Patrulhas de esquerda de um lado e as “tias do zap” de outro. Hoje, o Pix do PT, ano passado foi a “privatização das praias brasileiras” do bolsonarismo.
Badger Vicari – A “novela do Pix”, como definiu um jornalista da grande imprensa nesta semana, terminou com uma derrota estrondosa do governo do presidente Lula. E com um herói nacional, o deputado federal do PL de Minas Gerais Nikolas Ferreira — o mais votado do Brasil em 2022 (1,5 milhão de votos) —, com um vídeo assistido 300 milhões de vezes.
Imagino o mau humor no núcleo duro do governo, nocauteado por um parlamentar que vai fazer 30 anos em 2026.
Nikolas caminha para ser maior que Bolsonaro e talvez estejamos assistindo à ascensão de um líder que vai ser protagonista nas próximas décadas. E ele tem certa independência do bolsonarismo tradicional. Ano passado, por exemplo, flertou com Pablo Marçal para prefeito de SP, não obedecendo a aliança do PL com o prefeito Ricardo Nunes.
Mas afinal, o Pix seria taxado? O argumento que deu força a toda a movimentação da oposição foi de que, futuramente, seria, porque nesse momento estava sendo formado um banco de dados que, no passo seguinte, serviria de base para a taxação.
O governo diz que isso serviria para combater a sonegação e tem razão nisso. Mas também tem razão a oposição quando ataca o desespero arrecadatório do governismo, que se recusa a promover uma reforma administrativa, que se recusa a apresentar uma pauta de reformas, quando, enfim, promoveu um retrocesso ao revogar as iniciativas do governo Michel Temer (2016-18), que deram alento ao país — Lei das Estatais (impedindo o aparelhamento político das empresas públicas) e o teto de gastos (o país não poderia gastar mais do que sua arrecadação), para citar duas medidas que, se tivessem tido continuidade, acredito, sinceramente, o país estaria numa situação melhor.
Mas vivemos o tempo das “narrativas”, das patrulhas de esquerda de um lado e das “tias do zap” de outro, e quem emplaca seu terremoto particular, vence. Ano passado, lembremos, uma PEC relatada pelo senador Flávio Bolsonaro foi acusada pelo lulismo de “privatizar as praias brasileiras”.
“O povo simples não poderá mais ir à praia gratuitamente”, lamentavam os jornalistas de esquerda…
Fui dar uma pesquisada e a tal PEC está parada em alguma gaveta do Senado. Seu objetivo (já aprovado na Câmara dos Deputados em 2022) é regularizar “terrenos de marinha”, uma questão que beneficia as administrações municipais litorâneas e tal. Mas quem se importa? O que vale é a narrativa. Talvez se um senador petista fosse o relator, já estaria aprovada e nem teria sido notícia. Mas o relator é um Bolsonaro…
Voltando a Nikolas. Bem ou mal, ele é prova de que no campo da direita há uma variedade maior de lideranças em ebulição. Há os líderes que estão firmes na órbita do bolsonarismo (governador Tarcísio de Freitas, por exemplo) e há os líderes mais independentes (governadores Ratinho Júnior e Romeu Zema); há também aqueles à direita fora desse campo gravitacional bolsonarista, que vão criando o seu caminho, como o senador Sergio Moro e o deputado federal de SP Kim Kataguiri, do MBL. Enfim, existe mais variedade.
E pela esquerda? Vamos rir ou chorar? Há 40 anos só o presidente Lula. E num lapso de tempo que não foi ele o protagonista, foi então uma liderança atrapalhada e risível, a ex-presidente Dilma Rousseff.