Geral
Foto de arquivo pessoal |
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Vista do Bar do Arante e da Praia de Pântano do Sul, no extremo sul da ilha de Santa Catarina. (setembro de 2011) |
De cinco anos para cá, com certa regularidade vou a Florianópolis por razões familiares e aproveito para estudar a Ilha, conhecer seu povo e sua tradição de origem açoriana. Já andei por toda a Ilha ao longo destes anos. Tenho lido muito sobre a antiga Desterro e a velha Ilha dos Patos, o nome mais antigo da Ilha de Santa Catarina.
Procurei nesse tempo conhecer alguns de seus filhos ilustres, assim como modestos pescadores e estudiosos da vida manezinha como o veterano jornalista Fernando Alexandre Guimarães da Silva, 61 anos, alagoano de Maceió, que vive no Sul da Ilha (Pântano do Sul) desde 1988. Fernando é doutor em Pântano do Sul e exerce sua “cátedra” no Bar do Arante, onde toma sua cachacinha de graça, como todo mundo, bebe suas cervejas (nunca menos de cinco) e revisa seus dicionários: “Dicionário da Ilha – Falar e Falares da Ilha de Santa Catarina” – já na 30ª edição – e “Dicionário do Surf – A Língua das Ondas”, ilustrado por sua mulher Andréa Ramos, talentosa artista plástica.
Tenciono voltar ao Bar do Arante, em 2012, com meu amigo, o notável escritor catarinense Enéas Athanázio, autor de vasta obra. Quem sabe o Salim Miguel, tido como a maior expressão literária de Santa Catarina dos últimos 60 anos, não iria com a gente comer uma porção de camarão e um pirão, pratos que adora!?
Dediquei minha mais recente visita a Floripa a Pântano do Sul e, de modo especial, ao “Bar e Restaurante do Arante”, que há 50 anos leva o nome da Ilha ao mundo. Numa conversa de mais de quatro horas, no Bar do Arante, regada a cerveja, Fernando Alexandre contou-me estórias de Pântano do Sul e do Bar do Arante, um símbolo da Ilha, onde se come o melhor peixe do mundo, segundo tantos depoimentos.
Não posso deixar de render minhas homenagens ao Bar do Arante. Sugiro ao sudoestino em visita a Floripa que vá comer um peixe à moda da casa no bar do Arante.
Quem prova uma porção de camarão à Dona Osmarina (camarão ao forno, molho de tomate, queijo, cogumelos, arroz, salada e fritas) apaixona-se pelo Bar do Arante e volta no outro dia. E o que falar da moqueca de garoupa? Dizem que é à moda catarinense, mas leva azeite de dendê ou de oliva (custa 92 reais para duas pessoas!). E quem quiser gastar mais (R$ 120 para duas pessoas) pode pedir uma sequência de frutos do mar (camarão à milanesa, camarão frito, ostras gratinadas, iscas de peixe, casquinhas de siri, pirão, filé de peixe, fritas e salada). Quem quiser gastar menos, entre 35 e 55 reais (duas pessoas), pode pedir um almoço completo (arroz, salada, pirão, seis postas ou seis filés), um peixe frito com pirão (quatro postas, mais pirão) ou uma estopa de arraia ou cação (pirão dágua ou feijão, arroz, salada de tomate e cebola).
História do bar
Arante e Osmarina contam a história do Bar do Arante: “Tudo começou em 1958 quando eu, Arante Monteiro e minha esposa Osmarina Maria Monteiro, abrimos uma pequena venda para os pescadores. Vendíamos verduras, frutas, ovos, peixes, bebidas, bolachas, fumo de corda e pratos de comida. Agora os netos também ajudam. Era conhecido como a “Bodega do Arante” e se localizava na então “Rua de Cima”. Na década de 60, o Bar do Arante transferiu-se para a beira da praia, onde hoje se encontra, com o nome de “Pesqueiro Velho”. Nessa época, muitas pessoas da cidade já andavam por aqui. Eram pescadores ou aventureiros que aqui aportavam e precisavam de comida. Minha mulher, Osmarina, então, preparava o peixinho frito com pirão. Quando não queriam voltar para a cidade, ou o tempo piorava, muitos dormiam por aqui mesmo. A partir da década de 70, estudantes vindos principalmente de São Paulo e Rio Grande do Sul, passaram a frequentar a praia do Pântano do Sul, para seus acampamentos durante o verão. Afim de avisar os amigos que ainda estivessem por chegar, os estudantes deixavam no bar bilhetes dizendo qual era sua localização. Bebendo a cachacinha (que sempre foi de graça) observando o vai e vem dos barcos, as gaivotas, as ilhas e ouvindo o barulho das ondas, não há quem não vire poeta. Foi aí que nasceu a mais famosa mania do Bar do Arante, os bilhetes colados nas paredes. Até hoje é assim, depois da primeira cachacinha, todos viram poetas. Já foram contados mais de 70 mil e um livro foi feito sobre o assunto: “Os bilhetes do mundo nas paredes do Arante”, de Paulo Alves. Hoje, graças a boa imagem que o Bar conquistou ao longo dos anos, ele é referência nacional e internacional da culinária da ilha e do litoral de Santa Catarina, onde houve a colonização açoriana. Temos muito orgulho de fazer parte da história do nosso lugar e de nossa cidade. Você é bem vindo, portanto, divirta-se, tome uma cachacinha, coma bem, e principalmente, sinta-se em casa”.