“Subitamente perdi a concentração, cometi um erro estúpido e joguei tudo fora. Aquilo me fez refletir sobre um monte de coisas. Sou a mesma pessoa, mas a força mental mudou”. (Ayrton Senna)
O que rumava para se confirmar um final de semana perfeito terminou em decepção. Essa foi a sensação de quem tinha por certa a vitória de Ayrton Senna no GP de Mônaco deste domingo, 15 de maio de 88.
Depois da pole position arrasadora no sábado, quando foi 1,4 segundos mais rápido que Alain Prost, Senna liderava a corrida com larga vantagem. Na volta 59 quebrou o recorde da pista: 1:26.3. Como tinha aproximadamente 54 segundos de vantagem para o segundo colocado, Alain Prost, recebeu ordem de Ron Dennis, via rádio, para diminuir o ritmo. Foi quando tirou o pé, perdeu a concentração e cometeu o erro que o levou direto ao guardrail na entrada do túnel, na volta 77.
Ayrton não voltou para os boxes. Como seu apartamento no Principado fica a cerca de 200 metros, foi para casa. Coube ao repórter da TV Globo, Reginaldo Leme, o papel de porta-voz e comunicar à imprensa mundial — e à própria equipe McLaren —, o relato oficial do piloto sobre o acidente.
Ironicamente, nenhum dos brasileiros completou a prova. Nelson Piquet abandonou na primeira volta, enquanto que Maurício Gugelmin completou 45 das 78 voltas.
Confira o resultado do GP de Mônaco de 88:
1º Alain Prost – McLaren-Honda MP4/4 – 1:57:17.077 (132.797 km/h)
2º Gerhard Berger – Ferrari F187/88C – 20.453
3º Michele Alboreto – Ferrari F187/88C – 41.229
4º Derek Warwick – Arrows-Megatron A10B – 1 volta
5º Jonathan Palmer – Tyrrell-Ford 017 – 1 volta
6º Riccardo Patrese – Williams-Judd FW12 – 1 volta
7º Yannick Dalmas – Lola-Ford LC88 – 1 volta
8º Thierry Boutsen – Benetton-Ford B188 – 2 voltas
9º Nicola Larini – Osella-Alfa Romeo FA1L – 3 voltas
10º Ivan Capelli – March-Judd 881 – 6 voltas
Abandonos:
Ayrton Senna – McLaren-Honda MP4/4 – 12 voltas
Mauricio Gugelmin – March-Judd 881 – 33 voltas
Nelson Piquet – Lotus-Honda 100T – 78 voltas
Confira a classificação do campeonato de pilotos:
1º Prost – 24 pontos
2º Berger – 14
3º Senna – 9
4º Piquet – 8
5º Warwick – 7
6º Alboreto – 4
7º Boutsen – 3
8º Alboreto – 2
9º Palmer – 2
10º Nakajima – 1
11º Nannini – 1
12º Patrese – 1
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Ayrton tinha um objetivo muito claro: superar Alain Prost. Para ele, o francês era o melhor da Fórmula 1 e para ser o melhor, deveria batê-lo. E que oportunidade melhor que essa para colocar uma volta sobre o “Professor”?
Contudo, ele caiu numa armadilha do companheiro de equipe. Prost, que havia caído para terceiro, ao ultrapassar Gerhard Berger melhorou suas voltas em oito décimos, na esperança de induzir Senna a acelerar mais também e, talvez, se atrapalhar com algum retardatário. E funcionou.
Posteriormente Senna declarou que um momento tão negativo no campeonato, como foi seu abandono, acabou sendo muito importante para seu fortalecimento psicológico: “Monte Carlo foi a virada no campeonato. O erro que cometi me mudou psicológica e fisicamente. Era um fim de semana cem por cento perfeito. Subitamente perdi a concentração, cometi um erro estúpido e joguei tudo fora. Aquilo me fez refletir sobre um monte de coisas. Eu tinha a ajuda de minha família e de outras pessoas que me davam força. Sou a mesma pessoa, mas a força mental mudou”.
(Fonte: Ayrton Senna – A Face do Gênio, Christopher Hilton e Ayrton Senna – A Face do Gênio, Christopher Hilton)