O golpe militar salvou o Brasil em 1964, porque o país estava uma bagunça, todos os relatos jornalísticos indicam isso.
Nesta semana, vimos as lembranças de praxe sobre o 31 de março de 1964, quando teve o golpe militar — que salvou o Brasil.
Isso mesmo. Salvou, porque o país estava uma bagunça, todos os relatos jornalísticos indicam isso. É só estudar e ver. E contextualizar, claro. Editoriais de jornal pedindo golpe (Correio da Manhã, Globo, Estadão, etc.) e repetidas manchetes da Última Hora defendendo o autogolpe do presidente Jango.
Ninguém defendia a democracia naquele período tenso — o mundo era o mundo da guerra fria, não vamos nos esquecer, o planeta estava dividido entre EUA e URSS.
Ninguém, pois, queria “salvar a democracia” como escutamos porta-vozes da esquerda a dizer nos nossos dias. Ou a dizer sempre, desde a redemocratização, quando fomos ensinados a acreditar que os militares eram os malvados e os grupos extremistas eram os “defensores da liberdade”, etc. Nada disso, se pudessem, esses grupos imporiam uma ditadura à moda Cuba no Brasil. Nos seus documentos, porém, está dito “democracia popular”, ou “democracia das massas”, ou, mais cru, “ditadura do proletariado”. Quem quiser um dia garimpar sobre isso indico “Imagens da revolução — documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961 – 1971”, dos professores de esquerda Daniel Arão Reis e Jair Ferreira de Sá.
Li essa obra quando era jovem, nos anos 80 (vi agora na Amazon que foi relançada neste século), e na época eu achava normal ter a democracia como um mero detalhe — e não como um fundamento. Eu era, enfim, um esquerdista.
Vamos lá. Resumindo 1964: O autogolpe governista, com o presidente Jango se transformando num ditador, faria os comunistas soviéticos invadirem o Brasil para que virássemos uma imensa Cuba (isso na verdade não aconteceria, porque os EUA não deixariam. O país mergulharia numa guerra civil de proporção jamais vista por aqui. Seria um caos).
O presidente Jango foi sensato em não se deixar levar pela ânsia do seu cunhado, o mercurial deputado federal Leonel Brizola, que estava a fim de tudo…
Jango, em sua sensatez, salvou milhares de vidas brasileiras.
Sensatez, sim, porque o horizonte era de derrota e sangue: o autogolpe não teria amplo apoio popular, e muito menos a resistência ao golpe militar. Jango não quis resistir e foi embora. E salvou vidas. De verdade.
Dou um pouco de risada quando vejo a esquerda brasileira lembrando do 31 de março de 1964 e tal, se colocando como detentora de valores virtuosos que teriam sido solapados pelos intransigentes…
É isso que se costuma chamar de “narrativa”. Existe o fato e o fato é complexo, mas ele é contado conforme o narrador acha mais conveniente. E assim a esquerda (partidos, jornalistas, universidades, novelas, filmes, livros, peças, historiadores…) fica arrotando que “defendia a democracia”.
Eita…
Não é ignorância, é malandragem.