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Francisco Beltrão
terça-feira, 24 de junho de 2025

Edição 8.231

24/06/2025

Morreu o cedro de Assis Chateaubriand em Urupema, na serra catarinense

Geral

Ronei Arruda, dono da Fazenda do Cedro, em Urupema (SC), abraçando o célebre
cedro de 4 metros de circunferência por 35 metros de altura. Novembro de 2003.

Quando Assis Chateaubriand, depois celebrérrimo homem de nossa imprensa, em outubro de 1930, passou a cavalo por Urupema, Santa Catarina, o gigantesco cedro de 35 metros de  altura que deu nome à fazenda, hoje de Ronei Arruda, já contava uns 70 anos. Chatô percorreu, naquela semana do começo de outubro de 1930, umas 35 léguas em lombo de animal, pela serra catarinense. De Florianópolis até Bom Retiro, de carro, e daí até Urupema, Painel, Monte Alegre, São Joaquim e Bom Jesus a cavalo e, desta, até Porto Alegre, de carro, aonde chegou atrasado para encontrar-se com Getúlio, que saíra de trem rumo ao Rio de Janeiro.

Nesse trajeto, Chatô parou na Fazenda do Cedro, ali recepcionado por Maneco Arruda, avô de Ronei, que em novembro de 2003 me recebeu em sua fazenda, imortalizada pelo registro de Fernando Morais em “Chatô, o Rei do Brasil”, páginas 237 e 238. Através do livro de Fernando Morais cheguei a Ronei Arruda, que herdou a fazenda do avô.

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Ronei comemorou o aniversário do filho João Arthur, mas não esconde a tristeza de o centenário cedro, símbolo maior de sua fazenda e da Vila do Cedro, ter morrido fulminado por um raio: “Foi uma descarga brutal. O gigantesco cedro está secando rapidamente”, lembrou-me Ronei, que foi obrigado a cortá-lo. Seria o caso de a Fundação Assis Chateaubriand mandar colocar ali uma placa de bronze alusiva à passagem de Chatô, em outubro de 1930, e a morte do cedro, sob cuja sombra o então jovem jornalista comeu carne de caça e ainda, antes do sol se por totalmente, já se enrolara nas cobertas. No dia seguinte, Chatô e seu guia André rumaram até Painel, onde terminava a missão do guia e assumia Dinarte Couto de Arruda.

Conta a tradição que a avó paterna de Ronei cuidou dos ferimentos de Chatô, cavaleiro sem grande experiência… Havia se esfolado muito. A “virilha estava em carne viva”. Comenta seu biógrafo. Essa história passou de pai para filho. Ronei a repetiu para mim, enquanto cavalgamos pela fazenda (700 hectares). Em 1914, dois italianos cortaram os pinheiros e os deixaram secar. Em 1915 serraram e, em 1918, entregaram a casa pronta. A casa velha datava de 1879, segundo contavam os antigos. As taipas do curral e da “encerra” de porcos e de galinhas dão um toque de antiguidade à Fazenda do Cedro, que do morrinho da Cruz pode ser vista melhor. Desse ponto, o cedro parecia gigantesco, sobressaindo-se em relação às demais árvores. Fotografei o Ronei Arruda abraçando o cedro, mas seriam necessárias mais duas pessoas para circundá-lo. Aquele cedro seria um chamariz para um hipotético projeto de turismo rural na Fazenda do Cedro, ligando Chatô e turismo rural num só pacote. Quando cortaram o cedro, certamente chamaram o holandês Hans Van Kemper para plantar tulipas e narcisos ao redor do toco e Homero Camargo dirigirá um documentário sobre o tropeirismo nessa região. Por ali passavam as tropas que demandavam a São Joaquim, Vacaria e Porto Alegre. Outro igual só daqui 150 anos, se plantado agora. Não pude ir a Urupema ver a derrubada do velho cedro.

Vivo fosse, Chatô promoveria uma romaria com missa celebrada, no mínimo, pelo cardeal Primaz do Brasil com o núncio apostólico presente. Chatô era exagerado!

São Joaquim tem fama pelas suas nevascas no inverno e sempre está na televisão, mas Urupema nada fica a lhe dever, um dos lugares mais belos do Brasil, onde cai neve e lembra paisagens da Suíça.

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