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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

Permanências e partida

partida

 

“A mesa posta”

 

“Consoada 

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Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar”. (Manuel Bandeira)

Se foi Deus, Fado, Fortuna, Destino ou as Parcas jogando no tabuleiro e escolhendo a esmo uma peça para derrubá-la ao som de gargalhadas, felizes pelo poder de  ceifar, a seu bel prazer, mais uma vida humana, ou o curso normal da existência, o que sabemos com certeza é que Jorge Baleeiro viaja agora rumo a Alfa, a estrela mais brilhante da constelação de Centauro.
“Vou ler”, foi sua frase derradeira. E envolvido pela leitura, cochilou, quiçá dormiu e, percebendo seu abandono nos aconchegantes braços de Morfeu, a Indesejada das gentes veio sorrateiramente e, colhendo-o, partiram.
Como no poema de Bandeira, Jorge Baleeiro de Lacerda, sempre previdente, deixou escritos vários artigos; os desejos foram declarados ao longo dos anos; para conselhos, alertas, previsões, usou o correr dos dias, deixou “cada coisa em seu lugar”. O campo arado são os exemplos de amor ao Brasil, à leitura, à cultura, o incentivo ao estudo espalhados por onde passou, pelas muitas escolas visitadas, pelos livros e revistas doados ou encaminhados às bibliotecas escolares, ações estas de que muitos são testemunhas. 
Há mais de 20 anos, repetia, quase diuturnamente,  em família ou para os amigos, que, quando chegasse a sua Hora Derradeira, desejava quedar-se para sempre em Passo Fundo, junto a meu pai. Um dia antes de sua partida disse que queria ser doador de órgãos. Só pôde doar as córneas e, assim, alguém certamente está lendo com seus olhos. 
Tudo foi realizado exatamente como desejou, incluindo a simplicidade e o tempo para a família. 
Seus dias foram bons. Na noite anterior à visita da Iniludível, ele me disse: “Dormir segurando a tua mão é a suprema felicidade. O que mais posso querer?” Então, quando a Noite – com seus sortilégios – desceu, creio  que estivesse feliz… realizou seu projeto de conhecer o Brasil profundo, teve amigos, leitores, mecenas, amou sua família e por ela foi amado… 
E a mesa posta – para celebrar o encontro com os muitos amigos que antes dele fizeram a Grande Viagem – já estava à sua espera na constelação de Centauro, em Alfa, Beta ou Gama, quiçá em Proxima Centauri. Estará ele desfrutando do ágape com os amigos ou, quem sabe, gravitando – dada a curiosidade que lhe era peculiar – por todas elas!? 
Certo mesmo é que a velha máquina de escrever silenciou para sempre. E se, por ventura, esse silêncio for rompido, será para ecoar uma palavra: saudade!

Sueli Bevilacqua Baleeiro de Lacerda
Obs.: Não posso deixar de registrar meus agradecimentos a  todos os leitores e aos amigos que o encorajaram, ou ajudaram em suas pesquisas, seja com informações, seja com caronas, enfim, todo tipo de apoio e a todos os que dele foram despedir-se bem como por suas palavras de conforto.

“Fim de jornada”

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