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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

O morubixaba da Viação Cometa

Geral

O famoso GMC PD 4104 da Cometa chegando, em 1954, ao Porto de Santos.

Já perdi a conta das vezes que viajei pela Viação Cometa. Fiz várias viagens Rio-São Paulo, Rio-Belo Horizonte, Curitiba-São Paulo.

 A impressão mais forte data de fevereiro de 1959, na estação rodoviária, digamos assim, da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Antes, na minha primeira infância, em Belém, o ônibus “Zepellin” me causava alegria… Já lhe dediquei artigo especial. O ônibus da Cometa era outra sensação. Depois soube que era o GMC PD 4104, que a Viação Cometa importara junto com 30 outros, em 1954, dos Estados Unidos para a linha Rio-São Paulo e, logo depois, Rio-Belo Horizonte.

Voltava de Belém, no navio “Almirante Alexandrino”, um barco de passageiros e cargas (já contei essa viagem aqui em Navios da Minha Infância). Depois de 22 dias, parando em cada porto, verdadeira navegação de cabotagem, chegamos ao Rio de Janeiro. Do porto fomos direto para a precária estação da Praça Mauá, de que não me lembro bem. A Rodoviária Novo Rio só seria instalada em 65 ou 66.

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Todo em alumínio, vidros rayban, linhas modernas, que diferiam dos ônibus horrendos de Belém, feitos lá mesmo, um pau-de-arara melhorado, o ônibus da Cometa impressionava. Tinha poltronas estofadas (reclináveis) e banheiro. Viajar pela Cometa era chic, como o era viajar pela Panair do Brasil.

Trinta anos depois dessa viagem de 1959, interessei-me em saber sobre a história da Cometa. Achei registros fotográficos dos GMC PD 4104  Morubixaba chegando ao porto de Santos, além de dados técnicos. Não foram muitas as viagens na Cometa, entre 1959-1962. Talvez oito, mas ajudaram a forjar minha inteligência emocional. Creio que haja satisfeito meu sonho automotivo. Nunca me interessei por ter um carro. Hoje, quando se troca uma caixa de cerveja por um carro usado, nenhum desejo abrigo nesse sentido. Viajo para curtir a paisagem, prestar atenção no que vejo, não para dirigir. Adulto também fiz outras viagens pela Cometa.

Quando, em 1964, em outra viagem de volta de Belém, essa no navio “Princesa Isabel”, não viajei do Rio a São Paulo pela Cometa, sim no Sinca Chambord, do tio Januca. Depois, creio que em maio, fui a Itu, via Campinas, com o clérigo Geraldo de Almeida Sampaio,  que visitava a mãe muito enferma. Sampaio vive hoje em Torre di Sabina, nos arredores de Roma. Devo-lhe muitos livros. Na época de São Paulo, fiz várias vezes pela Cometa o trajeto  São Paulo-Rio-São Paulo. Tio Januca comprara uma fazendola em Roseira, próximo ao restaurante Roseira, ponto de parada da Cometa. Descia ali.

Nos anos 80, já no Paraná, o modelo Morubixaba cedeu lugar ao Flexa Azul, desenvolvido no Brasil, motor Scania. Era mais bonito do que o modelo norte-americano.

Devia este artigo à Cometa, que tanta euforia, vibração e adrenalina me propiciara naquelas andanças de criança e, depois, de adulto. A viagem em si, independente de algum episódio fantástico, bastava como aventura, como fruição da vida. O andar da carruagem bastava, as paradas, as refeições, o ambiente.

Andei, também no Expresso Brasileiro, no “Diplomata”, modelo rival do Morubixaba da Cometa. Nossa amiga Mariquita Unzer de Mello vinha do Rio de Diplomata apenas para receber o pagamento. Tio Januca, secretário estadual de Educação, arranjara-lhe um emprego como “funcionária fantasma”. O que só entendi muitos anos depois. Mas isso é outra estória…

Tenho nos meus guardados, entre tantas, velhas passagens da Cometa, da Única, da Itapemirim, da Reunidas, da Princesa dos Campos. Vejo, casualmente, uma passagem Beltrão-São Paulo, do dia 6 de abril de 1977 — 152 cruzeiros e 60 centavos. Noutro dia, embarquei na Itapemirim (São Paulo-Teresina), preço da passagem 504 cruzeiros e 75 centavos… 54 horas de viagem. Como é bom ter arquivo. Escrevo e provo o que escrevo. Salve a Cometa.

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