
No Dia Mundial sem Tabaco, lembrado neste sábado, 31, os dados nacionais e percepções locais apontam um cenário preocupante em relação ao uso de cigarro eletrônico e do tabaco convencional. Em Francisco Beltrão, embora não haja estatísticas oficiais, o aumento no consumo entre os jovens já é percebido por profissionais da saúde.
“Em Francisco Beltrão há indícios de que o uso do cigarro eletrônico vem aumentando entre os jovens. Não temos dados precisos, mas a realidade local não foge da média nacional”, afirmou o médico pneumologista Redimir Goya, que atua diretamente na prevenção ao tabagismo no município, coordenando o Ambulatório do Combate ao Tabagismo.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o número de adultos que utilizam cigarro eletrônico cresceu 24% entre 2023 e 2024. O uso do cigarro convencional também teve alta de 25%, superando os índices dos últimos dez anos. A pesquisa foi divulgada na quarta-feira, 29, pelo Ministério da Saúde, em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco.
O médico alerta para a gravidade da situação, especialmente entre adolescentes e adultos jovens. “A maior preocupação é com os jovens. A incidência do cigarro eletrônico é alta e há tendência de aumento.”
Ele destaca que a exposição precoce à nicotina pode gerar dependência e abrir caminho para outras substâncias. “O aumento do uso do tabaco entre jovens preocupa porque há uma tendência muito grande à dependência da nicotina e, por consequência, ao consumo do cigarro convencional. Isso acarreta mais de 50 doenças associadas ao hábito de fumar. O cigarro também pode ser porta de entrada para outras drogas ilícitas, como já demonstram estudos.”
Ainda que falte um sistema de vigilância específico, a prática médica tem revelado esse crescimento. “Não existe ainda um trabalho voltado exclusivamente para o monitoramento, mas sabemos, pela prática em consultório, que o consumo tem crescido, principalmente entre os jovens.”
Francisco Beltrão conta com um importante serviço de enfrentamento ao tabagismo: o Ambulatório do Combate ao Tabagismo, que funciona há mais de 16 anos e já atendeu mais de 5 mil pacientes. “O ambulatório funciona todas as quartas-feiras, é referência no Paraná e já recebeu premiações.” Além disso, a Unioeste mantém um grupo voltado à conscientização dos malefícios do tabaco entre estudantes. Quanto à atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proíbe a comercialização e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil, o profissional considera a medida essencial. “É fundamental a posição da Anvisa. Ela deixa claro para a população que o cigarro eletrônico é perigoso e não tem aval dos órgãos de saúde.” Sobre os efeitos clínicos associados ao uso dos dispositivos, o médico informou que ainda é cedo para avaliar impactos em larga escala, mas há registros preocupantes. “Ainda é muito precoce para termos dados consolidados, mas já tivemos casos na nossa região de pneumonia associada ao cigarro eletrônico, que é um quadro muito grave.”
O Dia Mundial sem Tabaco foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1987 para alertar a população global sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo.