Alta taxa de juros e cotação do dólar acima de R$ 6 podem provocar vários impactos à economia.

JdeB – O professor Claudemir de Souza, mestre em Ciências Contábeis e doutor em Administração; analista de valores mobiliários, avalia que o Brasil encerrou 2024 de forma positiva, mesmo com os problemas cambiais e a alta taxa básica de juros. Porém, com alta taxa de juros, emissão de títulos no mercado financeiro e cotação alta do dólar em 2025 podem prejudicar a economia e o mercado de trabalho.
“Fechamos o ano no positivo. Apesar das flutuações do dólar, apesar das encrencas no Congresso Nacional, vai ou não vai, a reforma tributária acabou sendo aprovada. Então, 2005 traz uma série de expectativas em relação ao que vai acontecer para o Brasil em termos econômicos. Quais as novidades que temos? Então, o Brasil fechou o ano com a taxa de desemprego em 6,1%, que foi divulgado pelo IBGE no mês, fechando o trimestre em novembro. Então, de dezembro vai vir um pouco melhor ainda, mas é a melhor taxa desde que o IBGE começou a medir. É a menor taxa de desemprego na história das medições do IBGE. O grande problema dessa redução é que o rendimento médio do trabalhador, apesar de ter melhorado, ainda está abaixo do patamar de 2020”, observou em sua coluna semanal na Rádio Educadora do dia 2 de janeiro.
Se for comparar entre o período de pré-pandemia, em 2019, e agora, em 2024, Claudemir argumenta que “melhorou, aumentou a população economicamente ocupada, porque tem muito emprego na praça, mas em termos de rendimento médio, ainda está abaixo de 2020. Em 2020, havia uma média de 3.292 reais, e agora o rendimento médio está na faixa de 3.285 reais”.
O professor Claudemir avalia que em termos de investimentos a situação está complicada para as empresas e pessoas físicas. “A situação é um pouco delicada, porque o Brasil fechou o ano com a taxa de juros a 12,25%, a taxa Selic. Já estamos olhando que, de fato, o aumento na taxa básica não está sendo suficiente para segurar a inflação. Em grande parte, pela valorização do dólar. No primeiro dia da abertura dos mercados, dia 2, o dólar já abriu em alta – foi superior a R$ 6,20. Então, fechamos o ano a R$ 6,18 e agora já abrimos com uma valorização de 0,54%, a R$ 6,21”, analisa.
Problema de credibilidade
Claudemir avalia que o governo vem tendo problema de credibilidade. “Credibilidade por quê? Porque é um governo que gasta mais do que arrecada. Gastando mais do que arrecada, as contas não fecham. Não fechando, o governo tem que emitir títulos no mercado. E quando lá fora está bem, a gente tem problema para captar recursos, para justamente cobrir esse rombo. E o que acontece? Por isso, tem que subir e subir cada vez mais a taxa básica de juros”, argumenta.
Cotação do dólar
A cotação do dólar acima de R$ 6 tem reflexos também na economia brasileira. Há uma pressão principalmente nos segmentos de alimentos e bebidas. “Temos muitos produtos de commodities que o Brasil produz, mas a cotação é internacional. Então, aumentando o dólar em relação ao real, começa a pesar no nosso bolso do consumidor. O que podemos esperar, então? Primeiro, o dólar nesse patamar é, pelo menos no que eu estou vendo agora, é insustentável. Não tem como o dólar ficar nesse patamar de R$ 6,20 a R$ 6,30. Tem analista, inclusive, já sinalizando que o dólar pode bater R$ 7. Mas o mercado age de forma exagerada, porque o patamar do dólar, para cair para a faixa dos R$ 6. Mas o patamar dele é na faixa de R$ 6,05, R$ 6,10. Por quê? Estamos aí para colhermos uma nova safra e a expectativa é de uma boa safra agrícola. E essa safra, à medida que a gente exporta os produtos, entram mais recursos. Entrando mais recursos, passa a pressionar o dólar e pode segurar esse aumento da cotação do dólar”, comenta o professor.
Aperto até o meio do ano
O professor pondera dizendo que até o meio do ano o Brasil enfrentará um aperto na economia por conta das altas taxa de juro e da cotação do dólar. A partir do meio do ano em diante o mercado vai se ajustando e a tendência é de amenizar os problemas porque o governo terá de adotar medidas econômicas que estimulem a economia já que em 2026 haverá eleições à presidência e governos estaduais. “Será um ano, de certa forma positivo, mas precisamos ficar de olho nas ações do governo”, prevê o professor.
Pacote fiscal
Outra situação abordada pelo professor foi o pacote fiscal aprovado pelo governo federal junto ao Congresso – Câmara e Senado – para limitar gastos públicos nos próximos anos e, assim, tentar conter a inflação. “O pacotão de contenção no aumento de despesas virou um pacotinho. E a gente fica aguardando, então, a sinalização dos próximos passos do governo federal. Passos que precisam trazer mais credibilidade para o governo. Por quê? Porque quando a taxa de juros está alta e a expectativa é que ela chegue, no meio do ano, a 15%, inibe os investimentos, por exemplo, a compra ou construção de imóvel, de maquinário ou expansão da produção ou de negócios.
Queda nos níveis de emprego
JdeB – O professor Claudemir José de Souza prevê que a economia vai dar uma parada em termos de negócios. “Menos novas construções e menos construções significa dizer menos emprego. Então, o emprego pode, sim, ser afetado por essa falta de novos investimentos em construção. Vamos pegar outro setor, dos empreendedores. Eles olham e falam: ´tá, eu preciso ampliar a minha produção. Para ampliar a produção, eu vou precisar aumentar o meu barracão, vou precisar comprar novas máquinas e equipamentos´. Quando ele vai no mercado para verificar as taxas de juros, elas inibem os investimentos.”
Ao não investir, o empresário não gera emprego e nem renda. “Então, o patamar de desemprego, a tendência é, neste ano, voltar a subir porque o empresário faz o cálculo: o que é melhor? Aumentar a produção? Investir em máquinas, equipamentos e instalações? Ou deixar o dinheiro parado se eu tenho dinheiro? Se não tem dinheiro, ele tem que ir para o mercado captar. Mas com essa taxa de juros, impossível”, avalia. Por isso, muitas pessoas vão ficar observando o comportamento do governo e da economia para investir ou não.
Reforma administrativa
Para o professor, a reforma administrativa é mais do que necessária para ajustar as contas públicas, para que o Brasil não dependa tanto de ter que ficar vendendo título público para captar recursos e pagar dívidas. Se não, imagina o mundo falando em taxas, Estados Unidos de 4% a 4,5%, os juros da economia americana que está altamente atrativa nesse patamar e nós tendo que aumentar, aumentar, aumentar a taxa básica de juros para a gente conseguir vender os nossos títulos. Então esse é o cenário, diante desse cenário a gente tem que fazer o dever de casa, que as contas não param.