Geral
No começo eram apenas especulações de experimentados jornalistas, que detectavam precocemente um governo de duas cabeças na administração Lula: os ministros José Dirceu e Antônio Palocci estariam em pé de guerra um contra o outro, com seus respectivos grupos de apoio, a fim de definir a diretriz do lulismo no poder.
Aos poucos a disputa ganhou corpo em toda imprensa (menos na Rede Globo) e agora adquire contornos de luta mesmo, com a nova atribuição dada a Dirceu ? coordenador da aparentemente poderosa Câmara de Política de Desenvolvimento Econômico. Em tese, superior à velha Câmara de Política Econômica, coordenada por Palocci.
Bom, cabe observar que o governo nunca admitiu e nunca admitirá que há divisão. Para o público externo, para as entrevistas oficiais e para os discursos de Lula, o governo é todo coeso.
Mas é estranha essa coesão, onde os derrotados no embate interno normal de um governo são sempre os que se imaginaria que fossem o PT. Ou que o PT no poder não fosse tão distante do PT como partido oposicionista.
É só lembrar. No embate dos transgênicos, a dupla de ministros petistas Marina Silva (Meio Ambiente) e Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário) foi até agora sempre derrotada pelo ministro do latifúndio e do agronegócio Roberto Rodrigues (Agricultura).
Sobre os juros: a política mantida por Palocci é a mesma de Malan ? aquela que o petismo do passado prometeu mudar…
No que diz respeito à procura dos corpos de desaparecidos na guerrilha do Araguaia, Lula obedeceu os militares e fez o governo recuar, frustrando uma bandeira dos direitos humanos não só do PT, mas de todos setores que lutam pela democracia como valor universal.
A relação fisiológica do lulismo com o Congresso ? para aprovar o que deseja e abafar CPIs ? é igual a de FHC, Itamar, Collor e Sarney.
Enfim, ano que vem se discutirá a autonomia do Banco Central em relação ao governo. Dirceu é contra, Palocci é a favor.
Vamos atentar para a disputa e ver se Dirceu (que seria o representante do antigo PT) ganha uma pelo menos, e faz o gol de honra.
