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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

Navegando com o vereador Mané Garrincha – Rio Camará – Ilha do Marajó

Mané Garrincha

Quando JK morreu, em 22 de agosto de 76, na Via Dutra, um dos três livros encontrados em seu carro era “As musas cantam”, de Joaquim Felismino de Almeida – da Vila de Camará, município de Cachoeira do Arari, na Ilha do Marajó, no Pará. A imprensa de Belém logo procurou saber quem era esse poeta. O título da matéria no jornal O Liberal era: “Joaquim Felismino, o Poeta de JK”. 
Aproveitando a reportagem, mandei uma carta ao poeta Felismino. Passados meses, chegou a resposta. Isso era 1977. Felismino – capitão reformado do Exército e radiotelegrafista aposentado da Fronape – oferecia-me apoio para passar uns dias em sua casa no Marajó, quando fosse ao Pará. Levei bem uns seis anos para realizar a viagem até o Camará. Felismino gozava de grande prestígio no Camará, a sudeste do farelhão marajoara, lugarejo a sete horas de barco de Belém. Ele acertara com o vereador Manoel dos Santos, o Mané Garrincha, dono do barco a vela “Aparecida do Camará”, para que me desse carona até a vila e assim foi feito.
Quando cheguei a Belém, tratei de ir às docas do Ver-o-peso, ao lado do mercado do peixe, para acertar minha ida com Mané Garrincha, cujo barco fazia linha regular entre a Vila de Camará e Belém. A saída era por volta das 22 horas, para pegar a Baía de Guajará com o vento mais calmo e a barra do Camará tranquila. Éramos umas trinta pessoas no barco. Imaginem a gritaria quando dava um pé de vento e a vela adernava bastante. No Camará fiquei na casa do Capitão Felismino, grande admirador de JK, tanto que lhe ergueu um medalhão, da mesma forma que construiu 19 casas para moradores da Vila. Tratava-se de um marajoara de bom coração, que passara a juventude no Piauí, depois viveu muitos anos no Rio de Janeiro e com mais de 45 anos ingressou na Fronape. Aposentado, voltou ao Marajó, sua terra natal. Felismino fundou uma biblioteca no Camará com três mil volumes. Creio que ainda exista. 
No barco de Mané Garrincha fui Camará acima, buscar açaí que é comercializado em Belém (hoje, o Pará manda mais de 50 mil litros/dia de açaí para os marombeiros de São Paulo). Dizem os entendidos que o açaí do Marajó é o melhor do Pará. Gosto muito de tomar açaí com farinha de tapioca e uma colher de açúcar (agora não posso mais porque a glicemia vai para 400-500…). Do Camará fomos de bicicleta andar por algumas fazendas. A ilha do Marajó é uma planície, o que facilita muito o passeio de magrela. Pelo caminho comíamos bacuri e pupunha cozida.
Felismino faleceu há anos. Mané Garrincha, imagino, deve beirar os 80 anos. Espero que o prefeito de Cachoeira do Arari faça chegar ao velho vereador Mané Garrincha este artigo. Naquela época, havia uma corrida de cavalo entre Cachoeira do Arari e Soure – durava dois dias – com descanso para os animais. Meu amigo Iranda Vasconcelos, capataz da Fazenda da Tapera durante 30 anos, ganhou a primeira delas. O prêmio era uma casa de madeira em Soure. Voltei ao Marajó duas outras vezes, hóspede de minha saudosa amiga Dita Acatauaçu, que faleceu com 98 anos. Cheguei a indicá-la para o Jô, que a convidou. Até os 92, ela comandava a fazenda da Tapera, uma propriedade de mais de 10 mil hectares. Em meu livro “Os Dez Brasis”, dedico artigos a Felismino de Almeida e a dona Dita, todos ricamente ilustrados. Na última vez que fui ao Marajó, rodei uma semana pela ilha no barco “Lorena”, comandado por Paulo Acatauaçu. Saíamos cedo e voltávamos ao entardecer. Paulo era exímio piloto, como testemunhei nos rios e igarapés marajoaras. Inúmeras vezes tivemos que tirar água-pés, canaranas e pedaços de matupás enroscados na hélice do motor da voadeira. 
Ampliei meu saber sobre o Marajó com os livros de  Dalcídio Jurandir, Nunes Pereira, Raymundo Morais, Padre Gallo, Vicente  Chermont de Miranda e do belo e evocativo livro de dona Dita: “Marajó, minha vida”. 

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