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Francisco Beltrão
segunda-feira, 23 de junho de 2025

Edição 8.230

21/06/2025

Inteligência Artificial cresce, mas fator humano ainda é prioridade no mercado da Tecnologia da Informação


O que por anos foi um recurso de ficção científica, a IA se tornou ferramenta cotidiana de todas as faixas etárias. Mas, mesmo com a tecnologia, o setor sofre com a falta de mão de obra humana. Empresas já buscam estratégias para incentivar os jovens a entrarem no mercado de trabalho.


A Inteligência Artificial pode ter se tornado popular recentemente, mas seus fundamentos teóricos remontam à década de 1930, ainda com os trabalhos do matemático britânico Alan Turing. Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing contribuiu significativamente para a quebra do código da máquina nazista Enigma, ajudando os Aliados, embora não se falasse em IA como a conhecemos hoje. Em 1956, com a conferência de Dartmouth, a inteligência artificial viria a tomar forma oficialmente.

Com o passar dos anos e com a evolução da tecnologia, o que estava restrito a laboratórios tornou-se uma ferramenta acessível e indispensável – em novembro de 2022 – a qualquer um que desejasse utilizá-la da maneira que bem entendesse, seja para ajudar com o trabalho complexo ou para pedir a sugestão de uma simples receita de bolo. O lançamento da OpenAI alteraria nossa realidade permanentemente.

Hoje, a preocupação está na perspectiva futura de um mercado que, por anos, se manteve sólido e era tido como a profissão do futuro: a Tecnologia da Informação. Mas, apesar do receio de muitos — profissionais e acadêmicos — quanto à instabilidade do mercado, Guilherme Kempa, coordenador do Núcleo Beltronense das Empresas de Tecnologia da Informação (Nubetec), enxerga a inteligência artificial como uma ferramenta útil para a área e que ainda depende do ser humano.

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Guilherme Kempa. Foto: Arquivo pessoal.

“É uma nova forma de você desenvolver, de trabalhar com as ferramentas. O profissional que está se qualificando em IA tem um diferencial. As empresas aqui na nossa região já estão trabalhando forte com IA. Um bom profissional de IA vai ter uma empregabilidade bem melhor.”

A escassez da mão de obra na Tecnologia da Informação

Uma pesquisa realizada pela PwC, empresa especializada na gestão de riscos corporativos, indicou que, em 2024, um ano após o lançamento do ChatGPT, 73% das empresas americanas já haviam adotado a IA em alguma área dos seus negócios. O estudo também apontou que a IA poderá criar cerca de 2,7 milhões de empregos apenas no Reino Unido até 2037.

A beltronense Alicia Bordignon tem 16 anos. Ao falar sobre a inteligência artificial, diz que se sente segura, que não tem preocupações e não a vê como um obstáculo. Ela está no último ano do ensino médio no Colégio Suplicy e já faz estágio na Ellon, empresa de tecnologia em gestão de Francisco Beltrão.

Com relação ao mercado de trabalho, Alicia acredita que a tecnologia substitui algumas funções cotidianas, “mas ainda é necessário ter pessoas para validar e interpretar os resultados, gerando novas formas de trabalho na área. Vejo a IA como uma ferramenta de suporte para potencializar o trabalho humano, não uma ameaça direta.”

Colégios da rede pública ofertam cursos profissionalizantes de TI

Por Jônatas Araújo – A Secretaria de Estado da Educação (SEED), por meio do Departamento de Educação Profissional (DEP), tem reforçado ações estratégicas para aproximar os alunos da rede estadual do mercado de trabalho. No Núcleo Regional de Educação (NRE) de Francisco Beltrão, o foco tem sido conectar os estudantes dos cursos técnicos ao setor produtivo local, criando oportunidades de inserção profissional ainda durante a formação.

Segundo o técnico pedagógico Júlio Pedro Davidonis, que atua diretamente na pasta da Educação Profissional no NRE, o curso técnico em Desenvolvimento de Sistemas — vinculado à área de Tecnologia da Informação — está presente em cinco municípios da região. Em Francisco Beltrão, a formação é ofertada em três instituições: os colégios Suplicy, Mário de Andrade e Tancredo Neves. Juntas, essas unidades somam 315 alunos matriculados.

