História do levante para as ruas e escolas.
A cerimônia dos 60 anos da Revolta dos Posseiros e da chegada do Exército em Francisco Beltrão teve vários pronunciamentos de autoridades. O tom dos discursos foi a bravura dos posseiros na defesa da propriedade contra as companhias de terra e do Exército que foi enviado para tentar manter a paz e evitar que a crise se agravasse, com mais mortes e violência, praticadas pelos jagunços das companhias de terra contra os colonos e moradores das cidades. Esta união das famílias para lutar pelos seus imóveis acabou criando uma identidade regional.
O prefeito Cleber Fontana (PSDB) anunciou que a administração municipal vai investir em totens em algumas ruas de Beltrão para lembrar o levante e também estimulará que a história deste movimento seja ensinada nas escolas. Ismael Vanini, professor de História da Unicentro, de Coronel Vivida, mas que reside em Beltrão, tem estudado sobre o assunto e destacou ato de bravura dos beltronenses e sudoestinos durante o levante para a construção de uma identidade regional. E o general Marcos de Sá Affonso da Costa, do Batalhão de Infantaria Motorizado, de Cascavel, discorreu sobre o significado da presença do Exército numa região que vivia um clima de tensão.
Cleber destacou que as histórias da Revolta dos Posseiros e do Exército em Beltrão estão interligadas e, por isso, a realização das homenagens aos pioneiros e militares. “O nosso carinho, o nosso respeito, a nossa gratidão ao Exército que se instalou aqui em 57, tem uma história que se confunde com a história de Francisco Beltrão e do Sudoeste do Paraná, e a homenagem aos nossos pioneiros, os posseiros, colonos que em 57 fizeram a Revolta dos Posseiros conhecida no Brasil inteiro”, comentou.
O prefeito disse que a intenção do poder público é manter viva, na comunidade, a história do levante. “A ideia é fazermos exposições permanentes na cidade, através de totens, que vão estar espalhados e de tempos em tempos vão estar relembrando, com imagens, a nossa história, e também vamos fazer um trabalho grande junto com a Secretaria de Educação do município para que essa história seja repassada para as nossas crianças e pra que ela se perpetue para as futuras gerações”.
O general Marcos Sá Affonso da Costa, do Batalhão de Cascavel, estava contente com as homenagens, conversou com várias pessoas e autoridades e fez um discurso destacando a vinda do Exército, como instituição do Governo Federal em Beltrão e região, na década de 50. “Foi um episódio marcante pra nós, do Exército, é algo muito importante, acreditamos que a presença do Exército naquele momento permitiu que a comunidade beltronense pudesse, com o seu progresso e com a força do seu trabalho, realmente, pra dar segurança, pra ter definitivamente a posse das terras para as pessoas que vieram de todas as partes do Brasil, principalmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que viessem se estabelecer aqui com segurança e com tranquilidade. O Exército comemora junto com Francisco Beltrão esses 60 anos não só da presença militar, mas desse episódio conhecido como tempo da Revolta dos Posseiros”, disse o comandante militar.
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Um fato determinante para a história
O professor Ismael Vanini fez um rápido apanhado histórico em seu discurso. Segundo ele, o levante “foi determinante para a história de Francisco Beltrão e região”. Disse que é importante que as pessoas daqui saibam desta história. “No passado vamos buscar o que é necessário para a sociedade atual.” Lembrou que o Sudoeste era uma região em litígio com o Governo Federal e que os veículos de comunicação, à época, devido aos conflitos entre posseiros e jagunços, destacavam nas suas manchetes que “o Sudoeste é terra de ninguém”.
Disse que os pioneiros e desbravadores e o Exército fizeram um trabalho com “orgulho e satisfação”. E lembrou o escritor e historiador Ronaldo Zatta que diz que no Sudoeste aconteceu algo inédito para o Brasil, tempo em que os posseiros e o Exército estavam do mesmo lado. E destacou que as pessoas daqui, na luta pela posse da terra, empunhavam a bandeira do Brasil. O professor, que veio do Rio Grande do Sul para Beltrão no começo da década passada, destacou como “um patrimônio” e “uma identidade” da região o levante da década de 50.
A solenidade teve ainda os pronunciamentos do major Luiz Coradini, comandante do 16º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado; Elenir Maciel, presidente da Câmara de Vereadores; e Mariah Ivonete Silva, diretora do Departamento Municipal de Cultura. Todos destacaram o trabalho dos pioneiros e do Exército para o desenvolvimento local e da região.
O que dizem alguns dos homenageados
Entre os homenageados, o clima era de contentamento pela lembrança e homenagem dos organizadores das comemorações das seis décadas da Revolta dos Posseiros e da chegada do Exército. O corretor de imóveis Iandu de Oliveira, que foi oficial do Exército em Beltrão, disse que “foi muito bom”. Ele comentou ainda que “as falas, os discursos, abordaram o mesmo assunto de uma maneira diferente”. Iandu foi um dos homenageados pelo Exército e o Departamento de Cultura. O corretor de imóveis é marido de Neiva Barbieri de Oliveira, filha dos pioneiros beltronenses Antonio Silvio e Inês Barbieri.
Magda Prolo, filha de Luiz Prolo, representou os demais familiares. Luiz foi pioneiro de Francisco Beltrão e Eneas Marques. Mas também teve atuação na Revolta de 1957. Luiz Prolo foi o primeiro prefeito de Eneas na gestão 1964-1968. Magda estava contente. “Achei super legal, tem que valorizar. Meu pai foi um dos que mais batalharam na Revolta dos Posseiros.”