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Francisco Beltrão
segunda-feira, 23 de junho de 2025

Edição 8.230

21/06/2025

O papeleiro que ganhou o mundo como jogador de futebol

Os jornalistas Ivo e Adolfo Pegoraro, pai e filho, com o ex-jogador Paulo Miranda, segunda à noite, no Santa Fé.
Foto: Santa Fé Clube de Campo.

A gente costuma olhar o jogador de futebol somente depois da fama, quando já está ganhando muito dinheiro, sendo admirado por muitas pessoas, pois se destaca na modalidade esportiva mais popular do mundo. Mas quando eu leio uma biografia, como a do Paulo Miranda, o livro “Vestiário Ganha Jogo”, percebo que o que aparece na mídia é apenas a ponta do iceberg. Tem muita coisa acontecendo nesse submundo das grandes metrópoles, jovens que tentam fazer a vida com o futebol, mas a grande maioria acaba fracassando, principalmente por conta da concorrência desleal. Ser um jogador de futebol de nível mundial é muito mais difícil do que ser um médico, promotor, juiz de direito, desembargador ou qualquer outra profissão concorrida e valorizada financeiramente.

Então imagina como é pra um menino pobre, que não tem como comprar passagens pra ir treinar e nem mesmo uma chuteira com condições de uso para chutar a bola. Essa era a realidade do Paulo Miranda, que passou o último final de semana aqui em Francisco Beltrão, visitando amigos e familiares. No feriado passado, eu devorei o livro dele, virei um fã incondicional do ex-atleta, atual gestor esportivo e palestrante.

Quantas pessoas você conhece que trabalhavam como papeleiro na adolescência pra manter o sonho de jogar futebol? Eu, pelo menos, só conheço o Paulo Miranda. Ele tem um depoimento muito forte e inspirador pra nos contar! Quando ele foi aprovado no Pinheiros, que depois fez a fusão com o Colorado e formou o Paraná Clube, precisava pegar o ônibus pra ir treinar, porque se criou no bairro Xaxim em Curitiba, muito distante do local onde precisava mostrar seu futebol.

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Paulo Miranda e seu amigo Perdigão, que foi campeão do Mundial de Clubes com o Internacional em 2006, fizeram isso por muito tempo, catando papel e vendendo para a reciclagem. A parte de ganhar dinheiro com o futebol veio quase uma década depois, mas depois de abrir mão de muitas comodidades, de cumprir suas metas com muita disciplina e de ter uma personalidade e uma vontade de vencer fora do comum.

O maior teste não foi no futebol

Mas o maior teste da vida de Paulo Miranda não veio no futebol, mas no mundo da reciclagem. Teve um dia em que ele percebeu que outros meninos chegavam com o carrinho cheio de reciclados e ganhavam muito mais do que ele e seu amigo numa tarde de trabalho. Depois ele descobriu que esses meninos “espertos” estavam fazendo pequenos furtos de fios de cobre e outros materiais para vender e fazer dinheiro mais rápido. São os famosos “atalhos” que a vida nos apresenta às vezes.

Certo dia o menino Paulinho foi convidado a fazer parte da turma que furtava casas e empresas. Numa situação de vulnerabilidade social, Paulo Miranda teve força o suficiente para recusar o convite e, mesmo ganhando menos, manter a dignidade, seguir os princípios que aprendeu com seus pais. Afinal de contas, honestidade não tem classe social. Hoje, quase 40 anos depois, nenhum daqueles meninos “espertos” consegue contar uma história de superação como a de Paulo Miranda, que foi campeão nacional na França pelo Bordeaux, marcou Zidane em um amistoso com a seleção e intermediou conflitos entre Edmundo e Romário no auge do Vasco da Gama de Eurico Miranda.


Esse menino pobre que transformou a sua vida e a de sua família com o futebol conseguiu, com muitos experimentos, algo que ninguém consegue comprar: a leve consciência de quem trabalhou muito, acima da média, para alcançar seus objetivos, sem precisar pisar em algum concorrente ou puxar o tapete de quem impusesse dificuldades em sua trajetória.

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