoal se preparava muito pro torneio e disputava com gosto, porque quem ganhava já tava dentro”, explica Everaldo Macagnan.
Cada equipe possuía 25 membros inscritos oficialmente, mas os participantes, às vezes, passavam de 100. E haja criatividade pra batizar cada uma: Equipeleia, Os Puçucas, Jaketákevá, Tchutcha-ruga, Equitendência… Eram grupos de amigos, vizinhos ou colegas de trabalho. O pessoal da Marel, por exemplo, montou a Equicozinha; do CTG saiu Os Guascas e ainda tinha a TPM, formada só por mulheres. “Não só nós que fazíamos parte da organização da gincana, mas dentro das próprias equipes foram surgindo amizades e relacionamentos que existem até hoje”, conta Adriano Amaro.

Movimento incalculável
O pontapé da gincana acontecia no sábado anterior ao feriado da Independência, com uma carreata que seguia até o calçadão. Na praça, as equipes e a organização cantavam o hino e a solenidade também marcava a abertura oficial. Só aí que a premiação era revelada.
Inicialmente, foram oferecidos prêmios em dinheiro e viagens, mas nas últimas edições a equipe vencedora faturou o famoso Fuscão Preto (o mesmo eternizado numa versão rock por Rodrigo Castellani, o Digão), um Maverick e uma réplica quase perfeita da Brasília Amarela, dos Mamonas Assassinas. “Essa Brasília deu trabalho, porque a gente tentou reproduzir tudo exatamente igual à do clipe dos Mamonas, mas o São Jorge que encontramos pra colocar no painel era muito grande e aí tivemos que cortar um pedaço das pernas da estátua pra caber”, lembra Altair.
Nos dez dias de gincana, o evento mobilizava muita gente. “Um dia, até nos propomos a calcular qual a movimentação financeira da gincana na cidade, mas é impossível, porque mexia com quem fornecia alimentação, bebidas, postos, hotéis, costureiras, mercados… era uma rede muito grande”, comenta Adriano.
Organização precisava ser impecável
Uma das principais preocupações da organização era evitar badernas, brigas e acidentes. Logo nas primeiras edições, foi criada a figura do padrinho de equipe: dois pais que deveriam ficar constantemente nos QGs. E isso ajudou a controlar os excessos, segundo Altair: “A gente teve pouquíssimos episódios de badernas, procurávamos levar tudo com muito controle, porque tinha a questão política junto, o nome de empresas que patrocinavam e a preocupação de não causar problemas à cidade. A oposição esperava qualquer deslize pra colocar em xeque a gincana, então tínhamos que fazer uma organização impecável”.
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No domingo de madrugada, após o encerramento da gincana, os organizadores percorriam a avenida recolhendo o lixo, dada a preocupação com a imagem pública do evento. E entre a abertura e a festa de premiação dos vencedores, muita coisa acontecia, mas isso é tema para outras matérias, que o JdeB vai contar nas próximas edições.