Júlio Pedro Davidonis. Foto: Arquivo pessoal.

“A SEED, junto ao DEP, tem uma grande preocupação com a inserção do corpo discente no mundo do trabalho. Para atender essa demanda, criamos dentro da Educação Profissional o eixo da Empregabilidade, que tem o objetivo de articular, junto ao arranjo produtivo local, parcerias para oportunizar aos alunos vagas de estágio e Jovem Aprendiz, fazendo com que iniciem sua trajetória no mundo profissional”, explica Júlio.

De acordo com Júlio, apenas em 2024, mais de 500 estudantes dos cursos técnicos da rede estadual na região participaram de programas de estágio ou como Jovens Aprendizes.

Empresas estão investindo em jovens e adolescentes

Por Jônatas Araújo – Por ano, o Brasil forma cerca de 53 mil profissionais na área de Tecnologia da Informação; a demanda anual do mercado interno é de 159 mil. A Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais) estima que o déficit de profissionais da área de Tecnologia da Informação no Brasil chegue a 800 mil em 2025.

Analisando o cenário atual, Guilherme Kempa diz que, apesar do crescimento da TI nos últimos anos — não apenas em Beltrão e região, mas em todo o mundo — o mercado brasileiro, além de lidar com os poucos profissionais que são formados anualmente, também precisa disputar o espaço com empresas internacionais que cada vez mais apadrinham a mão de obra interna.

Outro fator de impacto é encontrar o profissional certo para a área exigida e que vá além da habilidade técnica. “Esses profissionais, muitas vezes, estão se formando só com habilidades técnicas, e uma empresa precisa também olhar para o comportamento, trabalho em equipe, como lida com situações de estresse. O grande déficit das empresas é realmente achar alguém que se encaixe no perfil mesmo da empresa”, explica Guilherme.

O programa Trilha do Conhecimento já traz resultados em Beltrão, diz Guilherme

Com a preocupação da escassez, muitas empresas estão buscando meios para incentivar e formar jovens e adolescentes na área da Tecnologia da Informação. Em Francisco Beltrão, a Nubetec já trabalha com projetos que auxiliam na formação de jovens estudantes da região.

A Nubetec é um braço da Associação Comercial e Empresarial de Francisco Beltrão (Acefb) e, atualmente, conta com 11 empresas de tecnologia nucleadas. Guilherme diz que, enxergando a necessidade de moldar os alunos para melhorar na parte comportamental e na habilidade de trabalho em equipe, o núcleo tem criado estratégias e programas para inserir alunos no mercado de trabalho desde cedo.

“A gente trabalha desde a base. Faz um despertar tecnológico na criança para que ela comece a ter contato com a parte tecnológica. Depois nós aprimoramos o trabalho em cursos específicos, como a Trilha do Conhecimento. Aplicamos na prática algumas linguagens de programação, tem conteúdo sobre comportamento, sobre trabalho em equipe, sobre situações de estresse, sobre como criar um currículo. Isso tem auxiliado os jovens na hora da contratação.”

O coordenador do núcleo diz que cada vez mais as empresas locais estão se envolvendo e se preocupando com a formação de estudantes, e os resultados já são visíveis. Cerca de 10% dos jovens alunos que terminam o programa, ofertado pelo núcleo em parceria com Prefeitura, já conseguem ser integrados ao mercado de trabalho.

“Geralmente a gente consegue absorver de dois a três profissionais de cada turma, o que é um bom número. Estamos falando de mais de 10% dos alunos que entram. A gente já consegue, de uma forma ou outra, liberar um estágio direto para eles. É uma cultura que temos que trabalhar nas empresas, não só nas nucleadas da Nubetec, para que tenham esse interesse de contratar alunos. Com as empresas se envolvendo mais, a gente vai conseguir contratar mais do que contratamos hoje.”

De acordo com o diretor da Nubetec, o programa já formou mais de 40 alunos e, neste ano, abrirá mais uma turma com 26 alunos.

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