Geral
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O então Capitão Vernon Walters, oficial de ligação do U.S. Army com a FEB, conversando com o General Mascarenhas de Morais, na Itália, em l944. |
Poucos norte-americanos da alta roda política e militar vivenciaram tantos e momentos históricos com o Brasil quanto o general Vernon Walters, que começou em 1943 a ligar-se ao Brasil. Aprendeu o português, quando já sabia italiano e espanhol, guiando um grupo de oficiais portugueses em visita aos Estados Unidos. Depois andou pelos Açores e aqui veio com a esposa de Franklin D. Roosevelt em visita a Bases Americanas em Belém e em Natal .
Em l944-45 atuou como oficial de ligação,na condição de intérprete do Exército Americano junto à Força Expedicionária Brasileira. Incontáveis vezes serviu de intérprete entre o General Mark Clark e a FEB.
Quando o General Mark Clark lançou seu livro “Calculated Risk”, em l950,Vernon Walters ainda não gozava da amizade dos presidentes norte-amaricanos, a que serviria de intérprete,daí a ausência,por certo,de seu nome nesse livro de memórias de Mark Clark,que leio em inglês com atraso de sessenta anos. Clark cita o General Mascarenhas de Morais, Zenóbio da Costa , a FEB e … ‘’ a dozen other nationalities who fought their way into the not-so-soft underbelly of the Axis’’ e exalta sua participação na Segunda Guerra .
Vernon Walters veio viver no Brasil como adido militar entre l945-48,depois entre l962-67. Chegou a falar português com sotaque de Copacabana.Gostava de falar a nossa língua, como me contou meu saudoso amigo e mecenas embaixador Sérgio Correa da Costa, que esteve na ONU durante sete anos. Ganhei de Correa da Costa, ao longo dos anos, uns mil livros, como já citei em artigo específico aqui neste jornal, em que minha coluna completa 1O anos. Sua viúva (Michelle) segue me enviando livros usados. Talentoso poliglota, Vernon Walters falava com fluência alemão, português, espanhol, francês, inglês, italiano e russo. Foi intérprete e conselheiro de seis presidentes norte-americanos: Truman,Eisenhower, Kennedy, Johnson, Ford e Reagan. Seu último posto foi de embaixador dos EEUU na ONU.
Durante a 2a.Guerra fez-se amigo do então Major Castello Branco,de quem foi colega de quarto num hotelzinho em Porretta Terme,na região da Emiglia Romana, província de Bologna, nas semanas que antecederam a tomada de Monte Castelo. Amigo e conhecido da oficialidade brasileira que serviu na Feb, aqui foi recebido por 13 generais, quando chegou como adido militar ,em l962,como leio em “Services Discrets”, a versão francesa de suas memórias. Nega que haja se intrometido nos assuntos internos do Brasil, quando da Revolução de 1964 e exalta o patriotismo do general Castelo Branco, seu amigo, que jamais deixaria um estrangeiro meter-se na política do Brasil. Jura, pois, de mãos juntas, que nada teve a ver com a Revolução de 64. Custa-me acreditar, mas para que estaria mentindo, no final de longa vida, em seu livro de memórias?
Roberto Campos, em seu livro de memórias “Lanterna na Popa’’, (que ganhei do amigo Aristóteles Drummond, grande jornalista, amicíssimo de Campos e que aparece no citado livro em foto ao lado de Mikail Gorbachov e de Roberto Campos na casa de Campos, no Rio ), conta que o presidente João Goulart o consultou, em 63, sobre a possibilidade de expulsar Vernon Walters por intromissão nos assuntos de estado do Brasil, no que foi contestado por Campos que lhe disse que Vernon era muito arguto, sabia fazer ilações das meias palavras que ouvia nos círculos militares, em que tinha muitos amigos. Tinha vastíssima experiência internacional Os telegramas que mandou para o Departamento de Estado pouco antes do Golpe de 64 no-lo demonstram cabalmente o que disse Campos.
O Embaixador Lincoln Gordon, em seu livro “Brazils Second Chance –En route toward the First World”, também nega que tenha trabalhado internamente durante os movimentos que antecedem a Revolução de 64 ,salvo no informar os EEUU quanto à revolução em curso, seu dever como embaixador . A Operação Brother Sam era preventiva,de observação pacífica, ao largo, bem longe, da costa brasileira…
Vernon Walters soube da morte de Castelo Branco, quando estava no Vietnã. Mandou celebrar uma missa por sua alma. Conta Walters que o fato de haver jantado com o general Castello Branco, sozinho, pouco antes de 31 de março de 1964 teria dado margem a uma mitologia: “ ma participattion dans la Revolution brésilienne. Les militaires brésilients n’avaient absolument pas besoin d’un étranger pour leur donner des conseills dans un operation militaire où les militaires américains n’ont aucune experience.”
Faço imenso esforço para acreditar no que diz em seu livro, o hoje saudoso amigo do Brasil… General Vernon Walters, falecido aos 85 anos, que adorava o nosso país.