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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

Nadando em rios traiçoeiros e outras braçadas

rios

Na minha mocidade, fui useiro e vezeiro em nadar  no açude da Fazenda Rosa dos Ventos, em Monerá – RJ. Não me importava com o ar gelado nem com a água muito fria do açude. Pulava assim mesmo. No inverno, não ficava mais de dez minutos, mas passava uma, duas horas no verão. Já nadei bem, afinal sou caboclo da Amazônia… embora  não possa dizer, como meus tios   e tios-avós, que fui curumim  da  beira  do Solimões ou  do Juruá. Só vim a nadar em rio amazônico em 1979,  quase na foz do Jutaí  com o rio Solimões. Depois, nadei no rio Camará, na Ilha de Marajó. Em São Félix do Araguaia – hóspede do bispo dom Pedro Casaldáliga – dei uma entradinha no rio e me assustei  com os jacarés… nas proximidades. Não me afasto  muito da beira do rio e contarei adiante a razão. Nadei, certa feita, uns vinte minutos no rio Uruguai, perto da ponte do Goio-En. Estávamos numa viagem de 4 mil km pelo Rio  Grande, lá  por 1997,  com os beltroneses Elpídio Merísio, Luís Merísio e Mário Lúcio Pinto, mineiro, meu amigo há 50 anos .
Acho que adquiri uma bronquite crônica na época de Monerá, de que tenho reflexos hoje. A água que abastecia o açude da Rosa dos Ventos vinha das montanhas de basalto dos fundos da fazenda, muito rica em água, córregos, tanto que tinha uma bela cachoeira. Todos os setores ou “bairros” da fazenda de 800 alqueires tinham água em abundância. A coisa mais fácil era represar água para formar açude. Nunca soube que houvesse morrido afogado alguém no açude dos fundos da sede da Rosa dos Ventos. Dividido em dois por um corredor com toras de eucalipto, que lembravam colunas. Só o açude de cima era liberado para o banho. No de baixo havia marrecos do Vietnã, patos, marrequinhos d’água. Nunca me banhei no açude de baixo.
Nosso banho diário, primeiro era no açude depois no chuveiro. Só não me banhava no açude  no auge do inverno que, na região de Duas Barras, Bom Jardim e Nova Friburgo, lembra o de São Paulo. Já tinha quase   25  anos  quando deixei de frequentar  a  Rosa dos Ventos, do Tio Januca, para sempre.
 Quando, aqui em Beltrão, comecei a nadar na piscina do Colégio Estadual Mário de Andrade, presente de Jayme Canet aos estudantes de Beltrão, quantas vezes me lembrei do açude da Rosa dos Ventos. O notável advogado beltronense Matheus Ferreira Leite e o professor e coronel Átila de Freitas testemunharam essa época: anos 1980  do Colégio Mário de Andrade. 
Nadei, depois, em diversos lugares dos Brasis. Em todos eles, nadei com receio e prudência, como na Ilha de Marajó, onde há muita piranha. Ali, naquela parte do Rio Camará, garantiram-me que não havia piranha, então pulei n’água. Nadei em Pirapora (MG), no Rio São Francisco, e noutros lugares como contei acima. Obviamente não me aventurava no meio dos rios, como fez, em 68, um conhecido recente, Delfino, que com mais um colega, Carlos Henrique, e eu fomos, arriscadamente, nadar abaixo da  represa da Usina da Ilha dos Pombos, no Rio Paraíba, município de  Além Paraíba. Quiçá para exibir-se, Delfino nadou até uma ilhota e na volta, pelo  que gritou, fora acometido cãibras e, como estávamos longe, nada havia que pudéssemos fazer nadando contra a correnteza. Poderíamos ter morrido os três… Seu corpo foi achado, dois dias depois, por mergulhadores da Usina da Light. Sua morte por afogamento assustou-nos muito. Sempre, depois do ocorrido, evitei nadar ou nadava com muito cuidado nas águas traiçoeiras dos rios.
A natação condicionou-me fisicamente para as viagens e provações que viria passar em tantas andanças com o objetivo único de adquirir conhecimento real – vivencial –  do Brasil. Nenhuma  universidade  me daria isso…. Meu grande sonho era adquirir substancial cultura sobre o Brasil, para tanto precisava viajar muito, ler muito, ler sempre, ler a vida inteira sem depender de curso, de faculdade. Assim, passei minha vida lendo, estudando sem a ambição de diplomas, de cargos, de posição e de status. Posso ter pago caro, mas tenho  a satisfação íntima de ter feito o que sempre desejei. Percorrer e estudar o Brasil:
Hoje, aos 66 anos, meio rengo, hipertenso, cardiopata e com problemas de labirintite aguda vejo-me impedido de ir a Free Sport, em Beltrão, onde nadei por mais de dez anos.  Tudo passa… 
Hoje, restam-me meus três heróicos leitores !

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