21.7 C
Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

A Igreja Canoeira e Cabocla do Vale do Guaporé

Igreja Canoeira

O Brasil nasceu sob o signo da Cruz, as caravelas cabralinas foram financiadas com dinheiro sobrante da Ordem de Cristo, como tão bem estudou Tito Lívio Ferreira. Nossa vida colonial está mesclada com a vida da Igreja. Não há como separar a vida nacional da vida da Igreja. 
Na nova conquista da Amazônia, agora no século XX, novamente a Igreja se fez presente. Eu mesmo, quantas vezes testemunhei o trabalho da Igreja canoeira na Amazônia.   
Não me esqueço da viagem de 1982, durante uma semana, pelo rio Aripuanã desde o Matá-matá até Nova Aripuanã no barco de madeira “Catuçáua Igara”, da  Diocese  de Humaitá. A cada parada nas comunidades ribeirinhas, o padre realizava casamentos, celebrava missa, na execução da Desobriga. 
Em dezembro de 2006, desci os rios Guaporé e Mamoré durante oito dias, juntamente com Dom Gerard Verdier e o padre Jean Piccard. Visitamos várias aldeias ribeirinhas. Escrevi uma série sobre essa grande viagem. Poderia relembrar várias outras viagens, mas quero falar  especificamente da região de Costa Marques, da capela de Nossa Senhora Aparecida (na Cachoeirinha a 45 km da Costa Marques no rumo norte).
Lembro-me da celebração, em dezembro de 2006, da crisma de 10 crianças e jovens, a ordenação da diaconisa Sueli por Dom Gerard Verdier, francês que abraçou o vale do Guaporé como sua terra. Durante 33 anos ele comandou a diocese de Guajará-Mirim, hoje chefiada por Dom Benedito Araújo.  
Numa clareira, os moradores, quase todos sulistas, ergueram modesta capela de madeira, sem forro, com duas janelas laterais. Imagino que hoje já haja uma igreja de alvenaria. Na foto que bati aparecem quase todas as pessoas da comunidade. Na porta da Igreja estão o bispo Dom Gerard Verdier e o padre Jean Piccard, que voltou à França depois de 10 anos em Costa Marques. Esses dois religiosos, como tantos outros, ajudaram a conquistar aquela parte do Brasil, a civilizar o nosso povo. 
Quanto sacrifício, quanto trabalho social e pastoral ao longo dos anos. O processo inicial de colonização (apoiado pelo Governo Militar) consistia em derrubar a mata pelo machado e pelo fogo, formar roças, criar gado e tirar a madeira. Quantas vidas ceifadas pela malária! Pela febre amarela, por picadas de cobras!
Ainda não foi escrita a saga rondoniense do século XX, embora já haja alguns livros escritos como os de Yeda Pinheiro Borzacov e de seu marido Eduardo Constantino Borzacov, que escreveu 
“Glossário do Linguajar Amazônico”, os estudos  de Ary Tupinambá (que visitei em 84, quando pude conhecer sua valiosa biblioteca, em Porto Velho), de Roquette Pinto, assim como os livros de Dom Gerard Verdier “Au Coeur de L’Amazonie, la église des pauvres”( 2006), e “Paixão pela Amazônia” (2012). (Cabe registrar que sai na França uma revista trimestral “Lettre d’Amazonie”, que publica notícias sobre a Diocese de Guajará-Mirim). Essa  diocese faz imensos esforços para formar um clero eminentemente brasileiro. Para tanto tem uma dezena de seminaristas estudando no Paraná.  
Meu filho Afonso Henrique Bevilacqua Baleeiro de Lacerda, médico pela UFSC, teve a oportunidade de estagiar no Hospital Indígena de Guajará-Mirim, iniciando assim sua experiência amazônica, aonde seus  penta-avós paternos chegaram em 1880.
A foto de minha autoria, que publico nesta coluna, é, por certo, um documento para o futuro município de Cachoeirinha, a 45 km de Costa Marques, então cercado pela floresta amazônica.

Capela de Nossa Senhora Aparecida (em Cachoeirinha), pessoas da comunidade, crismandos e diáconos. Na porta da igreja o bispo Dom Gerard Verdier e o padre Jean Piccard.
(Foto: Jorge Baleeiro de Lacerda – dezembro de 2006).

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques