Foi dito que Delfim foi um socialista fabiano. E isso se deduz pelo nome da sua única filha, Fabiana Delfim.
Morreu Delfim Netto, poderoso ministro nos governos militares de Costa e Silva, Médici e Figueiredo. Consta que ele queria ser governador de São Paulo, mas o pessoal do poder não quis e o presidente Geisel nomeou-o embaixador do Brasil em Paris, na segunda metade da década de 70. E ele disse então, em frase resgatada agora por causa da sua morte, que foi o período que ele mais leu na vida. Deve ser verdade. Aliás, deve ser um dos melhores empregos do mundo o de embaixador do Brasil em qualquer lugar do mundo. Nosso país não é conflituoso, daí que a embaixada não entra em polêmicas e tal. O embaixador e seus auxiliares têm tempo pra ler à vontade.
Mas o que também chamou atenção, com a morte de Delfim, foi sua imensa biblioteca — uma reportagem disse ser um acervo de 100 mil obras, outra, 250 mil. E ele doou milhares de livros para a USP em 2011 e a universidade teve que construir um novo espaço para receber o presente.
Parece inacreditável alguém ter cem mil livros, o que dirá 250 mil. Muitos — ou milhares desses muitos — servem mais para enfeite na estante do que necessariamente ter sido objeto de uma leitura e reeleitura. Vamos fazer uma conta otimista. Se a pessoa lê um livro por semana, são uns 50 livros lidos num ano. Em dez anos, 500 livros lidos. Em 50 anos, 2.500. Se forem, vá lá, dois livros por semana, serão cinco mil em 50 anos. Ou seja: ninguém lê 100 mil livros numa vida. Mas é bacana ter uma biblioteca, é bonito de ver na sala aquela prateleira forrada, etc.
Foi dito que Delfim foi um socialista fabiano — os socialistas fabianos do século 19 defendiam que, através de reformas, a sociedade ficaria socialista, e não através de revoluções, como queriam os marxistas — e isso se deduz pelo nome da sua única filha, Fabiana Delfim. E na reta final de sua carreira, virou lulista, se transformando num conselheiro do governo fabiano do PT. Foi resgatada também uma frase do presidente Lula de 2006, pedindo desculpas “pelos 30 anos criticando o Delfim”.
E ele também foi personagem do Jô Soares — o dr. Sardinha —, que, igualmente gordo, encarnava bem o economista que não sabia nada do ramo agrícola e só repetia “meu negócio é números”.