Geral
Ao longo de mais de 20 anos, aqui e acolá, recolhi dados e referências à paixão de Getúlio Vargas por cavalo. Na Estância São Pedro, interior de Barra do Quarai, outrora pertencente ao município de Uruguaiana (RS), ouvi do estancieiro Marco Aurélio Pons Rodrigues, dono dos 9 mil hectares da Estância São Pedro, estórias dos 103 dias que Getúlio passou na estância, então de seu amigo Batista Lusardo, entre 3 de outubro de 1950 e 17 de janeiro de 1951, quando deixou rumo ao Palácio do Catete a costa do Rio Uruguai, que tanto contemplou em suas cavalgadas nas folgas das reuniões para traçar rumos, durante dias, com Estillac Leal, João Neves da Fontoura e Batista Lusardo, no “Castelinho”, construção ainda existente.
Os que denigrem a imagem de Getúlio, de maneira especial os udenistas de todos os tempos, nele só observam e enfatizam o ditador, o político maquiavélico, sem jamais observarem que não haveria reformas de base, não haveria CLT, justiça social, por mais incompleta que fosse, se o Congresso Nacional continuasse como era: um ninho apenas das elites dominantes, sem que a pobreza tivesse a menor possibilidade de se libertar um pouquinho das amarras das oligarquias rurais e urbanas. Getúlio, descontente com a elite dominante, sem lhe tomar todo o poder, sabia que não podia cutucar a onça com vara curta. Quando mexeu com o grande capital, com a remessa de lucros… e buscou a afirmação nacional, lhe tiraram o tapete.
Os milhares de hectares de campo da Estância do Itu, Getúlio comprou aos pouco, de seu pai, o general Manoel do Nascimento Vargas que, logo que voltou da Guerra do Paraguai, começou a comprar campo no interior de São Borja, além de ter se casado com dona Cândida Dornelles Vargas, de família rica. Seu irmão Protásio se queixava de que ele só mandava buscar dinheiro, nunca investia na estância.
Como seu velho pai falecido à beira dos 100 anos, Getúlio montava bem a cavalo. Não foi militar da Cavalaria, sim da Infantaria, em sua experiência como sargento na região de Corumbá, Mato Grosso, e na sua passagem pela Academia Militar do Rio Pardo. Nunca ninguém, pelo visto, lhe perguntou se gostaria de ter sido oficial de Cavalaria. Quando deixou Porto Alegre, de trem, no estourar da Revolução de 30 para ir rumo ao Rio de Janeiro com parada em Ponta Grossa, Getúlio envergava a farda da Brigada Militar sem nenhuma divisa, quando poderia ter se promovido ao posto de Coronel Comissionado, afinal se tratava de um momento de Revolução.
Getúlio gostava de usar frases ligadas ao cavalo, como a célebre: “Em política há que se aproveitar quando o cavalo passa encilhado”. (Continua)