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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Receita de sucesso do fundador da Dipães inclui persistência, busca por conhecimento e amor pelo que faz

Volmir Meotti contou aos participantes do Dia do Comerciante, da CDL de Francisco Beltrão, a trajetória da Dipães, que, de pequena empresa em São Miguel do Oeste (SC), tornou-se uma das maiores indústrias de pães congelados do País.

 

Volmir durante a palestra na Pampeana: empresário não pode ficar atrás do balcão, precisa delegar tarefas e sair em busca de conhecimento.
Foto: Luciano Trevisan/ JdeB

 

Com o objetivo de valorizar os empresários do comércio, a CDL de Francisco Beltrão promoveu, sexta-feira, 8, o jantar do Dia do Comerciante. No recheio do evento, além de atrações musicais e bingo, a entidade adicionou palestra com o empresário Volmir Meotti, de São Miguel do Oeste (SC). Se alguém esperava palestra show, gargalhadas, retórica, enganou-se. O proprietário da indústria Dipães não está entre os dez palestrantes mais requisitados do país. No entanto, sobra o que parece faltar a muitos renomados senhores que ocupam os palcos de eventos empresariais: verdade e resultado prático.

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Para alguns, falar é fácil, fazer nem tanto. Para Meotti, nem falar era fácil. Enfrentar o público, reconhece o empresário de 42 anos, era um de seus maiores temores. Encarar essa barreira serviu de referência para superar outros desafios. “Quando consegui quebrar esse medo, percebi que todos os outros medos que eu tinha eram muitos pequenos”, ressaltou. Com simplicidade, amparado por bilhetes com anotações à caneta “Bic” e alguns vídeos, mostrou ao público presente no salão de eventos da Pampeana a sua receita para criar uma das maiores indústrias de pães do Brasil: vontade de empreender, persistência, busca por conhecimento e amor pelo que faz.

 

Envolvimento em entidades gerou aprendizado

Nos primeiros momentos de sua fala, Meotti procurou enfatizar a importância do associativismo para promover crescimento econômico e social. O empreendedor contou que, sem formação universitária, buscou conhecimento através da participação nas entidades empresariais. “Desde o momento que eu decidi ser empresário, procurei me envolver com o associativismo, já fiz parte de quase todas as entidades da minha cidade.” Para ele, o envolvimento nas associações representativas promove uma visão ampla dos negócios: “Eu não posso falar somente de pão, tenho de falar de outros comércios, isto me abre a mente; os principais momentos da Dipães tiveram alguma ligação com o associativismo”.

 

Sucesso no fracasso

Para situar o público sobre as suas origens, o empresário mostrou fotos da infância e do primeiro negócio do pai, um “bodegão” que vendia de tudo no Bairro Sagrado Coração, em São Miguel do Oeste. Com o tempo, o negócio cresceu, virou mercado, mas, ainda assim, a renda gerada era insuficiente para sustentar a família. Os irmãos mais velhos de Volmir saíram de casa em busca de oportunidades e ele, a pedido do pai, ficou para ajudar.

Nessa fase, além do trabalho no negócio familiar, começou a explorar seu lado empreendedor. Envolveu-se em várias atividades, incluindo a venda de melancias e galinhas de porta em porta. “Abri vários negócios e em todos eles a gente teve sucesso. Sucesso no conhecimento, porque no financeiro a gente tinha que fechar; abrimos com felicidade e fechamos com felicidade porque percebemos que não deu certo.” Embora pareça engraçada, a frase retrata o jeito de pensar de Volmir – alguém que entende o fracasso como aprendizado.

A entrada no ramo da panificação se deu a partir de uma análise do setor de supermercados em São Miguel do Oeste. “Percebi que a diferença do nosso mercadinho de bairro com os mercados do centro é que eles tinham panificadora e a gente não.”

Em 2002, montou a primeira panificadora junto ao mercado da família; também não deu muito certo. “Pra minha felicidade, contratei vários padeiros que só me davam problema; daquele problema a gente percebeu que tinha um desafio e eu comecei a entender um pouco mais de pão.” Coincidentemente, ou não, naquele ano, pouco antes de uma crise que elevou drasticamente o preço da farinha, Volmir descobriu que era possível fabricar pão a partir de uma matéria-prima barata: a fécula de mandioca. “Tinha fécula sobrando no Brasil e quando a gente conseguiu fazer a formulação, começamos a fabricar.” Enquanto as outras empresas sofriam com o custo da farinha, Meotti conseguia produzir e vender a um custo menor.

A novidade ganhou boa cobertura da imprensa regional e a história do pão de fécula de mandioca da pequena panificadora do interior de Santa Catarina virou matéria até na RBS TV. Com tanta divulgação, o telefone da empresa não parava de tocar. Os clientes queriam comprar o pão inovador.

Resultado: a demanda passou a ser maior que a capacidade de produção – ainda mais se tratando de um produto de curta vida útil, que deve ser consumido no dia em que é produzido. Na cabeça do empreendedor, a necessidade fez uma nova ideia fermentar: produzir pão francês longa vida. “Se eu encontrasse uma forma de produzir esse pão que todo mundo quer comprar e ele pudesse ter uma validade longa, eu seria o cara mais feliz.”

No ano seguinte, em evento da Associação Catarinense dos Supermercados (Acas), em Florianópolis, ele ouviu de um palestrante que o ramo de panificação seria transformado por uma inovação. Que inovação? O palestrante só sabia que era pão congelado. Para ter mais informações, Volmir devia procurar uma pessoa em Curitiba. Dois dias depois, ele estava na capital paranaense, onde foi apresentado aos túneis de congelamento. O equipamento vinha da Itália, custava caro e possibilitava o congelamento rápido dos produtos, mantendo características originais e nutricionais. Com grandes esforços e financiamento, uma unidade foi adquirida e montada na área de vendas do mercado da família. “Sobrava um tempinho livre no mercado, a gente corria fazer pão.”

 

Padeiro, entregador, empreendedor

Como a ideia era produzir em escala, para atender supermercados, outra questão surgiu: na falta de recursos para instalar uma câmera de estocagem, como manter a qualidade do produto? A alternativa era entregar o pão congelado tão logo fosse produzido. A solução que Volmir encontrou foi utilizar uma moto com baú. “Eu e minha família fazíamos o pão; quando o pão tava saindo pronto, alguém já tava embarcado na moto; imaginem quem era?!”, brincou ao revelar que, além de administrador e padeiro, acumulava a função de entregador.

Com pouco recurso, mas com doses industriais de dedicação, a empresa foi ganhando mercado. “Quando a gente faz o que ama, parece que as coisas acontecem sempre com felicidade, acontecem ao natural e você vai vendo teu negócio prosperar.” O desafio que veio a seguir foi conquistar a confiança dos clientes e convencê-los a comprar uma ideia totalmente nova: deixar a produção própria e apenas assar o pão. “Passamos por fases difíceis, mas hoje colhemos os frutos daquilo que a gente plantou.”

 

Gestão, investimento em pessoas e delegação de tarefas

Volmir Meotti finalizou sua palestra elencando pontos que considera essenciais para a receita dos negócios não desandar. Em primeiro lugar vem o investimento em pessoas, o que, para ele, começa pelo próprio empreendedor. “Invista primeiro em você, saia de trás do balcão; se eu ficar atrás do balcão, reclamando da crise, o mundo não vem pra mim; eu preciso sair pro mundo, aprender.”

Colaboradores e parceiros precisam de investimento, atenção, incentivo e treinamento. “Hoje todas as lojas e supermercados vendem praticamente os mesmos produtos, todas as indústrias têm as mesmas máquinas, mas por que umas se destacam mais? Nós temos de investir em pessoas, são elas que fazem diferença no nosso negócio. Mas não só os colaboradores, se eu não atender bem o meu fornecedor, ele não vai ser meu parceiro, só vai querer vender pra mim.”

Seu último alerta é para que os empresários foquem na gestão e deleguem tarefas em vez de fazer. “Atenda, ensine seu colaborador e deixe que ele faça; empresário não nasceu para ser operacional, empresário tem que cuidar da gestão.”

 

A Dipães hoje

Com um nova planta industrial no município de Paraíso (SC) e centro de distribuição em Itajaí (SC), a Dipães conta com 184 colaboradores. O mix de produtos da empresa inclui 259 itens – só de pão congelado, são produzidas 400 mil unidades/dia. Para os próximos meses estão programados investimentos de R$ 15 milhões em equipamentos, o que deve permitir o atendimento aos três estados do Sul e entrada no mercado de São Paulo.

 

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