Está reforçada a polarização entre o presidente Bolsonaro e Lula. E nem vai ter debate. Cada um deles vai ficar no seu bunker gravando suas mensagens.
Cargo majoritário não é brincadeira. A menos que o sujeito seja alguém meio fanfarrão, a fim de brincar, tipo Cabo Daciolo, ou outros que não batem bem da cabeça, uns tantos na história recente das campanhas brasileiras.
Mas quando a coisa é à vera, aí complica, o sujeito tem que ser muito forte. Sergio Moro não aguentou e desistiu — vai seguir e enfileirar uns mandatos de deputado federal e tudo bem.
Mas eu achava, sinceramente, que ele estava preparado, que era forte, porque depois de enfrentar o que ele enfrentou à testa da Lava Jato — enfrentou poderosos de matizes políticas e financeiras, com risco de morte e tal —, achei que a pessoa enfrentaria qualquer coisa.
Há um detalhe, porém, que eu até alertei em comentários meus — talvez meu instinto pressagiando o desfecho que assistimos anteontem —, é a insignificância do Podemos, um partido de nada.
E logo que Moro assinou ficha na legenda e começou então o bombardeio dos adversários, ninguém da sigla saiu em sua defesa. Somente o MBL e alguns jornalistas davam o troco. Coitado do Moro, ficou praticamente sozinho.
Mas repito, eu achava que ele aguentaria, e quando surgiram especulações de que ele poderia migrar para o União Brasil, eu me animei, porque esse partido é uma fusão dos caciques do DEM e do PSL. Se eles abraçassem a candidatura, aí talvez…
Mas que nada. Moro foi para o União Brasil e já recebeu uma cartinha pública da galera, dizendo que não terá espaço para voos presidenciais.
Felizes, mesmo, com a queda de Moro, estão o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Até um outro personagem que chegou na política há pouco, e quis romper com muita coisa, foi sabotado dentro do próprio partido: João Doria.
Que recado que fica? Que política é somente para políticos profissionais. E o cara que quiser adentrar nesse universo tem de começar devagar, sem assustar, porque lá em cima todos são amigos e sabem dividir o botim.
A Lava Jato quis dar um choque de moralidade na coisa toda — e teve ótimos resultados, desmascarando um grande esquemão (que pode voltar, todos sabemos) e promovendo um inédito repatriamento de dinheiro público que havia sido desviado, seja para campanhas ou para conforto próprio —, mas sofreu o contragolpe, com a união de todos, lulistas e bolsonariats à frente, a fim de restaurar o passado.
Eu lamento a saída de Moro, porque o eleitorado perde uma opção que poderia contribuir para o debate e se apresentar como alternativa. E uma alternativa séria.
Do jeito que está o quadro, está reforçada a polarização entre Bolsonaro e Lula. E é isso que eles querem mesmo. E eles têm razão, porque entre eles a briga estará equilibrada.
E nem vai ter debate. Cada um deles vai ficar no seu bunker gravando suas mensagens.